Crise transforma o sonho de concluir um curso superior em pesadelo de dívidas

  • Por Jovem Pan
  • 03/03/2016 16h10
Cecília Bastos/Jornal da USP Educação

 A música “O pequeno burguês”, de Martinho da Vila, fala de um fato vivido por um amigo dele no Brasil dos anos 60, em que a faculdade era um privilégio de bem menos gente do que hoje. Só que depois de alguns anos vendo o crescimento do ensino superior, o Brasil pode estar vivenciando uma pontinha de déjà vu, um retorno a um tempo em que pagar faculdade era mesmo coisa para burguês.

No ano de 2015, um estudo do Serasa Experian apontou que a inadimplência dos alunos com instituições de nível superior foi 16,5% maior do que em 2014. Gente como o agora jornalista Mário Silva. Durante o percurso da graduação, ele teve que trancar a faculdade por falta de dinheiro. Hoje, já com o canudo na mão, ele enfrenta duas dívidas: “Não paguei seis meses, fiquei sem estudar, consegui voltar para a faculdade negociando, não consegui quitar o valor dessa negociação e, por conta disso, meu nome acabou ficando sujo e eu acabei recorrendo ao FIES. Tenho a dívida dos seis meses de faculdade e mais a do FIES daqui alguns meses”.

E o caso do Mário Silva não é exceção. A diretora do Serasa Consumidor, Fernanda Monnerat explica que inflação, juros altos e desemprego criaram um cenário sombrio. E que não promete ser muito mais animador em 2016: “A gente sabe que toda a questão da inflação ainda tem que ser superada. A inflação vem e corrói o dinheiro do trabalhador. Aquele dinheiro que antes você conseguia fazer x e y, agora você consegue só fazer x. Isso com certeza afeta muito a inadimplência. E não só a inflação como também o desemprego e a questão dos juros. Aquele trabalhador que já está atrasando uma dívida antiga ou que precisou fazer por qualquer motivo, como está com juros muito altos, quem não consegue pagar as dívidas em dia acaba entrando em uma famosa bola de neve”.

Mas a inadimplência no ensino superior é só mais um reflexo da economia com problemas. Fazendo um balanço de todas as dívidas dos brasileiros no ano passado, o Serasa Experian não registrou recordes negativos somente na educação. Ao todo, a entidade constatou que mais de 59 milhões de consumidores brasileiros terminaram 2015 no vermelho.

Reportagem: Helen Braun

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.