Moraes e os viciosos no altar da virtude. Vale dizer: A hora dos hipócritas!

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 28/09/2016 06h27
Brasília - O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, visita o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck para realização de vistoria nas dependências e apresentar o reforço de segurança (Wilson Dias/Agência Brasil) Wilson Dias/Agência Brasil Alexandre de Moraes

“A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”, escreveu La Rochefoucauld no século 17. A frase, frequentemente atribuída a Oscar Wilde, é uma dessas sínteses atemporais. É o que me ocorre quando vejo setores da imprensa avançando como aves de rapina no ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Por quê? Ora, ele teria “vazado” uma operação da Lava-Jato numa conversa com militantes políticos em Ribeirão Preto. Indagado se o governo tinha interesse em brecar a operação, disse que não e afirmou que na semana seguinte haveria uma nova operação. Na segunda, a 35ª fase, que prendeu Antonio Palocci, estava na rua. Aí o mundo veio abaixo.

Moraes vai ter de dar explicações à Comissão de Ética da Presidência da República, que não tem poder para punir ninguém. Pode ir do arquivamento à sugestão para que o presidente da República demita o ministro, passando por uma censura pública. Ele tem dez dias para se explicar. Leio até que o ministro pode ser acusado de crime por ter supostamente vazado informações sigilosas.

Ai, ai…

Vamos ver. Será que o ministro precisa ter controle prévio das ações da PF — e, por que não?, até das decisões de Sérgio Moro — para “adivinhar” que haverá novas fases da Operação Lava-Jato? Há quanto tempo ironizo aqui esse “fasismo” da força-tarefa? Será mesmo que é preciso recorrer, a cada semana, a algum nome de apelo literário para dar conta da importância e da grandeza da coisa? Tendo a achar que não. Em pouco mais de dois anos, se houvesse, sei lá,  cinco fases, já estaria de bom tamanho. Mas já são 35. E outras haverá.

Ninguém “vaza” uma operação sigilosa daquele jeito, em público, a um grupo, à luz do dia, diante de jornalistas, para que todos ouçam. E agora, então, vamos a La Rochefoucauld. Jornalistas pedindo a cabeça de Moraes por causa de vazamentos? Ora, não me digam, meus queridos hipócritas!

Por que, então, vocês não entregam todas as suas fontes no Ministério Público e na Polícia Federal? Digam-me cá: noventa por cento, para chutar baixo, das reportagens produzidas sobre a Lava-Jato tiveram ou não tiveram como origem vazamentos ilegais de procuradores e policias?

É claro que minha pergunta é apenas retórica. Não cobro que jornalistas vazem coisa nenhuma! O sigilo da fonte é uma garantia constitucional. Apesar do comportamento deletério de alguns jornalistas e vazadores, ainda assim, acho que a garantia do sigilo é um mecanismo a mais que a sociedade tem para se proteger. O que é uma vergonha, aí sim, é que os entes públicos não investiguem o que, do seu ponto de vista, é uma ilegalidade. E, vamos ser claros, ninguém investiga coisa nenhuma.

Onde está a hipocrisia? Ora, um grupo que faz de vazamentos à socapa o seu ganha-pão não pode avançar com essa fúria contra uma autoridade acusada de… vazamento, com a diferença de que o fez à luz do dia, sem esconder nada de ninguém. Qual é a tese, coleguinhas? Defenderemos apenas os vazamentos dos quais somos nós os beneficiários — ao menos no terreno profissional?

Ora, ora, a depender de quem assina determinadas reportagens, quem é do ramo já sabe qual foi a boca secreta que vazou a informação. E agora fica todo mundo posando de moralista em festim? Vamos devagar aí. Não! Eu não acho que o ministro fez bem em falar o que falou. As consequências, aliás, provam que não! Mas não me venham agora repórteres falar sobre a imoralidade de vazamentos — até porque, no caso, nem está caracterizado.

Questão ética

Há questões éticas as mais diversas aí. Venham cá: seria ou não do interesse do público saber que o procurador A ou o policial B não cumprem seu dever funcional e saem por aí passando adiante informações que deveriam manter em sigilo? Ao se denunciar esses esquemas, estar-se-ia ou não atendendo ao interesse público, uma vez que se trata de uma falta funcional de um servidor? A pergunta é meramente retórica. Todo mundo sabe a resposta. E, no entanto, isso não vai acontecer porque se considera que a boa relação com essas franjas de ilegalidade são úteis à apuração da verdade e à transparência. É claro que a moralidade desse procedimento é manca. Mas com ela convive a nossa profissão.

Ninguém precisa aplaudir Moraes pela fala daquele dia. Mas daí a sugerir que tenha de ser processado ou demitido porque “vazou” algo sigiloso, o que nem está evidenciado, o que se tem apenas é um monte de viciosos se ajoelhando no altar da virtude. O nome disso? Hipocrisia!

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