Editorial – Temer e o paradoxo da impopularidade: entre popular e necessário

  • Por Reinaldo Azevedo/ Jovem Pan
  • 22/12/2016 15h57
EFE Michel Temer EFE

O presidente Michel Temer tomou café da manhã com jornalistas. Desenvolveu um raciocínio que tem de ser lido por aquilo que é: fala de uma virtude. Mas certamente será submetido às mais variadas distorções pelas esquerdas e por especuladores disfarçados de jornalistas, que querem a queda do governo porque, assim, podem especular ainda mais… Vamos ver.

A Folha lhe atribui as seguintes falas: “Um governo com popularidade extraordinária não poderia tomar medidas impopulares (…) Estou aproveitando a suposta impopularidade para tomar medidas impopulares”. Creio que se refira a coisas como teto de gastos, reforma da previdência e, eventualmente, reforma trabalhista — sobre esta, ainda não se conhece o sentimento da população.

Vamos lá. A fala tem cheiro de transparência imprudente. Eu mesmo já disse aqui algumas dezenas de vezes que o governo Temer é o barco que Deus mandou pra gente conseguir fugir da enchente. Ou é ele ou é ele. Ou se fazem agora algumas reformas estruturais, ou não aparecerá tão cedo outra oportunidade. Não sem uma sacolejada ainda mais forte no processo político, de consequências imprevisíveis, mas nada boas.

Assim, deve-se entender o que diz o presidente quando afirma que “aproveita a impopularidade”. Ou por outra: não está em busca de aplausos. Ou não faria essas escolhas. Muito bem!

Mas os companheiros de esquerda certamente hão de concluir: “Claro! Fosse ele um presidente eleito diretamente, como titular da chapa, não estaria fazendo isso…” Não dá para escrever a história que não houve. Mas é possível retratar a que houve. Lula e mesmo Dilma contaram com popularidade formidável, não é mesmo? E, no entanto, estavam fazendo escolhas que levaram o país para o buraco e para a maior crise de sua história.

A “popularidade” foi um dos ingredientes do cozidão desastroso da ex-presidente, que levou a Petrobras à lona, certo? Com a política econômica já destrambelhada, usou o preço dos combustíveis para ajustar a inflação. Também foi o medo da impopularidade, com uma reeleição pela frente, que impediu a presidente impichada de impor a tempo reajustes na economia.

Na verdade, ela fez o contrário: aumentou o tamanho do buraco, como o enforcado que que cava um pequeno buraco aos pés para tentar se livrar da corda…

Assim, tem-se o paradoxo da popularidade. Um governante que contasse com maciço apoio popular, segundo a lógica convencional, teria mais condições de implementar medidas que não são exatamente do gosto da larga maioria. Tal proximidade com o povo lhe daria essa folga. Ocorre que esse apoio popular pode derivar justamente de ele não fazer o necessário — ou, o que é pior, de insistir no erro. Dilma sabe do que estou falando. E vocês também.

Assim, a depender do momento, a impopularidade pode até ser um ativo, a ser posto a serviço não do aplauso, mas do necessário. E é o que Temer está fazendo. Dentro do possível, já destaquei aqui, o governo avança. Dentro do possível, também já disse aqui, o Congresso tem aprovado as medidas certas.

Ao fim da conversa, Temer afirmou que a popularidade é, sim, importante, mas destacando que não tomava essa ou aquela medida, que não propunha isso ou aquilo, tendo a dita-cuja como referência.

Correndo o risco de ser vítima da leitura errada, Temer disse a coisa certa.

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