Macron: franco favorito e, francamente, a única escolha

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 25/04/2017 09h01
YOAN VALAT/EFE Emmanuel Macron

Claro que existe muita coisa surpreendente nesta temporada eleitoral francesa e os franceses podem se orgulhar, num arroubo nostálgico, por estarem no centro das atenções globais. 

Existe algo revolucionário nesta eleição. Para o segundo turno em 7 de maio, não irão candidatos das duas correntes no poder desde o final da Segunda Guerra, o Partido Socialista e os Republicanos (herdeiros do gaullismo). 
Com o neófito centrista Emmanuel Macron na condição de franco (pardon pela trocadilho) favorito e com seu eclético programa eleitoral, não estão em marcha (pardon, outro trocadilho com o nome do partido de Macron) as tradicionais divisões entre esquerda e direita. 
Não desapareceram os debates entre velha gauche e velha droite, mas com a extremista de direita Marine Le Pen no centro da cena ao lado de Macron,  as dicotomias são diferentes, pois parte da plataforma de Le Pen tem o fedor da extrema esquerda. 
Não é à toa que ela está à cata dos eleitores de Jean Luc Mélenchon no segundo turno. Em comum, a arenga contra as elites, a aversão a instituições multilaterais, hostilidade à União Europeia e simpatia por Vladimir Putin.
Marine Le Pen gosta de lembrar que Macron foi banqueiro da casa Rothschild, mas não vamos esquecer que na condição de ministro da Fazenda do socialista François Hollande, Macron tentou empreender reformas, especialmente na rígida legislação de trabalho, repudiadas tanto por Le Pen, como por Mélenchon.
No entanto, o debate mais intenso neste ciclo eleitoral não é sobre o tamanho e o papel do estado (tão inchado na França), mas sobre a própria identidade francesa. Eu disse no começo que havia algo revolucionário nesta eleição. 
No entanto, Marine Le Pen se insere em uma tradição de provincianismo e de preconceitos. Ela faz o possível para “normalizar” seu movimento, mas  nela está literalmente o DNA (é filha de Jean-Marie Le Pen) de tantas fobias.
Marine Le Pen é a França isolacionista, enquanto Macron é o arauto da integração. Ela é a mensageira de um país fechado, pessimista e intolerante. Ele é o reverso. Associações com nazismo sempre devem ser evitadas, mas numa boa alfinetada, com seu exacerbado nacionalismo e visão estatizante, Marine Le Pen pode ser rotulada de nacional-socialista, enquanto Macron é o candidato da Europa e da globalização.
Macron não é apenas o franco favorito. Francamente, é a única escolha.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.