Governo nega, mas Temer está deixando a coordenação política

  • Por Jovem Pan
  • 24/08/2015 13h04
SÃO PAULO,SP,31.07.2015:PMDB-MULHER-AÇÃO - O Vice-Presidente da República Michel Temer durante lançamento do programa ?Mulher em Ação? do PMDB, no Hotel Meliá, em São Paulo (SP), nesta sexta-feira (31). (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress) Folhapress Michel Temer

Mas, afinal, Michel Temer, vice-presidente da República, está ou não está com um pé fora da coordenação política do governo? Embora o ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) tenha negado na sexta-feira, a resposta é esta: está, sim! A questão, agora, é só acertar a data de saída.

Como já afirmei aqui na sexta-feira, a solução é boa para o país. No caso do impeachment, hipótese que se adensa, é bem melhor que o vice esteja menos comprometido do que está hoje com o governo. É claro que isso tudo depende, também, do que virá da Lava-Jato. Até onde se sabe, e não há nem boato em sentido contrário, as acusações que atingem o PMDB não tocam em Temer.

O leitor tem todo o direito de perguntar: do ponto de vista do governo, que sentido faz a saída? A resposta seria “nenhum” se o poder se orientasse apenas por critérios racionais. Como não é o caso, então faz. Dilma precisou, sim, da articulação do seu vice para conseguir aprovar o pacote fiscal. Mas, depois, tudo foi apenas desarranjo. Uma função como essa exige uma autonomia que ela não costuma dar nem a aliados mais próximos.

O fato, meus caros, é que se faz tudo errado por lá, inclusive no terreno do mais cru pragmatismo. Quem detém o comando da política tem de estar imune a ódios e rancores. Não é sabidamente o caso da campanheirada.

Querem um exemplo? Vamos dar de barato que todas as acusações que pesam contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, sejam verdadeiras — não esquecendo de que será preciso apresentar provas; intuo que só a evidência de uma doação a uma igreja evangélica não será suficiente no STF. Mas vá lá: vamos considerar, para efeitos de raciocínio, que tudo seja verdade.

Nessa hipótese, dado o contexto, recomendaria o bom senso que o governo se mobilizasse para Cunha estar na lista final de denunciados. Em vez disso, fez esforços inequívocos e sabidos para que fosse o primeiro. Na sabedoria companheira, Cunha seria enfraquecido, e Dilma se fortaleceria. No mundo dos fatos, ele continuará com o poder que tem, salvo alguma nova e espetacular denúncia. Se a Procuradoria-Geral da República tivesse a certeza inequívoca de seus malfeitos, deveria ter entrado com uma ação cautelar para afastá-lo da Presidência da Câmara. Não o fez. Se o tivesse feito, o Supremo teria dito “não”. Seus pares, na Casa, não atenderão ao pleito das esquerdas, que o querem fora do comando.

Acreditem: nunca antes na história deste país tanta gente atrapalhada esteve no governo ao mesmo tempo. Parece haver uma ação deliberada, determinada, dedicada mesmo a errar, a fazer tolices, a atacar a própria cidadela. A burrice, nesses casos, é sempre o pior inimigo. Um sabotador inteligente até pode ser contido. O dito-cujo pode ser chamado no canto e ouvir: “Saquei a sua. Pode parar”. Se for esperto, para. Mas como é que se manda um burro deixar de ser burro?

Assim que Temer deixar a coordenação, acreditem, haverá petistas vibrando, já que o consideram um sapo de fora. E, no entanto, é evidente que o governo ficará ainda pior.

É claro que Temer sai da coordenação política para ser alternativa de poder, que é como o veem hoje amplos setores do país.

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