Vereadores expõem dificuldades que Doria terá para dar fim ao “toma lá dá cá”

  • Por Jovem Pan
  • 05/10/2016 10h40

João Doria Jr. reza em paróquia de São Paulo logo após votar no último domingo e antes de saber de resultados das eleições

JALES VALQUER/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO João Doria Jr. reza - AE

João Doria Jr. se apresentou como não político e venceu a eleição. O tucano promete uma nova relação com a Câmara.

São Paulo tem 55 vereadores e a coligação de João Dória elegeu 29 cadeiras, mas a maioria simples não é automática. Em geral sempre depende cem por cento dos atos fora do plenário.

Será possível o fim do “toma la da cá”, o tradicional fisiologismo nos cargos do executivo mum ambiente 100% político? Vereadores de partidos dos diversos espectros políticos ouvidos pelo repórter Jovem Pan Marcelo Mattos avaliam.

Reeleito pelo PV, o vereador Gilberto Natalini reconhece ser “uma coisa difícil” evitar o “troca-troca” e o fisiologismo. “A cultura política do Brasil é essa cultura do troca-troca, do interesse imediato, então o prefeito vai ter que dar um exemplo muito forte”, disse.

Na oposição, o PT de Paulo Fiorilo não acredita no sucesso de Doria. “Se vai ter ficha limpa, se vai ter ficha suja é uma decisão que ele (Doria) vai tomar, mas pelo que eu ouvi e li, é que vai ser mantida a possibilidade de os vereadores indicarem subprefeituras, então ele não muda a relação”, opina Fiorilo. 

“Você tem um sistema eleitoral que coloca o parlamentar com um poder grande de discussão com o Executivo. Então, enquanto você não tiver uma reforma que fortaleça instituições e partidos, você vai ter que negociar com cada parlamentar”, sugere o vereador também reeleito.

Parlamentar reeleito, José Police Neto, do PSD, prevê uma nova dinâmica na relação entre o prefeito e a Câmara. “Ele (Doria) vai ter que aprender. A casa vai ter que aprender, o prefeito eleito, todos nós vamos ter que aprender a partir de uma nova lógica. Não é mais uma lógica antiga, temos uma nova lógica entrando e todos aprenderão”, discursa.

Police Neto afirma que “o que importa é uma gestão mais competentes” para prestar ao cidadão serviços de mais qualidade.

Derrotado nas prévias do PSDB e depois como vice da chapa à Prefeitura com Marta Suplicy (PMDB), o vereador Andrea Matarazzo (PSD) insiste no “amadorismo” do prefeito eleito e critica o discurso de “não sou político”. 

“É muita retórica. Minha origem é industrial, de empresa. A partir do momento em que você vai para a vida pública, a vida pública é política 24 horas por dia. Isso não impede você de ser profissional. Quando se tenta reduzir a importância da política, é de quem não conhece nem a área pública nem está valorizando a democracia”, ataca.

Aliados já negociam

Numa prova do dinamismo da política, a posse ocorre dia Primeiro de Janeiro de 2017, mas o vereador Milton Leite, do DEM, segundo mais votado com 107 mil votos, garante que a Câmara já discute o novo presidente da casa.

Na visão de Leite, será eleito presidente da Câmara de Vereadores aquele que consiga “trazer um pouco de pacificação para a Casa” no diálogo entre a oposição e base aliada de Doria. E o vereador já se coloca na disputa. “Eu ou outro seremos eleito presidente. Evidentemente que meu nome está na mesa, mas não é condição sine qua non para estar em base ou não”.

Leite afirma que estará na base de sustentação do novo prefeito por ter participado da “coligação que faz parte hoje da coalizão que governará a cidade de São Paulo”.

Com a maior bancada da futura Câmara e o vereador mais votado do PSDB, Mario Covas Neto também pretende disputar a presidência do legislativo.

“Não depende só da vontade da gente e essa tradição, por ser uma tradição, pode ser corrompida também. Pode haver eventualmente uma articulação por outros grupos que acabam fazendo a maioria e tendo a direção da Casa. Agora, até o dia da eleição e (enquanto) essa eleição (para presidente da Câmara) não acontecer, as conversas vão acontecendo”

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