Cunha diz aceitar acareação com Júlio Camargo

  • Por Jovem Pan
  • 21/07/2015 11h08
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, anunciou rompimento com o governo, durante entrevista (Antonio Cruz/Agência Brasil) Luis Macedo/ Câmara dos Deputados/Fotos Públicas Eduardo Cunha- microfone jp 1

Reinaldo, como foi a segunda-feira de Eduardo Cunha depois do furacão quer o colheu no fim de semana?

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, afirmou nesta segunda que aceita, sim, fazer uma acareação com Jueio Camargo, delator da Lava Jato, que, em testemunho ao juiz Sergio Moro, no inquérito que investiga se houve corrupção no aluguel de navios-sonda, o acusou de ter recebido propina de US$ 5 milhões.

Nota: esse mesmo Camargo há havia negado quatro vezes ter feito tal pagamento. Segundo diz, tinha medo de Cunha. Por que o perdeu subitamente? Consta que os procuradores o ameaçaram com a perda de privilégios da delação premiada. Para um corruptor confesso, é mesmo um homem cheio de… medos.

O pedido de uma acareação foi apresentado à CPI da Petrobras pelo PPS. Cunha disse aceitar, mas indagou, com absoluta propriedade, por que os que o querem cara a cara com o seu acusador não fazem o mesmo com Dilma Rousseff, Edinho Silva e Aloizio Mercadante.

Recorramos às suas próprias palavras: “É oportunista de alguns querer falar de uma acareação comigo. Estou disposto a fazê-la a qualquer tempo. Agora também aproveitem e convoquem todos que estão em contradição. O ministro Mercadante e o ministro Edinho negam aquilo que foi colocado pelo Ricardo Pessoa. A própria presidente nega o que foi colocado pelo Youssef. Que se faça acareação de todos.”

Ora, leitor, você há de convir que ele tem razão, não é mesmo?, pouco importa o que você pense a respeito do deputado. Afinal, Alberto Youssef afirmou que Dilma sempre soube da corrupção na Petrobras. Pessoa, dono da UTC, afirmou ter dado R$ 500 mil em dinheiro vivo, por fora, para uma campanha eleitoral de Mercadante. E disse ainda que, pressionado por Edinho Silva, que lhe lembrou dos contratos que mantinha com a Petrobras, doou R$ 7,5 milhões para a campanha à reeleição de Dilma. Sobre esses dois ministros, diga-se, nem mesmo inquérito existe.

Se cabe fazer uma acareação entre Julio Camargo e Cunha, por que não, também, nesses outros casos?

Moro Agora vamos a Sergio Moro. A defesa do deputado Eduardo Cunha apresentou ao STF, nesta segunda, uma reclamação contra atos do juiz. De novo, você pode achar que um é um santo, e o outro, um pecador. Não é o que está em debate. Nas democracias, as leis existem e têm de ser cumpridas.

Se Cunha era a peça central da acusação que faria Julio Camargo no inquérito que apura corrupção no aluguel dos navios-sonda, então é evidente que tal peça deveria ter sido enviada ao Supremo, já que o presidente da Câmara detém foro especial por prerrogativa de função. É o que está na Constituição, que ninguém tem o direito de violar — nem Moro.

A defesa de Cunha pede ainda que o Supremo considere nulas eventuais provas produzidas, nesse inquérito, sob a condução de Moro, já que, é evidente, o juiz feriu a competência ao conduzir uma investigação que tinha como alvo o presidente da Câmara. É o que diz a ordem legal, que tem de ser respeitada.

Eu conto o que sei e vejo. Nas demais fases da operação Lava Jato, mais de uma vez, o juiz Sergio Moro interrompeu depoentes e testemunhas quando os nomes de políticos com foro especial iriam ser citados. Há vídeos na Internet a respeito. E o fez justamente para evitar que o processo migrasse para o Supremo, para que tudo continuasse sob o seu controle. E por que foi diferente desta vez? Não tenho resposta.

Como não tenho resposta para o fato de que, mesmo antes do depoimento, todos já sabiam que Camargo havia mudado a sua versão sobre Cunha. Eu não tenho, e ninguém tem.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.