Ex-ministro critica recuos do governo e diz que sistema está “apodrecido”

  • Por Jovem Pan
  • 02/06/2016 08h59
Brasil, São Paulo, SP. 16/05/2013. O ex-ministro Rubens Ricupero participa de debate sobre o livro "A desgovernança mundial da sustentabilidade", de autoria do professor titular da USP José Eli da Veiga, na sala Crisantempo, em Pinheiros, na capital paulista. - Crédito:NILTON FUKUDA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Código imagem:154256 NILTON FUKUDA / ESTADÃO CONTEÚDO Rubens Ricupero

 O ministro da Fazenda que atuou durante a implementação do Real, Rubens Ricupero, falou à Jovem Pan sobre a atuação do governo interino e o anúncio do aumento de salário dos servidores públicos. Para o diplomata, há muitas semelhanças entre a gestão de Temer com a anterior: “O cenário continua basicamente o mesmo, não há muitas mudanças em relação ao passado. Embora a queda da economia não tenha sido tão grande como o previsto, os fatores fundamentais, produzidos pelo sistema político, não mudaram com o afastamento da presidente, tanto que vemos esse comportamento errático do Congresso”.

Ricupero aponta que existem dúvidas se Michel Temer terá força política para aprovar as medidas necessárias e que os recuos constantes não passam segurança: “São 20 e poucos dias muito escassos para fazer um julgamento ou ver resultado, embora haja sinais de que a economia aparenta estar parando de cair. Mas com essa mostra dos primeiros dias não dá para esperar muito. Esses recuos constantes, toda vez que há uma crítica da oposição o presidente imediatamente afirma que não vai fazer, não é de dar muita esperança”.

A crise econômica está intrinsecamente ligada à crise política, segundo Ricupero: “Existe uma crise maior que é a do sistema político, que está em colapso com o presidente da Câmara ameaçado de perder o mandato, o do Senado também pode ser denunciado, lideranças fragmentadas, nenhuma medida para uma solução de longo prazo dos problemas que tiveram, essa corrupção, a proliferação de partidos políticos, um processos eleitoral irracional que faz as eleições cada vez mais caras. (…) É difícil ser otimista ao olhar esse panorama”.

Sobre as falas da oposição de que o impeachment estaria vinculado a uma tentativa de interromper a Lava Jato, Ricupero afirma que membros do antigo governo não entenderam que podem ser afastados definitivamente: “Aquilo é bravata, eles não tem poder para parar a Lava Jato, mas o estado de espírito é que a ficha não caiu, que isso que está acontecendo é uma tempestade passageira em que eles tem que segurar o chapéu, mas não estão percebendo que estão ameaçados de perder a cabeça. O sistema está em colapso mas acham que vai passar em alguns meses e que tudo vai voltar a ser como era antes. O sistema está apodrecido, não foi só a Dilma. Ela governou mal e levou a extremos, mas os sinais vem de algum tempo”.

O ex-ministro, que morou por muitos anos fora do Brasil e atuou como embaixador nos Estados Unidos, afirma que notícias como as de queda de ministros, supostamente envolvidos com corrupção, abalam a imagem do País e do novo governo no exterior.

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