A Rede, de Marina Silva, se revela, até a última hora, uma vistosa farsa; continua no “Fica Dilma!”

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 10/08/2016 11h16
Marcelo Camargo/Agência Brasil Randolfe Rodrigues

A Rede — ou o (partido) Rede — é uma das mais prestigiadas farsas da política brasileira. Com aquela sua conversa mole de que não quer um partido como os outros, Marina Silva foi abrigando gatos e sapatos, alhos e bugalhos, gregos e troianos, guelfos e gibelinos, maragatos e chimangos… O partido é uma salada russa. Só uma coisa é quase invariável: o voto contra os interesses do país.

Alguém duvida que a eventual volta de Dilma, por mais pedregoso que se anuncie o caminho para Michel Temer, jogaria o país no abismo?

Ah,  a/o Rede, na sua falsa ambiguidade, duvida. Se todos fizessem como o único senador de que dispõe o partido, Dilma voltaria. Esperem: se apenas 27 senadores se comportassem como Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a Afastada retornaria ao poder para nos mandar para o abismo.

É incrível a irresponsabilidade dessa gente. Ainda mais porque Marina Silva diz, ora vejam, ser favorável ao impeachment. Mas, no Senado, Randolfe luta para salvar a petista. Lá vai Marina, com um pé em cada barco, exercitando a sua impressionante capacidade de nada dizer, mas com aquela eloquência que Musil chamaria, na aparência ao menos, “magra e severa”.

Bem, vamos ser claros: severidade, de verdade, não há nenhuma. E magras são apenas as justificativas dadas por Marina e sua trupe de loquazes do nada.

Faz tempo
Faz tempo que a Rede está tentando salvar a pele de Dilma. Não custa lembrar que Marina se opôs, de forma escancarada, à denúncia oferecida contra a petista na Câmara. Julgou que não daria em nada; que era só coisa da “direita radicalizada”. Quebrou a cara! O impeachment emplacou, e ela ficou a ver o Curupira na floresta do desengano.  O partido chegou, como se diz, a “tirar uma posição” contra o impeachment. Depois a chefona da Rede veio se dizer favorável…

Na Comissão Especial do Impeachment na Câmara, o partido tinha um voto: o do deputado Aliel Machado (PR), um ex-PCdoB. E como é que ele se posicionou mesmo? Contra o impeachment. Logo, se a maioria tivesse feito como a Rede, na comissão, Dilma ainda seria a presidente.

Na votação em plenário da Câmara, com quatro votos, o partido se dividiu: Alessando Molon (RJ), ex-PT, e Aliel votaram contra; Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS), a favor. De novo, se todos fizessem como a/o Rede, Dilma continuaria na Presidência. Afinal, não bastava metade dos votos para o processo seguir para o Senado; eram necessários dois terços.

E, nesta quadra, de novo, eis Randolfe aliado a Lindbergh Farias (PT-RJ), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) para tentar impedir o processo de seguir adiante. Logo, se a/o Rede fosse um parâmetro, teríamos de seguir com Dilma até 2018.

O partido dá duas das mais hipócritas desculpas: a) trata-se de uma Rede, e os parlamentares têm autonomia; 2) a legenda defende novas eleições.

Então vamos ver. Por mais autônomo que seja um parlamentar, está lá representando a sigla. E, neste momento, ela diz: “Fica Dilma”. Marina e sua turma sabem que novas eleições são inviáveis, entre outros motivos, porque inconstitucionais. Só acontecerão, num prazo de 90 dias, se, depois do impeachment de Dilma, Temer também se inviabilizar até 31 de dezembro deste ano. Se acontecer a partir de 1º de janeiro do ano que vem, teremos eleições indiretas.

E por que o partido de Marina age assim? Darei dois motivos: a) a líder, de verdade, apostou desde o começo, que Dilma ficaria e que toda a herança da esquerda lhe cairia no colo em 2018, com os seus concorrentes liquidados; b) apesar do discurso afinadinho com o mercado em matéria de juros e Banco Central, a Rede é e será sempre um partido de esquerda.

Esquerda chique, de grife, mas esquerda ainda assim. E, portanto, por determinação da natureza das ideias, conivente com o crime.

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