Marina Silva declara apoio a Aécio Neves

  • Por Jovem Pan
  • 13/10/2014 10h44

Reinaldo, Marina fez o discurso de apoio à candidatura de Aécio. O que você achou?

Marina Silva fez um discurso de adesão a Aécio Neves mais forte e inequívoco do que alguns poderiam apostar. Segundo o Ibope e o Datafolha, o candidato do PSDB teria hoje 51% dos votos válidos, contra 49% de Dilma Rousseff. A estarem certos esses números, comparando-os com o resultado das urnas, o peessedebista ganhou impressionantes 17,45 pontos, e a petista, apenas 7,41. Isso é uma indicação de que a maioria do eleitorado de Marina migrou para o tucano primeiro, e ela, só depois, mas o gesto tem um simbolismo importante, embora nem tudo em sua fala esteja correto, como deixarei claro. Tudo o mais constante e, reitero, desde que esses números façam sentido, a eventual vitória de Aécio não terá dependido da adesão pessoal de Marina. Mas é importante que ela tenha ocorrido. Por quê?

Porque a campanha do PT, até agora, não encontrou uma alternativa que não seja dividir o país e investir, pela sétima vez consecutiva, no confronto e na luta de brasileiros contra brasileiros. Deu errado três vezes (1989, 1994 e 1998) e certo outras três (2002, 2006 e 2010). O apoio de Marina a Aécio reforça a imagem, e o fato, de um candidato que fala em união, não em separação.

Em seu discurso, Marina deixa claro que a carta pública de Aécio, em que se compromete com alguns temas, serviu para definir seu apoio. Marina destacou alguns itens: ampliação da participação popular; fim da reeleição e reforma política; desmatamento zero; metas socioambientais e economia de baixo carbono; manutenção das atuais regras para demarcação de terras indígenas etc. Algumas dessas questões dependem da vontade do Congresso.

Marina se refere claramente à forma como o PT a tratou na disputa eleitoral. Afirmou: “Não podemos mais continuar apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas pelas disputas de poder que dividem o Brasil”.

Embora tenha aderido à candidatura de Aécio, Marina não abandonou o discurso da terceira via, da nova política, do fim da polarização PSDB-PT. Em seu pronunciamento, submete o raciocínio a um triplo salto carpado e transforma o Aécio Neves de 2014 no Lula de 2002, e faz do texto-compromisso do tucano a “Carta ao Povo Brasileiro do PSDB”. A síntese de sua leitura é esta: a vitória do PT em 2002 representou a alternância no poder e o acréscimo do viés social à técnica, representada pelos tucanos. Quando os petistas fizeram a sua “Carta ao Povo Brasileiro”, aderiram à racionalidade econômica, mas sem abandonar seu viés social.

Agora, a alternância é Aécio, e sua carta-compromisso significaria a adesão dos tucanos ao viés social, mas sem abandonar a racionalidade econômica: um movimento espelhado.

Assim seria se assim fosse, mas não é. O PT só teve de fazer a sua “carta” em 2002 porque o partido passou mais de 20 anos pregando o calote das dívidas interna e externa e hostilizando o livre mercado. Os agentes econômicos achavam que se tratava de gente equivocada, mas séria dentro do seu erro. E foi necessário que o petismo comprovasse que a segunda parte, ao menos, não era verdadeira. O PSDB nunca foi um partido hostil à agenda social, e, portanto, não precisou nem precisa fazer carta nenhuma. O Bolsa Família é herança do governo FHC. A política de valorização real do salário mínimo teve início no governo tucano. O Plano Real significou a mais forte ferramenta, consistente, duradoura e sustentável, de inclusão dos pobres na economia.

Faço esses reparos não para diminuir ou tisnar a adesão de Marina, mas para colocá-la nos seus justos termos. Quem inventou um PSDB hostil ao povo foi Lula, foi o PT. Era só conversa para vencer a eleição. Enquanto os que tiraram o país da bancarrota eram tratados aos pontapés, os supostos salvadores da pátria estavam perpetrando aquelas sujeiras na Petrobras.

Marina fez o que seu eleitorado já havia feito. Isso não diminui o peso da sua escolha. Mas é importante contar a história direito.

 

 

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