Há 40 anos, PUC-SP era invadida em consequência de sua luta contra a ditadura militar

  • Por Jovem Pan
  • 22/09/2017 07h17 - Atualizado em 22/09/2017 08h51
Reprodução/PUC-SP Um rastro de destruição ficou pelo prédio e mais de mil pessoas foram presas

Era uma quinta-feira à noite quando o espalhafatoso coronel Erasmo Dias, secretário da Segurança de São Paulo, ordenou a invasão à PUC, em Perdizes. “Ato público está proibido, não admitimos passeata e nem comício. Está todo mundo preso e vão ser enquadrados na lei de segurança nacional”, disse à época.

22 de setembro de 77 – 9 da noite: os alunos faziam um ato público na porta do TUCA, na rua Monte Alegre. Eles tentavam promover o terceiro Encontro Nacional de Estudantes, proibido pela ditadura, e comemoravam a reorganização da UNE.

O coronel Erasmo Dias colocou a tropa na rua: “por que em tendo sido, segundo eles, realizado o 3º encontro nacional, o local era a PUC, com a autoridade policial presente e com a autoridade policial presente e com a companhia do vice-reitor nos dirigimos à gráfica e apreendemos todo esse material”.

Reprodução/PUC-SP

Ao invadir o campus da PUC, a PM atirou bombas e usou cassetetes contra alunos, professores e funcionários.

Um rastro de destruição ficou pelo prédio e mais de mil pessoas foram presas.

O então governador do Estado, Paulo Egydio Martins, assumiu a responsabilidade: “eu não admito a figura da meia responsabilidade. A responsabilidade no Estado de SP é integral de uma pessoa, do governador de Estado, que sou eu. A ordem para agir contra a subversão na PUC é minha. Foi minha, é minha”.

Os policiais colocaram alunos em um estacionamento na esquina das ruas Monte Alegre e Bartira, em frente ao Tuca, e fizeram uma triagem.

Reprodução/PUC-SP

Os estudantes foram levados em ônibus da CMTC para o prédio do Batalhão Tobias de Aguiar na Avenida Tiradentes.

A invasão deixou 25 estudantes feridos, três com queimaduras.

A reitora da época, Nadir Kfouri, declarou que a PUC tinha sido ultrajada: “a Universidade foi ultrajada. Nossos alunos, nossos professores, nossos funcionários indignamente tratados e ressaltamos que ao nosso ver, em uma universidade, o que deve prevalecer é o aspecto educacional”.

A invasão de 22 de setembro de 1977 só reforçou a luta da universidade contra a ditadura.

A atual reitora, Maria Amália Andery, avalia que as posições da PUC em favor da abertura política incomodavam os militares: “eu acho que não. Acho que o que pesou como componente para invadir a PUC é que era uma universidade que vinha se comportando claramente a favor da redemocratização do País. A PUC aceitou professores caçados, recebia bem os movimentos que começavam a se reorganizar. Eram as posições políticas da universidade e como ela incentivava a reflexão, a crítica, que a tornaram um alvo privilegiado”.

A ação da PM causou revolta não só da comunidade acadêmica, mas da igreja católica ligada a PUC.

Na época, o cardeal arcebispo era Dom Paulo Evaristo Arns, que reagiu: “vim aqui verificar o que aconteceu. Sobrou essa juventude boa, animada, disposta a continuar. Mas é lamentável o que aconteceu, triste, bárbara”.

A noite de violência ficou na história: Dom Paulo Evaristo Arns lançou uma frase célebre sobre o episódio: “na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo só se entra prestando vestibular e para ajudar o povo, não para destruir as coisas”.

*Reportagem de Thiago Uberreich

**Imagens e reportagem em vídeo cedidos pela PUC-SP

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