Editorial – Sempre chega a hora de puxar a orelha do papa. E o que faço? Puxo

  • Por Reinaldo Azevedo/ Jovem Pan
  • 18/04/2017 13h49
Agência EFE Papa Francisco na Páscoa - EFE

Eis que o papa Francisco, aquele que já trocou beijinhos com a tiranete Cristina Kirchner, e que já recebeu das mãos do protoditador Evo Morales um verdadeiro símbolo do capeta, resolveu recusar, em carta endereçada ao presidente Michel Temer, o convite para visitar o Brasil. Atitude compatível com a de um sujeito que já foi militante peronista, não é? O jesuíta Jorge Bergoglio não é exatamente o mais ortodoxo daquela ordem cujo chefe máximo já foi chamado de “O Papa Negro”, numa alusão ao poder de que dispunha na Companhia de Jesus e à cor do hábito: preto.

O convite feito por Temer tem um data comemorativa para os católicos do Brasil: os 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida, que é, para fiéis dessa religião, a padroeira do país. A cidade de Aparecida, como se sabe, abriga um dos maiores santuários católicos do mundo.

Vamos aos números, como faço sempre. Afinal, este blog não se contenta com esguichos de pato que se fingem de textos analíticos, né?

Segundo o Anuário Pontifício 2017 e o Anuarium Statisticum Ecclesiae 2015, o Brasil segue sendo o maior país católico do mundo em número de fiéis: 172,2 milhões de batizados. Não quer dizer que todos vão à igreja ou que continuem católicos. Já chego lá. O país que vem em segundo lugar está muito atrás: o México conta com 110,9 milhões, seguido por Filipinas (83,6 milhões), Estados Unidos da América (72,3), Itália (58), França (48,3), Colômbia (45,3), Espanha (43,3), República Democrática do Congo (43,2) e Argentina (40,8).

Segundo esse critério, o do batismo, o número de católicos no mundo atinge 1.284.257.000 pessoas. Isso quer dizer que o Brasil representa 13,4% do total. Mas o papa argentino fez beicinho para o Brasil e resolveu não visitar o país.

Não parou por aí. Ousou ir muito além de suas sandálias de pescador em águas turvas e resolveu dar um conselho, com ar de admoestação, ao presidente Michel Temer:

“Sei bem que a crise que o país enfrenta não é de simples solução, uma vez que tem raízes sócio-político-econômicas, e não cabe à Igreja nem ao papa dar uma receita concreta para resolver algo tão complexo (…). Porém não posso deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais pobres, que, muitas vezes, se veem completamente abandonados e costumam ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas soluções fáceis e superficiais para crises que vão muito além da esfera meramente financeira”.

Começa bem aquele que admite que não cabe à Igreja dar receita concreta, mas acaba mal o que censura “algumas soluções fáceis e superficiais”. Eu ouviria com prazer as respostas complexas e profundas do Sumo Pontífice.

Demagogia
Com a devida vênia, trata-se de demagogia. Esses números do Anuário Pontifício de 2017, com dados de 2015, traz números que precisam ser vistos com cuidado. Fosse como vai ali, 86% dos brasileiros seriam católicos. Atenção! Eles podem ter sido batizados, o que é outra coisa. Segundo pesquisas Datafolha, em 2014, eram 60% os que se diziam católicos; em 2016, esse índice havia baixado para 50%. Entre outubro de 2014 e dezembro de 2016, 9% afirmam ter deixado a religião.

Mas o papa está preocupado em fazer frases de efeito e se recusa a visitar o Brasil.

Bem, pesquisem neste blog. Eu nunca fui um entusiasta de Francisco. Escrevi uma das minhas mais duras críticas a ele no dia 10 de julho de 2015. Observei, então, fazendo blague com uma expressão que a esquerda do miolo mole usava muito — “não me representa” —, que, embora fosse católico, o cardeal argentino não me representava.

E por que eu disse aquilo?
Eu poderia ter feito uma graça e dito que, existindo, como existe, um papa emérito, Bento XVI, tenho a chance de escolher. Mas, evidentemente, isso não contenta. O chefe da Igreja Católica, infelizmente, é o argentino Bergoglio.

