“Lua”, essa era a senha da propina destinada a Renan

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 24/10/2016 07h59
Brasília - O presidente do Senado, Renan Calheiros, durante o primeiro dia da sessão de julgamento do impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil) Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil Renan Calheiros durante sessão do impeachment no Senado - ABR

Quem sabe ler entendeu a natureza da crítica que fiz à operação no Senado; quem não sabe sairá falando cretinismos por aí, fazer o quê? Era possível investigar respeitando a lei. Preferiram não respeitar. Então critico. Ah, será que, com isso, estou aqui a dizer que lá está uma Casa santa, presidida por um ser impoluto? Santo Deus! Há quanto tempo pergunto aqui por que Rodrigo Janot ainda não ofereceu denúncia contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)? Este começou a ser investigado pela Lava Jato antes de Eduardo Cunha. Esse já está preso. Reportagem da VEJA que acaba de chegar às bancas torna a situação de Renan ainda pior.

A revista teve acesso ao depoimento sigiloso do empresário e advogado Felipe Rocha Parente, prestado à Procuradoria-Geral da República. Ele se apresentou como o entregador de propinas oriundas da Transpetro a peemedebistas. E se comprometeu a dar a sua lista de clientes. Segundo a sua confissão, o mais graúdo era mesmo Renan. A subsidiária da Petrobras era presidida por Sérgio Machado, que já fez sua delação. Segundo a apuração do Ministério Público, em dez anos, saíram de lá mais de R$ 100 milhões em propinas — o atual presidente do Senado teria ficado com R$ 32 milhões.

Parente diz que começou a sua vida de entregador de roubalheira em 2004, a convite de Machado. A sua primeira operação foi com a construtora Queiroz Galvão. Ele se encontrou com o dono da empresa, Ildefonso Colares, e disse a senha: “Lua”. Eis que se materializaram à sua frente R$ 250 mil. E assim se deu ao longo dos anos.

Segundo Parente, quando ele entregava propina destinada a Renan, quem aparecia para receber era Iara Jonas, antiga funcionária do Senado, que também fazia tal serviço para outro senador, Jáder Barbalho (PMDB-PA), em cujo gabinete estava lotada. Parente diz também ter-se reunido com Ricardo Pessoa, da UTC, com quem acertou pagamento de R$ 1 milhão em quatro parcelas. Sim, Renan e Jáder teriam ficado com parte dessa grana. Os senadores negam tudo.

Voltemos ao ponto

Se o que vai acima for verdade, eis um caso de banditismo. Que se apure, que se julgue e que se puna. Renan ou qualquer outro. Ainda que seja tudo verdade e ainda que ele tivesse amealhado dez vezes mais dinheiro do que se investiga, eu censuraria o espetáculo de truculência a que se assistiu no Senado.

Que se condenem os culpados. E que se preservem as instituições.

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