PT deve tomar cuidado com André Vargas

  • Por Jovem Pan
  • 24/04/2014 11h44

Reinaldo, por que você diz que se fosse o PT tomaria cuidado com o deputado André Vargas e, se fosse André Vargas, tomaria cuidado com o PT?

Vou explicar. Ao falar com jornalistas na tarde desta quarta-feira, Rui Falcão, presidente do PT, disse o seguinte: “Sou persistente e vou continuar insistindo para ver se convenço André Vargas a renunciar. O principal argumento é a preservação do partido e da vida do André, para ele ter melhores condições de defesa para ele mesmo. O André, em benefício dele e do PT, deveria renunciar, mas é uma decisão personalíssima, e o partido, ou a bancada, não pode impor a renúncia. É um pedido que temos feito a ele e reiterado”.

Eu hein, se estivesse no lugar de Vargas e Falcão dissesse uma coisa dessas eu renunciaria correndo e ainda iria me benzer. Talvez colocasse até um raminho de arruda atrás da orelha. Imaginem se da minha renúncia dependesse, como afirmou Falcão, “a preservação do partido e da vida”.

Sim, claro, entendo que esse “a vida” não é exatamente no sentido, digamos, biológico, aquela que Celso Daniel, por exemplo, perdeu. Mas de sentido existencial. Mesmo assim, eu daria no pé. André Vargas está que é pura indignação, sabe na ponta da língua os serviços que já prestou ao partido, e ninguém da cúpula aparece para defendê-lo.

Vejam que curioso. Cassado ele será, isso é certo, e estará inelegível por oito anos a partir de 2015. Se renuncia, também estará inelegível pelos mesmos oito anos, mas o desgaste é menor, ainda que o processo no Conselho de Ética continue. Então porque a resistência?

Virou uma disputa da, digamos, famiglia, ele já tinha dito que não aceitava ser enxotado. A interlocutores tem sugerido que o ministro Paulo Bernar e a senadora Gleise Hoffman, ambos do Paraná, como ele, seriam beneficiários de um esquema ilegal de distribuição de recursos na Petrobras, que envolveria o grupo Xaim.

Quem deve estar contente com o atual estágio do noticiário, dado o potencial de estrago, é Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao Governo de São Paulo. Afinal de contas, não foi só o avião fretado por Yousseff que fez Vargas cair em desgraça, mas também o loby que ele fez no Ministério da Saúde em favor do laboratório fachada Labogen, uma estrovenga que segundo a Polícia Federal servia para lavagem de dinheiro.

O ministro da Saúde, quando celebrou o contrato, antes era Padilha. O caso curiosamente sumiu do noticiário. Essa história, mais do que qualquer outra, evidencia tantas relações de Vargas com Yousseff como o uso da máquina federal em benefício de um grupo criminoso. E isso se deu debaixo do guarda-chuva de Padilha, que também é alvo das mágoas de Vargas.

Nas ostes petistas, o ainda deputado é considerado um homem bomba, um, como disse Chico Buarque, “pote até aqui de mágoa”, por isso é tratado com todo o cuidado. Sabem como é, para ficar na música, “qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d´água”.

Eu, se fosse o PT, tomaria cuidado com Vargas. Eu, se fosse Vargas, tomaria cuidado com o PT.

 

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