Palavras mais repetidas por Dilma foram “diálogo” e “humildade”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 17/03/2015 10h27
BRASÍLIA, DF, 16.03.2015: DILMA-DF - A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de sanção da lei do Novo Código de Processo Civil, no Palácio do Planalto em Brasília (DF), nesta segunda-feira (16). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) Pedro Ladeira/Folhapress Dilma Discursa após manifestações

Reinaldo, nesta segunda, Dilma concedeu uma entrevista. Que tal?

Vamos lá. Um bom governo acorda uma década antes. E, portanto, já estava claro às pessoas que lidam com critérios como qualidade, eficiência nos gastos e crescimento sustentável que o petismo não faria um… bom governo. Mas, caso se dê a esse governo um prazo de 48 horas, espera-se que acorde 24 horas antes, não 24 horas depois. Parece – mas nunca é bom apostar o mindinho – que, 24 horas depois da megamanifestação de domingo, a presidente Dilma Rousseff saiu de seu sono, despertando para o pesadelo em curso. Melhor isso do que a alienação.

Depois da desastrosa entrevista concedida por seus dois trapalhões no domingo – refiro-me a José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e a Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência -, Dilma decidiu fazer o que ela própria deveria ter feito já no fim daquela tarde: reconhecer o caráter pacífico dos protestos, seu teor democrático, prometendo pôr as coisas nos eixos. Tudo em, no máximo, dois minutos. Para que não houvesse tempo de escolher que panela amassar.

Foi o que ela procurou fazer com a sua entrevista/pronunciamento, concedida meio de surpresa nesta segunda. As palavras mais repetidas foram “diálogo” e “humildade”. Pesquisas encomendadas pelo Planalto apontam que a população considera o governo “arrogante”. Quando isso se mistura à incompetência, aos números ruins da economia – com consequência na vida das pessoas – e à percepção clara de que o país estava sob o ataque de uma quadrilha, o resultado são dois milhões de pessoas nas ruas gritando “Fora PT” e “Fora Dilma”.

É claro que governanta não é, assim, um Cícero da retórica. Ao juntar os dois vocábulos dessa nova postura numa quase unidade semântica, espressou assim o raciocínio, prestem atenção, ele é um pouco confuso:

“Atitude de humildade é que você só pode abrir diálogo com quem quer diálogo. Porque quem não quer abrir diálogo com você, você não tem como abrir diálogo. Eu procurarei ter diálogo seja com quem for, é uma atitude de abertura. Agora eu não tô aqui fazendo nenhuma confissão. Não tem nenhum confessionário. Se alguém achar que eu não fui humilde em algum diálogo, me diz qual, e aí eu tomo providência para mudar. Me diz onde, aí tudo bem. Quem sabe eu não fui mesmo. Me diz aonde, eu vou avaliar. Caso contrário, seria um absoluto fingimento da minha parte.”

Como se vê, a presidente mistura certa subjetividade fora de hora – “fingimento de minha parte” – com uma óbvia dificuldade de dizer o que quer. E de assumir também os erros. No máximo, ela admitiu que, no passado, o governo pode ter errado na dose nos estímulos artificiais e destrambelhados aplicados à economia, mas garantiu, e eis o desconsolo para quem aposta numa mudança de postura, que era para o bem do Brasil.

Se, no domingo, os dois trapalhões defenderam como resposta às ruas uma reforma política à qual o PMDB se opõe, nesta segunda, na presença do condestável José Sarney, acenou para o partido e disse que a reforma é necessária, sim, mas é obra do Congresso. Ora, não me diga! Se, no domingo, Rossetto deu mais ênfase ao “protesto a favor” organizado pelo PT no dia 13, nesta segunda, Dilma ao menos admitiu a legitimidade dos reclamos dos que protestaram contra.

A presidente disse ainda que a “corrupção é uma velha senhora no Brasil”, argumentando que não começou com a chegada do PT ao poder. É claro que não! Nunca li ou ouvi alguém sustentar esse ponto de vista. Mas ou se admite que só no petismo a corrupção se transformou num sistema, numa categoria política e numa categoria de pensamento, ou não se vai sair do lugar. Essa percepção chegou às ruas e é crescente.

E há, ainda, um nervo exposto que vai doer por muito tempo. E que só tende a piorar com a efetividade do ajuste fiscal: a Dilma que governa não é aquela que ganhou as eleições. Nesta segunda, ela disse que não estava num confessionário. Ninguém está interessado em suas dúvidas de consciência, matéria para confissões. Ela terá de fazer, sim, uma contrição política, pedir desculpas pelas promessas que não pode cumprir e apelar à tolerância da população. Se vai ou não obtê-la, aí não sei.

Ah sim, durante a apresentação de um compacto de sua entrevista ao Jornal Nacional, mais uma vez as panelas se fizeram ouvir Brasil afora acompanhadas de buzinaço. A situação é dura!

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.