Editorial: Na CPI, Paulo Roberto Costa defende a reforma política do PT

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 05/05/2015 19h06
Marcelo Camargo/Agência Brasil Paulo Roberto Costa

Paulo Roberto Costa depõe na CPI da Petrobras. Deveria estar com uma estrelinha do PT no peito. Por que digo isso? Vamos lá.

Há coisas e pessoas para as quais eu não tenho a menor paciência, digamos, moral e ética. Uma delas é Paulo Roberto, o corrupto confesso, com aquele seu ar de pai de família extremoso, que passeia no shopping com o netinho aos sábados, faz churrasco aos domingos e assalta os cofres públicos de segunda a sexta. Ok. É preciso, sim, prestar atenção a tudo o que ele diz. Afinal, é bandido confesso, que roubava para si e para outros bandidos. Mas daí a tê-lo como filósofo até da reforma política, ah, não! Aí vai uma grande diferença.

Daqui a pouco, Paulo Roberto, sozinho, vira o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, ainda que suas histórias sejam sempre cambiantes; ainda que ele possa dizer hoje que as empreiteiras embutiam o custo-corrupção como valor suplementar na obra e, amanhã, que elas tiravam a propina do próprio lucro. Entre uma coisa e outra, vai uma diferença abismal.

Curiosamente, a segunda versão, a mais recente, protege — e já tratei disto hoje — a Petrobras. Afinal, se as empreiteiras não embutiam no preço o dinheiro que pagavam ao próprio Paulo Roberto, ao PT, ao PP e ao PMDB, bem, então os cofres públicos não teriam sido prejudicados nesse particular, não é? Essa segunda versão, notem, reforça a ideia do cartel e livra a cara da estatal, como se a origem da roubalheira não estivesse no fato de que a empresa obedecia a uma condução política. Para quem não entendeu ainda: se as empreiteiras tiraram do seu lucro a propina, então se reforça a lógica de que elas, de fato, combinavam preço: com ou sem corrupção, ele seria o mesmo, já que se trataria de um cartel. É uma versão para imbecis. Com a devida vênia.

De resto, pergunta-se o óbvio: quem está em delação premada pode ir mudando, assim, a versão de acordo com a direção dos ventos, com o calor do noticiário, com a metafísica influente e ainda manter os benefícios? Faz sentido um delator ficar ajustando a narrativa também ao sabor do noticiário, composto de vazamentos? Isso está mais para esculhambação do que para investigação. Cresce o risco objetivo de que, na esfera política, o caso não dê em nada.

Estrelinha do PT

Mas vamos à questão que realmente deve provocar a irritação de qualquer pessoa com miolos. Em seu depoimento, Paulo Roberto Costa, o Schopenhauer da reforma política, disse o seguinte:
“Não existe almoço de graça. Por que uma empresa de capital privado ou com ações em Bolsa vai doar R$ 10 milhões, R$ 20 milhões para uma campanha eleitoral? Por quê? Qual o motivo? Que a população brasileira coloque isso com muita clareza na sua cabeça. Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões para uma campanha se ela não tiver algum motivo na frente para cobrar isso? Por quê? Isso precisa ser respondido. Repito e confirmo o que eu falei”.

Viram? Logo mais, à noite, o PT vai dizer a mesma coisa no seu horário político. Em todo o mundo democrático, empresas arcam direta ou indiretamente com o custo eleitoral. Entre outras razões, porque são entes de uma sociedade livre. Participar do custo eleitoral num regime de liberdades é até um dever. Nos EUA, empresas privadas não podem doar diretamente para partidos, mas doam para comitês, que apoiam partidos.

Aonde nos leva a lógica de Paulo Roberto? Ao financiamento público de campanha ou feito por indivíduos, com um teto, hipótese em que os pobres serão usados como laranjas para lavar o caixa dois. Mais: a doação de empresas já foi proibida no Brasil. Só passou a ser permitida quando se descobriu o óbvio: o dinheiro privado era doado por fora. O que ele está a nos dizer? No dia, então, em que essa modalidade for proibida, empresas privadas deixarão de trabalhar para a Petrobras? A estatal deixará de ter uma condução política? Sem a contribuição legal, ninguém será tentado a delinquir? A propósito: a roubalheira é motivada pela lei que existe ou se dá ao arrepio dela?

Este senhor está querendo culpar o sistema por seu mau-caratismo. Venham cá: se as doações de empresas privadas fossem proibidas, ele teria sido, à frente da Petrobras, um homem decente? Que eu saiba, ele não roubou porque a lei permitia; ele roubou desprezando a lei. Se ignorou a legislação que existe, por que obedeceria a uma outra?

Boa parte da imprensa cai nessa conversa absurda porque também contaminada ideologicamente pelo ódio à empresa privada, pelo rancor, pelo ressentimento, pela burrice, pela incapacidade de pensar logicamente, pela tara estatista, sei lá…

O depoimento de Paulo Roberto à CPÌ seria assinado por Rui Falcão e Lula, sem pestanejar. Às 20h30 de hoje, eles estarão dizendo a mesma coisa na TV. É asqueroso.

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