Editorial – Lista do Findomundistão compromete também o futuro de longo prazo

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 12/04/2017 14h10
Vinte e um alunos da Escola de Educação Especial Primavera, no Tarumã, receberam na manhã desta terça-feira (02) a carteira de trabalho. Foto: Valdecir Galor/SMCS Valdecir Galor/SMCS Desemprego

A elite política que foi mandada para o patíbulo pelo Ministério Público, que abusa de critérios heterodoxos como poderia apontar qualquer advogado mediano que fosse, é a mesma que tem de fazer a reforma da Previdência, a reforma trabalhista e a reforma política.

As duas primeiras enfrentam óbvia resistência das esquerdas. A terceira inflama a imaginação — e, sobretudo, a estupidez ou oportunismo — das direitas.

É claro que, sob fogo cruzado, fica mais difícil aprovar medidas que serão tachadas de “corte de direitos”. Não conheço uma só pessoa que simpatize — atenção para o verbo que emprego — com o aumento da idade mínima para a aposentadoria. Os conscienciosos aquiescem com a sua necessidade. Nem poderia ser diferente: não se deve esperar de uma população que não tem exatamente uma vida nababesca uma cota extra de sacrifício em nome da sustentação de um sistema cujos mecanismos nem conhece direito.

É preciso (seria) fazer um trabalho de convencimento. Para tanto, é (seria) necessário que haja (houvesse) uma relação mínima de confiança entre o povo — que vai, sim, arcar com o peso das mudanças — e as lideranças políticas. Olhem o quadro: cabe, nesse cenário, tal palavra? Não me parece.

Sim, é preciso juntar os dados da equação. Notem que o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o reaça folclórico — mas hoje com o apoio de 10% ou pouco mais do eleitorado —, não se mete com esse assunto. Ou melhor: ele adota a pauta da extrema esquerda: é contra as reformas trabalhista e da Previdência, contra a terceirização, contra as privatizações…

Tome-se outro pré-candidato óbvio, o prefeito João Doria (PSDB). Como, por enquanto, essas reformas não são assuntos municipais, ele pode ficar longe do debate. Certamente, em algum cenário, ele se vê sentado na cadeira presidencial. E é claro que espera chegar lá com alguma reforma feita.

Não estou dizendo que essas reformas se tornaram inviáveis. Mas é claro que terão um trânsito ainda mais difícil.

Reforma política
Querem saber? Não fazer a reforma política será ainda mais arriscado do que deixar de lado a da Previdência e a trabalhista. Sem essas duas, é fato, continuaremos condenados à mediocridade, ao baixo crescimento, aos juros altos, à melancolia. O país não acaba — porque países não acabam, né? —, mas se acabrunha.

Não fazer a reforma política acena com um risco bem maior: a desordem. E a crise política sempre é o melhor motor da crise econômica.

Notem: não sabemos de onde sairão os recursos das eleições de 2018. Há menos de seis meses para cuidar do assunto. Deixar a legislação como está implica alargar a vereda que já liga hoje a política ao crime organizado. Não há tempo e condições políticas de resgatar o financiamento de pessoas jurídicas. Ou se tem o fundo público ou se tem o caos.

As direitas xucras não querem fundo público. Logo, querem, na minha formulação, o caos, sempre útil às várias expressões das hordas fascistoides que dominam as redes sociais.

O fundo público, se vier, só faz sentido com o chamado voto em lista pré-ordenada — que, se existir, será pública, à diferença do que propagam os vigaristas. Mas, de novo, os que escoiceiam os argumentos zurram sua contrariedade em nome da “renovação da política”.

Assim como temos uma janela — o governo Temer — para fazer a reforma da Previdência (ou não se fará depois), temos a oportunidade, como país, de fazer uma reforma política que seja algo mais do que uma ponte para 2018. Seria um avanço formidável reinstituir o financiamento de campanha por pessoas jurídicas — “na forma da lei” (e ela será discutida posteriormente) — e aprovar o voto distrital misto. Para quando? Para 2022.

Constato, no entanto, que a POLÍCIA foi posta no lugar da POLÍTICA. “Claro, Reinaldo! Você queria o quê? Só tem bandido…” Pois é. Pra começo de conversa, isso não é verdade. Ainda que fosse, não me parece que a resposta adequada seja a política exercida como antipolítica.

Aqui e ali, os espertalhões e os cretinos começam a flertar com a ideia de uma Constituinte Exclusiva para fazer a reforma política. Bem, para 2018, não haveria tempo. Imaginem que texto sairia de um grupo que não teria depois de arcar com a governabilidade.

O Congresso que aí está tem de ter a clareza de fazer o que tem de ser feito. Já está morto. Sua única saída, agora, é ressuscitar.

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