Luto por vítimas de incêndio em Londres começa a dar lugar para a revolta

  • Por Ulisses Neto/Jovem Pan
  • 16/06/2017 09h49 - Atualizado em 29/06/2017 00h29
FA010 LONDRES (REINO UNIDO) 14/06/2017.- Una columna de humo cubre la Torre Grenfell en Lancaster West Estate en Londres (Reino Unido) hoy, 14 de junio de 2017, durante un incedio. Al menos 30 personas han resultado heridas en el incendio de una torre residencial de 27 plantas, en el centro-oeste de Londres, que han sido trasladadas a cinco hospitales de la capital británica, informó hoy el servicio de ambulancias. EFE/Andy Rain ANDY RAIN/EFE Incêndio de grandes proporções atingiu prédio residencial na capital britânica

Aqui em Londres o luto e a consternação causados pelo incêndio de quarta-feira começaram a dar lugar para a revolta e o questionamento dos moradores sobre as condições de moradia oferecidas para os mais pobres no país.

Antes de mais nada é preciso colocar a situação em contexto. Se a gente for comparar o que o governo daqui oferece como moradia social ao que estamos acostumados no Brasil, a discussão parece até sem cabimento.

Mas o fato é que o Reino Unido é um país desenvolvido e eles não se comparam a países em desenvolvimento. E é preciso considerar que a Grenfell Tower, no oeste da cidade, fica em uma das áreas mais ricas da Grã Bretanha.

Então o que os sobreviventes da tragédia de quarta-feira estão revoltados e questionam agora é o tratamento que a prefeitura regional deles dispende para áreas vizinhas que são separadas apenas por um imenso penhasco de desigualdade social.

Ainda é muito cedo pra concluir o que levou a essa tragédia, mas os relatos de que o governo local encomendou um revestimento mais barato, preenchido por plástico, no prédio, o que teria ajudado o fogo a se alastrar é um dos principais pontos de questionamento.

O fato de sprinklers, aquelas tubulações anti-incêndio que descarregam água em caso de fogo, não terem sido instaladas também tem sido uma controvérsia grande. Principalmente porque as torres de luxo por aqui, as construções sofisticadas contam com esse sistema.

E tudo ganha um contorno ainda mais dramático com os relatos que vão sendo apresentados pelas vítimas da Grenfell Tower.

A polícia já confirmou as mortes de 17 pessoas, mas apenas seis corpos puderam ser resgatados até o momento. A torre ainda não têm condições de segurança para os bombeiros trabalharem.

Cerca de 60 pessoas ainda permanecem desaparecidas, então é provável que o número de vítimas chegue perto de 100 pessoas. O mais assustador dessa história é que diversos moradores do prédio que são considerados desaparecidos pelas autoridades passaram horas no telefone com seus parentes.

Os relatos se multiplicam de vítimas que ligaram para amigos e familiares contando que estavam em seus apartamentos aguardando resgate e ao que tudo indica morreram sem conseguir socorro.

Foi o caso da primeira vítima identificada, Mohammed Alhajali, um estudante de engenharia que era refugiado sírio e tinha 23 anos de idade. Ele morava aqui no Reino Unido desde 2014.

O irmão dele, Omar, conseguiu escapar do fogo. Mohammed ficou encuralado pelas chamas e telefonou para alguns parentes. Ele ficou duas horas no telefone antes de perder contato com a família.

Pra complicar ainda mais a situação, a primeira-ministra Theresa May visitou o local da tragédia ontem cedo, mas não se encontrou com as famílias das vítimas do incêndio, o que só aumentou o clima de revolta entre os moradores do prédio de moradias populares.

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