Maduro redobra gestos autoritários e joga venezuelanos na vala

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 09/03/2017 11h18
CAR03. CARACAS (VENEZUELA), 07/03/2017.- Fotografía cedida por el Palacio de Miraflores que muestra al presidente venezolano, Nicolás Maduro (i), mientras saluda al actor estadounidense, Danny Glover (d), durante un encuentro con la llamada "Red de Intelectuales" hoy, martes 7 de Marzo de 2017, en Caracas (Venezuela). El presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, dice que no va a soportar más "conspiraciones" ni "agresiones" por parte del secretario general de la Organización de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, y aseguró que dará una respuesta "contundente" a él y a "sus socios mafiosos". EFE/PALACIO DE MIRAFLORES/SOLO USO EDITORIAL/NO VENTAS EFE/PALACIO DE MIRAFLORES Presidente da Venezuela Nicolás Maduro

Sempre atento ao atroz cenário da Venezuela, o jornal espanhol El País estampou a seguinte manchete esta semana: O chavismo se entrincheira na Venezuela”. Faço um reparo: metáforas ao estilo “trincheiras” são equivocadas, pois podem dar uma conotação até de nobre resistência. Em se tratando de chavismo, metáforas mais apropriadas são cavar o buraco, o fosso, a vala.

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Não que o El País expresse qualquer solidariedade a algum tipo de nobre resistência chavista. Pelo contrário. O início do texto revela o tamanho do buraco, do fosso, da vala. Alerta que o presidente Nicolás Maduro “redobra os gestos autoritários, desde a repressão até a suspensão de eleições, como resposta à falta de produtos básicos e a uma inflação desenfreada”.

O regime sabe que 2017 será um ano ainda mais medonho para ele do que 2016 (para a população, nem se fala). A culpa pela derrocada obviamente é atribuída a uma guerra econômica empreendida pelo imperialismo ianque. Ate aí nada de novo. A novidade é que agora o regime começa a sentir intensamente a perda de dois pilares fundamentais do autodenominado bolivarianismo desde que conquistou o poder em 1998: a habilidade para ganhar eleições e um cenário internacional propício (preços do petróleo).

Com isso, o regime segue um roteiro familiar, reproduzindo velhos gestos do autoritarismo, como o aumento da repressão e a suspensão de eleições. Primeiro, foram as trapaças para impedir o referendo revogatório sobre Maduro e em seguida para a realização de eleições para prefeito e governador.

Para dar uma medida do cerco, no Carnaval a inteligência militar deteve o professor de Economia, Santiago Guevara, pela publicação de artigos na imprensa sobre cenários de transição política. Sob custódia de tribunal militar, ele está sendo acusado de traição à pátria. E estão sendo adotados novos mecanismos de controle social, convertendo os Comitês Locais de Abastecimento em células da tal revolução bolivariana. Tradução: quer comer? Seja um militante chavista.

E, finalmente, com tecnologia do aliado chinês, o regime implanta um sistema de controle digital, o “carnê da pátria”. Trata-se de um banco de dados que permitirá o cruzamento de todas as informações pessoais, bancárias e de inscrição nos programas sociais oficiais dos usuários.

Se somarmos a este aparato 1984, o aperfeiçoamento de um sistema de monitoramento eletrônico, também com know-how chinês, para supostamente combater o crime comum, podemos concluir que todos os venezuelanos estão na vala comum.

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