Filme fajuto na Suécia inspira Trump a citar crise imaginária

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 14/03/2017 08h48
MR30 WASHINGTON (ESTADOS UNIDOS) 13/03/2017.- El presidente estadounidense, Donald Trump durante una reunión del gobierno en la Casa Blanca, en Washington, Estados Unidos, hoy, 13 de marzo de 2017. EFE/Michael Reynolds EFE/Michael Reynolds Donald Trump

Ok, vamos admitir que sempre foi exagero tratar a Suécia como o paraíso, mas o modelo sueco de bem-estar e harmonia social sempre causou inveja. Pior é tratar a sociedade mais próxima de um paraíso como se fosse o inferno, como se a Suécia fosse a Somália.

Esta realidade alternativa (mais uma) foi forjada no mês passado por Donald Trump, quando num comício pós-eleitoral e pré-eleitoral (de olho em 2020) na Flórida, o presidente americano alertou de forma desconexa sobre o perigo do terror islâmico na Suécia. Os suecos ficaram mais assustados com Trump do que com os terroristas.

A fonte das informações de Trump, conforme já estamos cansados de saber, não foi a inteligência americana, mas a televisão. Ele assistira na Fox News a uma entrevista de um diretor de documentário chamado Ami Horowitz. Com típicas técnicas de manipulação emocional, mostra uma pessoa de pele mais escura batendo num policial e a imagem alternava com uma de um carro incendiado. Suécia, terra em transe!!!

Outras cenas do filme de Horowitz mostravam o que pareciam ser policiais confirmando uma maciça alta do crime na Suécia gerada pela onda de imigração. Trump colheu estes dados e ficou furioso. A história da Fox News mais uma vez confirmava que ele estava certo sobre a necessidade de fechar as fronteiras, de banir imigrantes.

No dia seguinte, os policiais suecos protestaram e disseram que o cineasta Horowitz nunca perguntara sobre imigração e que a edição do filme era enganosa. Sem dúvida, acolher 160 mil imigrantes em um ano (2015) na pequena Suécia gera problemas, mas Estocolmo não está em chamas.

Mas, a Fox News insistiu. E dias mais tarde, o programa de Bill O’Reilly, garoto-propaganda de Trump, entrevistou um suposto assessor de segurança nacional da Suécia, um tal de Nils Bildt, que novamente alertou que o país estava sendo assolado pelo crime dos estrangeiros. Mas, aí se revelou que o criminoso era o entrevistado. Seu nome verdadeiro é Nils Tolling e ele era um estrangeiro que cometera crime nos EUA.

Na expressão lapidar da jornalista Anne Applebaum, um filme fajuto inspirou um presidente a citar uma crise imaginária, cuja existência foi confirmada por um especialista fajuto.

No entanto, a farsa não termina aí. Dias mais tarde, uma equipe da TV dinamarquesa apareceu na vizinhança de imigrantes onde tudo estava em chamas. Um grupo de jovens disse que acabara de receber uma proposta de uma equipe da TV russa para encenar uma baderna em troca de dinheiro.

São situações que se ajustam à definição de reality-show. O drama é que um dia poderá ter lugar um ato de violência em resposta a uma crise imaginária descrita em um discurso ou um mero tuíte de um demagogo.

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