Governo baixa ordem de silêncio sobre a prisão de Eduardo Cunha

  • Por Jovem Pan
  • 20/10/2016 09h28

Eduardo Cunha Antonio Cruz/ABr Eduardo Cunha

Só se fala sobre Eduardo Cunha no governo federal em off bem assegurado. Há uma orientação para que integrantes do governo não saiam falando demais, informa a colunista Jovem Pan Vera Magalhães. A ordem é nem demonstrar preocupação nem desdenhar de eventual delação de Cunha.

Isso porque o governo quer liquidar rapidamente a votação da PEC do teto dos gastos, aprovada em primeiro turno na Câmara. Esta é considerada a prioridade máxima, única e absoluta. Governistas temem que o burburinho de uma eventual delação de Cunha atrapalhe os planos tanto no Congresso quanto no Planalto.

Se negociar a delação com a força-tarefa da Lava Jato, Cunha poderia atingir dois grandes alvos do Executivo e do Legislativo: Rodrigo Maia (DEM), atual presidente da Câmara, e Moreira Franco, secretário-executivo do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), importante cargo do governo Temer.

Os dois são do Rio de Janeiro, mesmo estado de Cunha, e o ex-presidente da Câmara os conhece muito bem e teria muita “munição” contra eles, sobre financiamentos de campanhas próprias e de aliados.

A ordem do governo Temer é agir apenas nos bastidores para alguma contenção de danos do mal que Cunha pode causar se de fato partir para alguma delação.

Há interesse mútuo?

Todos no mundo político avaliam que Cunha tem, sim, interesse em partir para a delação. Ele é muito pragmático e calculista e não vê muitas saídas alternativas.

A dúvida é se a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba tem interesse nessa delação. Há contra o peemedebista uma enxurrada de provas. Para que livrar Cunha de muitos anos de cadeia se ele pode ter uma punição exemplar?

Além disso, Eduardo Cunha desafiou o Ministério Público por diversas vezes.

O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, embarca para Curitiba após ser preso pela Polícia Federal (Foto: Agência Brasil)

Muda esse cenário, no entanto, se ele tiver muita balha na agulha, contra ministros “para cima”.

Tem várias empresas que estavam nessa “carteira de clientes” de Cunha. O ex-presidente da Câmara cobrava em forma de doações para políticos aliados do Brasil inteiro.

Basta saber se Cunha está interessado em entregar tudo o que tem e se a força-tarefa está disposta a aceitar essa delação.

Igreja e livro

O esquema de Cunha com igrejas evangélicas pode abrir um novo flanco de investigações. Cunha era muito próximo de várias igrejas neopentecostais. Essas nunca foram relações apenas religiosas. Sempre teve um caráter mercantil.

Se Cunha não blefou e de fato estava escrevendo um anunciado livro sobre o processo de impeachment, e os rascunhos tiverem sido apreendidos em sua casa no Rio de Janeiro, ele entra no processo. Deste modo, Sergio Moro vai “publicar” o livro antes de qualquer editora.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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