Naquele ano, o papa visitou a Bolívia. Evo Morales, o protoditador do país, presenteou o sumo pontífice com uma monstruosidade herética: a foice e o martelo do comunismo, onde estava o Deus crucificado. Bergoglio fez um muxoxo protocolar, mas sujou as mãos no sangue de 150 milhões de pessoas. Ao fazê-lo, (re)encruou as chagas de Cristo e se alinhou, lamento ter de dizer isto, com aqueles que O crucificaram.

“Ah, o papa não tem nada com isso! Não tinha como saber o que faria aquele picareta!” Ah, não cola! A Igreja Católica de Roma está banida da China, por exemplo. Ficou na clandestinidade na União Soviética e nos países da Cortina de Ferro. Inexiste na Coreia do Norte e enfrenta sérias dificuldades em Cuba. Um delinquente político e intelectual como Morales não pode ofender moralmente mais de um bilhão de católicos com aquela expressão demoníaca. O papa que recusasse a oferta e a ofensa. Mas ele não recusou. E foi além.

Em Santa Cruz de la Sierra, Bergoglio fez um discurso que poderia rivalizar com o de Kim Jong-un, aquele gordinho tarado que tiraniza a Coreia do Norte. Atacou o capitalismo, um “sistema que impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão social ou na destruição da natureza”, segundo ele. E foi além: “Digamos sem medo: queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia são Francisco”.

É de embrulhar o estômago. Em primeiro lugar, esse papa, com formação teológica de cura de aldeia, não tem competência teórica e vivência prática para cuidar desse assunto. Em segundo lugar, os movimentos que hoje lutam pela preservação do planeta são exclusivos de regimes democráticos, onde vige o capitalismo. Ou este senhor poderia fazer essa pregação na China, por exemplo, onde o capitalismo de estado é gerido pelo Partido Comunista?

Pior: o papa estava numa jornada que incluía, além da Bolívia, o Equador, outro regime semiditatorial, que acaba de fraudar eleições. Ao lado da Venezuela, esses dois países instrumentalizam o discurso anticapitalista para dar força a milícias que violam direitos individuais e que não reconhecem a propriedade privada como motor do desenvolvimento.

Evocando um igualitarismo pedestre, disse Sua, não mais minha, Santidade: “A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano é dever moral. Para os cristãos, um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres o que lhes pertence”. A fala agride a lógica por princípio. Se o tal “que” pertencesse aos pobres, pobres não seriam. A fala repercute a noção essencialmente criminosa de que toda a propriedade é um roubo. Como esquecer que essa concepção de mundo de que fala o papa já governou quase a metade do mundo e produziu atraso, miséria e morte?

Eu já tinha tido, então, alguns engulhos quando o cardeal argentino resolveu se meter a falar sobre a preservação da natureza, com uma linguagem e uma abordagem que lembravam o movimento hippie da década de 60. Ele voltou ao ponto: “Não se pode permitir que certos interesses — globais, mas não universais — submetam Estados e organismos internacionais e continuem destruindo a Criação”.

Como? O homem destruindo a Criação? O catolicismo de Francisco, na hipótese benevolente, se esgota numa leitura pobre do Gênesis. Na não benevolente, é apenas uma expressão do trogloditismo de patetas terceiro-mundistas como Rafael Correa, Evo Morales, Nicolás Maduro e Cristina Kirchner, aquela que ele recebeu no Vaticano com abraços e beijinhos.

Ah, não custa lembrar: quando chegou a vez de o “direitista“ Mauricio Macri visitar o Vaticano, em fevereiro de 2016, o que se viu foi uma recepção fria, de meros 22 minutos. Com o líder religioso de cara fechada. Em outubro, o presidente voltou à sede da Igreja. A recepção foi melhorzinha. Mas, ora vejam, Francisco se negou a visitar, até agora, a Argentina de Macri.

Mas, ora, ora, visitou o Brasil de Dilma, a Bolívia de Evo, o Equador de Correa e a Cuba de Raúl Castro.

Isso explica muito coisa, é claro! Explica, inclusive, por que é tão grande a diferença entre os números oficiais da Igreja e os católicos que existem de verdade.

Lamentáveis a decisão e a carta do papa!

E, bem, sempre chega a hora em que é preciso puxar a orelha também do Sumo Pontífice. Afinal, Padre Vieira puxava até a de Deus. Aí dirá alguém: “Você não é Padre Vieira, é muito inferior!”. É verdade. E o cardeal argentino não é Deus, certo? Nem Bento 16.

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