Eco: o silêncio está prestes a se tornar um bem caríssimo

  • Por Jovem Pan
  • 02/06/2017 10h58
Cheryl Empey FREEIMAGES - Silêncio

Hoje, sexta-feira, é dia de leitura. Vamos de Umberto Eco:

O silêncio está prestes a se tornar um bem caríssimo e, de fato, só está à disposição de pessoas abastadas que podem pagar mansões em meio ao verde, ou de místicos da montanha com mochilas nas costas, que ficam tão inebriados pelos silêncios incontamináveis das alturas, que perdem a cabeça e acabam caindo em alguma fenda, de modo que não demora para que todas as áreas sejam poluídas pelo ronco dos helicópteros dos socorristas.

Ainda vamos chegar ao momento em que aqueles que não aguentam mais o barulho poderão comprar pacotes de silêncio: uma hora num quarto forrado como o de Proust ao preço de uma poltrona no Scala de Milão.

Como réstia de esperança, pois infinitas são as astúcias da razão, observo que, à exceção dos que usam o computador para baixar suas músicas barulhentíssimas, todos os outros poderão encontrar o silêncio justamente diante da tela luminosa, de dia e de noite. Basta usar o controle e desligar o áudio.

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