Pingo Final: O alerta da OMS. Ou: No coração do povo — onde, segundo o PT, “Lula mora” — circula o vírus Zika

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 02/02/2016 08h29
EFE/Jeffrey Arguedas mosquito da dengue

É claro que a decisão da Organização Mundial da Saúde de declarar “emergência internacional em saúde pública”, disparando um alerta global contra o vírus Zika, cobre o país de vergonha. De fato, nós, os cidadãos comuns, não somos os culpados. Mas, nas democracias, o povo é responsável pelo governo de turno. Ao longo de 12 anos, os eleitores de Banânia viram a dengue varrer o país em várias de suas modalidades; depois chegou a febre chikungunya e, ainda assim, insistiu-se em dar aos companheiros mais quatro anos. Então é assim? O Zika resolveu dar as caras. E este, sim, é capaz de coisas terríveis.

A doença, em si, se não acomete uma grávida, não é das mais agressivas. Mas sua ligação com casos de microcefalia é muito provável, e foi isso que levou a OMS a disparar o alerta. Se alguém quer uma fala para revelar o estado das artes em nosso país, fique com a de Jaques Wagner, hoje considerado o principal articulador político do Planalto. Segundo ele, tanto a sociedade brasileira como o governo recebem a decisão da OMS com “absoluta perplexidade”.

Eis aí: temos um governo que também se dá o direito de ficar perplexo por uma realidade que não é obra inesperada da natureza. Nenhum vulcão adormecido há cinco séculos resolveu expelir lava. Não! O país foi se tornando um criadouro de Aedes aegypti dia após dia, de forma determinada, no ritmo da incompetência do governo federal para tomar as devidas providências.

Ano após ano, o brasileiro era convidado a não deixar água parada aqui e ali, a não espalhar pneu velho, a tomar cuidado com as bromélias… O governo federal deixou o combate ao mosquito sob a responsabilidade dos cidadãos e dos municípios, não atentando para a sua gravidade.

A dengue não parecia coisa séria o bastante para mobilizar os senhores presidente da República. A chikungunya também não. Foi preciso que o Zika viesse, com todas as suas prováveis consequências para os bebês, para que, então, o governo federal se mobilizasse. Ou por outra: só o sofrimento da população com a doença não bastava. Foi preciso o terror para que essa gente se tocasse.

E como se percebe, a preocupação maior parece estar mesmo direcionada para a Olimpíada. Não que o governo não deva se ocupar disso, uma vez que assumiu a responsabilidade de abrigar o evento. Apenas me parece que a população, mesmo sem esse grande acontecimento, já se fazia merecedora de alguma atenção.

Num dos filmetes do PT que começam a ir ao ar nesta terça, Rui Falcão, presidente do partido, acusa uma grande conspiração contra Lula e diz que ele mora no coração dos humildes. Sem dúvida. E o sangue que passa por esse coração, em estimados 1,5 milhão de casos, carrega o vírus Zika. Não por acaso, o governo decidiu ilustrar a sua página oficial com mosquitos Aedes aegypti, que voam simpaticamente daqui pra lá, de lá pra cá.

Parece-me um bom retrato da herança desses valentes.

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