Nada muda na estratégia da candidata Dilma Rousseff

  • Por Jovem Pan
  • 28/08/2014 12h29

Reinaldo, então nada muda na estratégia da candidata Dilma Rousseff em face da nova realidade das pesquisas?

Pois é, é difícil acreditar que assim seja, mas isso é o que ao menos diz Rui Falcão, presidente do PT. Na noite desta quarta-feira, Dilma Rousseff reuniu no Palácio da Alvorada o comando político de sua campanha e os respectivos presidentes das nove legendas que a apoiam. Falcão falou com a imprensa ao termino do encontro, que durou uma hora e meia, e afirmou que tudo ficará como está.

Segundo disse, o grupo avaliou que Dilma foi a que teve o melhor desempenho no debate da Band. Não ficou claro se Falcão tentava enganar os jornalistas, enganar a si mesmo ou enganar os seus pares.

Escreveu o poeta latino Catulo, numa de suas infindáveis crises amorosas com a sua Clódia, que vivia a lhe pôr chifres: “Difficile est longum subito deponere amorem”. É difícil renunciar subitamente a um grande amor. E mais difícil ainda é renunciar a um grande ódio ― mesmo que seja um ódio sem sentido, que serve apenas ao propósito político. Clódia e Catulo se amavam, mas ela, possivelmente, o traía. Quem odeia não sabe trair: jamais abandona o objeto de seu culto às avessas.

Por que digo isso? O PT combate o PSDB desde 1988, quando este partido foi criado. De maneira sistemática, metódica, incansável, obsessiva, desde 1995, quando FHC chegou à Presidência da República. Fez-lhe oposição ferrenha durante oito anos e depois passou outros 12, no poder, a demonizá-lo. O partido não tem repertório para enfrentar um adversário como Marina. Não que ela represente algo de novo. Essa é um das tolices mais influentes que andam por ai. Em certa medida, nada representa mais a velha política do que Marina Silva, aquela que pretende falar acima e além dos partidos. Ocorre que, reitero, o PT não se preparou para isso. E, vejam vocês, segundo as pesquisas, quem hoje vence Dilma no segundo turno, e com folga, é Marina.

O ódio que o PT sempre devotou a seu adversário preferencial, o PSDB, em certa medida, se voltou contra o próprio partido. Os petistas passaram a ser tucano-dependentes. Não têm outro repertório que não a tal luta do “nós contra eles”, do “povo contra as elites”… Vem Marina e os carimba a todos como políticos tradicionais.

Depois de 12 anos de poder, o partido de Lula viu-se tentando a aderir à estética obreirista, do “construí e aconteci”, que só tem passado, não futuro, da qual Marina passou a fazer pouco caso, com sucesso até agora. Disse Rui Falcão, no entanto: “Nós vamos continuar mostrando o que fizemos e apontando as propostas de continuidade das mudanças. Toda vez que houver oportunidade de expor tudo o que nós fizemos e tudo o que vamos fazer, isso é favorável para nós”.

Então tá. Destaco que essa política e essa estética são desdobramentos daquela velha demonização do seu adversário preferencial: afinal, “nós fizemos mais do que eles”. Marina chega e diz: “Isso tudo é propaganda; não é o país de verdade”. E os petistas, até agora, estão sem resposta.

Por quê? Porque é difícil renunciar subitamente a um grande ódio. Se o que Falcão disse a jornalistas reproduzir a qualidade daquela hora e meia de debate, Dilma pode começar a fazer as malas para mudar de endereço.

 

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