Editorial – Temer precisa descobrir quem são os sabotadores que já debatem sua candidatura à reeleição

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 01/08/2016 14h30
EFE Temer informou que não cogita disputar a reeleição em 2018 e só quer que o "Brasil retome a rota do crescimento"

O presidente Michel Temer precisa descobrir rapidamente os respectivos nomes dos sabotadores de seu governo que, em conversa com repórteres da Folha, trataram da possibilidade de ele se candidatar à reeleição em 2018.

Segundo a reportagem, o tema foi tratado por três ministros graúdos. Se graúdos, que passem, então, a ser miúdos, levando o bilhete azul. As minhas suspeitas recaem sobre dois perfis: ou isso é coisa de puxa-saco ou é coisa de pretendente à cadeira, já ocupado em aplicar uma espécie de vacina. Em qualquer dos dois casos, são pessoas que só colaboram com a causa do “inimigo”.

Que sentido faz debater esse assunto agora, faltando ainda um mês para o início do julgamento de Dilma Rousseff no Senado? Então a Afastada ainda nem é causa totalmente passada, e o presidente em exercício já estaria mexendo os pauzinhos para romper a palavra empenhada com alguns aliados? Não posso crer.

A reportagem da Folha traz, claro!, condicionantes. Há um monte de “ses” que teriam de ser cumpridos antes que tal possibilidade se anunciasse. Um deles: o governo teria de ser bem-sucedido. Pois é…

Dado o quadro atual, há chance de esse governo ser bem-sucedido nas urnas e bem-sucedido no terreno técnico? Um Temer que estivesse ocupado com a reeleição reuniria condições de fazer ao menos parte do que tem de ser feito?

Para ser claro, nem mesmo a chamada “possibilidade Henrique Meirelles” me agrada. Acho uma estupidez debater tal assunto. A razão? A óbvia! Ou bem o ministro da Fazenda trata de “jogar para a galera” e deixa de fazer o que tem de ser feito, ou bem executa o seu trabalho, o que pode torná-lo um candidato pouco palatável. Vamos ser claros? Até agora não se viu, por exemplo, o Meirelles Mão de Tesoura, certo? O que se tem de concreto é o alargamento do teto do déficit.

Outro que mandou muito mal nesse particular foi Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, ao afirmar em entrevista ao Estadão que “Temer será o candidato do nosso campo, quer queira, quer não”. A frase é infeliz na forma e no conteúdo. Ninguém é candidato ou presidente só porque quer. Ninguém é candidato ou presidente se não quiser.

Temer teve de soltar uma nota para tentar matar a conversa, mas é claro que a suspeita está lançada. Fico muito impressionado por uma razão em particular: não há um só efeito positivo dela derivado. Nada!!!

“Ah, Reinaldo, não seja ingênuo! Isso foi plantado pelo Palácio; o próprio Temer está por trás da operação; é para testar reações.” Tendo a pensar que não. Acho o presidente um pouco mais sofisticado do que isso. Liquidada a fatura do impeachment, vá lá que surgisse esse boato. Seria até natural. Que venha a público agora? Não! Reitero: ou é coisa de puxa-saco ou é conversa de quem antevê tal possibilidade como dado do jogo e já procura tomar uma medida preventiva. Parta de onde partir, uma coisa é certa: não ajuda o governo.

Reforma política
A melhor coisa que Temer pode fazer pelo Brasil na área política se divide, na verdade, em dois movimentos: 1) deixar claro, definitivamente, que candidato não será, desautorizando qualquer especulação em sentido contrário; 2) aproveitar a excepcional janela que se abre para encaminhar, com as bênçãos do governo e da maioria dos partidos da base aliada, a emenda parlamentarista.

Até nos Estados Unidos, único país verdadeiramente relevante a manter o presidencialismo, o sistema exibe evidentes sinais de esclerose — e olhem que a votação indireta ainda lhe confere certos laivos de parlamentarismo. Que grande partido, exceção feita ao decadente PT, iria se mobilizar contra a mudança. O PMDB não teria por que se opor.  O PSDB é o único partido brasileiro que se diz programaticamente parlamentarista. Esse sistema de governo está gravado em letra impressa no batismo da legenda.

“Ah, não há tempo para fazer isso já para 2018…” Discordo! Há tempo, sim. De toda sorte, o que interessa é lançar as bases dessa necessária mudança, ainda que fique para 2022. Se aprovada para agora, haveria ainda um efeito positivo colateral: desmancharia desde já a fila de presidenciáveis.

Temer tem a chance de entrar para a história como aquele que tirou o país da beira do abismo. Para tanto, não pode se deixar encantar por feitiçarias contraproducentes.

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