Reação à vacina que causou mortes “é esperada”, diz infectologista

  • Por Jovem Pan
  • 20/01/2018 12h25 - Atualizado em 20/01/2018 12h31
EFE/Fernando Bizerra Jr. "Quem deve receber a vacina são pessoas que estão bem de saúde e expostas ao vírus", nas áreas de risco, diz o médico.

Caio Rosenthal, médico infectologista e membro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), falou ao Jornal da Manhã deste sábado (20) sobre as recém-noticiadas mortes decorrentes de reações adversas à vacina contra a febre amarela.

Além das 36 pessoas que morreram em decorrência da doença em si, outras três faleceram por reação à vacina em 2018. Mais seis casos de óbito por suposta reação vacinal estão em investigação.

Embora rara, a reação à vacina pode ocorrer porque o imunizante é feito com o vírus vivo atenuado. Nas reações graves, que têm incidência de 1 caso a cada 500 mil pessoas vacinadas, o paciente pode desenvolver a doença viscerotrópica aguda, que leva a uma disfunção aguda de múltiplos órgãos.

A secretaria estadual de Saúde e o secretário municipal Wilson Pollara recomendam que a pessoa compare o risco da vacinação com o risco de se contrair a doença antes de decidir se vacinar ou não.

Rosenthal avalia que “a vacina da febre amarela é uma excelente vacina”, “considerada uma das melhores”. Diferente da vacina da gripe, que usa “uma particulazinha de vírus morto”, a imunização contra a febre amarela é produzida por meio de vírus vivo atenuado e “tem efeito colateral maior”.

O infectologista pondera, no entanto, que são efeitos “mínimos”, “considerada a eficácia da vacina”.

Os efeitos colaterais mais comuns, que atingem “de 4% a 5% dos que recebem a vacina” são “dor, inchaço e calor no local do corpo em que foi aplicada a agulha”, algo “muito benigno”.

“A vacina também pode ocasionar em algumas pessoas um quadro clínico semelhante ao da febre amarela, mas muito mais atenuado”, explicou o especialista. Os sintomas são dor de cabeça e olhos amarelados, “parecido com uma leve meningite”, ainda um quadro “benigno” segundo Rosenthal.

Já em uma proporção “baixíssima”, de “uma pessoa entre 300 mil a 400 mil aplicações”, ela pode apresentar um “quadro viscerotrópico”, que atinge as vísceras, fígado e rim. “É raríssimo”, diz.

Por fim, há um “outro quadro mais grave”, que vai na proporção de um para cada 400 mil a 500 mil vacinados, em que há um quadro neurotrópico. Esses sintomas podem aparecer até 30 dias depois da aplicação da vacina e atinge o cérebro e os neurônios, causando encefalite e meningite.

“Se a gente já aplicou um milhão de doses (em São Paulo), é esperado que pelo menos três pessoas vão apresentar esse quadro gravíssimo”, avaliou o médico. “Não foge das estatísticas. É absolutamente esperado. É o preço que se paga”, disse.

Quem não deve tomar a vacina

A vacina contra a febre amarela é contraindicada para crianças menores de seis meses, idosos acima dos 60 anos, gestantes, mulheres que amamentam crianças de até seis meses, pacientes em tratamento de câncer e pessoas imunodeprimidas.

“Quem deve receber a vacina são pessoas que estão bem de saúde e expostas ao vírus”, nas áreas de risco, diz o médico.

Quem tem mais de 60 anos deve tomar a decisão ao lado de um médico, sugere Rosenthal.

Já a grávida “tem um pequeno déficit de imunidade” gerado pela própria gravidez, o que aumenta a propensão de reação à vacina. O infectologista explica, porém, que “não existe defeito congênito”, ou seja, a vacina não afeta o feto.

Remédios específicos ainda não existem contra quem adquire a febre amarela. Neste caso, a pessoa é internada em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e os efeitos, como danos ao fígado, são tratados. É o mesmo caso do sarampo e da gripo, que não contam com remédios.

Ouça a entrevista completa:

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