Tem que defender os critérios da lei, diz FHC sobre eleição sem Lula
Condenado em segunda instância no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o ex-presidente Lula vive agora momentos de espera quanto aos recursos a serem julgados e a um cumprimento da pena. Além disso, o petista cai na Lei da Ficha Limpa e, condenado, não poderá ser candidato na eleição deste ano.
Em entrevista exclusiva ao Jornal da Manhã, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou que a situação para o País é ruim e fica registrado na história que um ex-mandatário foi acusado. “Não é o primeiro que sofre algum processo, mas é sempre desagradável, porque fica registrado que um presidente da República, mesmo que absolvido, foi acusado de coisas que foram aceitas. Não é bom para o País, mas vai fazer o quê? A lei é a lei”, disse.
Ao ser questionado se Lula errou e cometeu os crimes apontados pelas investigações e pelas primeira e segunda instâncias, FHC disse haver elementos. “Pelo que ouvi dos desembargadores do TRF4, não li o processo, mas está lá. Tem bastante elementos. Isso é contra a lei. Nessa hora, não sou advogado, um juiz pode errar, mas não foi um, foi um mais três. Foram quatro juízes. Não há segmento da sociedade política brasileira que queira condenar. É rebelião de juízes? É pouco provável. Mas eu lamento, porque fica uma marca negativa na história. É ruim, tomara não tivesse sido, mas são tantas evidências. Vai fazer o quê? Tapar os olhos? Tapar sol com a peneira? A peneira está transparente. Foi só PT? Não! É preciso avançar”.
Fernando Henrique Cardoso disse, no entanto, não ser favorável ao que está ocorrendo no cenário político e denominou de processo de “enraivescimento”. “A democracia depende de ter certa aceitação do outro, mas se o outro fez crime não sou eu quem vai dizer, é a Justiça”.
Discurso de “eleição sem Lula é golpe”
Sobre a tese difundida por militantes petistas de que “eleição sem Lula é golpe”, FHC foi categórico: “se lembra quando houve impeachment [de Dilma Rousseff]? A tese difundida pelo PT era de que era golpe. É tão golpe o impeachment de Collor então”.
Para o tucano, a lei é clara e desqualificá-la não faz sentido. “Não houve golpe [no impeachment], vice assumiu e o tempo passou. Desde que se obedeça aos critérios da lei, tem que defender a lei. Tem lei que diz dentro das quais quem pode ou não se candidatar. A onda existe e o tempo passa. E as coisas, se bem-feitas, prevalecem”, explicou.
FHC destacou que o quadro atual é diferente da polarização PT x PSDB tido em 1994, à época de sua eleição. Ele afirmou ainda que é cedo para avaliar quais serão as consequências da condenação de seu sucessor e ainda da presença ou não do petista como candidato.
Derrotar Lula nas urnas x Lula preso
Assim como alguns nomes no meio político, FHC disse que seria melhor Lula concorrer, mas ponderou: “tem a lei”.
“Sendo candidato ou não teria sido melhor que pudesse concorrer, mas tem a lei. Ele foi condenado em segunda instância, pela lei da Ficha Limpa não pode. Ou você obedece a lei ou você quebra a Constituição. Idealmente é melhor que fosse candidato, perdesse, ganhasse, e não passasse pelo processo, mas passou. Aí tem que obedecer a lei, a Constituição”, explicou.
Entretanto, o ex-presidente pelo PSDB avaliou a situação em que o Supremo Tribunal Federal mude sua interpretação sobre cumprimento de pena após condenação em segunda instância: “não é bom estar mudando (sic), mas vamos supor. Ainda assim a lei da Ficha Limpa está aí. Ela diz que ele não tem condições de elegibilidade, a discussão era essa. Como nosso processo jurídico permite série de alterações era barrar aqueles que seriam candidatos. Razão era político moral, nada a ver com presunção de inocência. Neste momento não pode ser candidato”.
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