Editorial – Temer, até agora, conseguiu responder à necessidade com a coragem

  • Por Reinaldo Azevedo/Jovem Pan
  • 23/02/2017 13h39
BRA01. BRASILIA (BRASIL), 05/01/2017.- El presidente brasileño, Michel Temer, sostiene una reunión con su gabinete sobre la crisis en el sistema penitenciario tras la matanza en una cárcel de Manaos, hoy, jueves 5 de enero de 2017, en Brasilia (Brasil). Entre el 1 y 2 de enero pasados, una reyerta en el complejo penitenciario de Anísio Jobim de Manaos causó la muerte de 56 presos. EFE/Joédson Alves Joédson Alves/EFE Michel Temer em Portugal - EFE

Sem uma reforma da Previdência, o Brasil continuará quebrado — sim, é importante deixar claro que já está quebrado hoje. Quando nos damos conta do que vivemos do começo de 2016 até esta data, algo como um milagre — que, definitivamente, não frequenta a política — parece ter acontecido. Temos um governo que se instaurou, segundo as regras da democracia, enfrentando, não obstante, a maior máquina de mobilização social (não se entra aqui no mérito da pauta) jamais criada no país. De mobilização social, mas também de assalto aos cofres públicos, de assalto ao Estado de Direito, de assalto à institucionalidade e, por tudo isso, também de assalto à matemática.

Por que o Brasil é, de fato, sui generis nesse particular? Precisamos de um estudo mais detalhado, temos de aprofundar a investigação das mentalidades. O Brasil corporativista que aí está nasce do que pior poderia nos legar um regime fascistoide, o de Getúlio Vargas: há a imposição da diretriz de um suposto “estado abstrato”, que só teria como ponto de chegada o bem comum — é o fascismo de direita —, e há a ideia da assistência universal, do Estado provedor, fonte das generosidades: também é herança da cultura fascista, mas de esquerda.

E quem senão Getúlio Vargas juntou essas duas coisas numa só personagem? É endeusado em certos círculos intelectuais como figura única na história. Sem dúvida: nunca um fascista de direita, e isso que era originalmente como crença política, foi adotado com tanta generosidade pelos socialistas, os fascistas de esquerda. Ele nos legou um modelo destinado a não funcionar. E é glorificado. Acredito que nem nas ditaduras mas ferozes do planeta o líder de um regime que torturou e matou de forma inédita daria nome a instituições e logradouros públicos. O autoritarismo está entranhado em nós.

O Brasil passa por um momento notável, em que pistoleiros de quinta categoria, que não leram nada de relevante sobre o Brasil, se atrevem a explicar o país e o mundo. Alguns deles ficam mendigando dinheiro na Internet. Vigaristas! Afirmei certa feita que o PT é, sim, partido de esquerda, mas que “socialista” propriamente não é. Ora, basta ver sua política e suas relações com o empresariado. Mas aí um velho doido, tirando cocô de urso da sola do sapato, proclama: “Os empresários também são comunistas”. Em suma, todos têm de ser comunistas para que ele possa ser o profeta. Lixo.

As consequências mais nefastas dos 14 anos de poder petista não têm nenhuma relação direta com seu viés de esquerda. O pior Brasil que o PT nos deixa como herança é, sim, o país getulista, carregando aquela mesma ambiguidade do Getúlio original: há o viés autoritário, centralizador, supostamente organizador do próprio capitalismo — estudem a relação que Lula estabeleceu com as empresas —, e há o viés do distributivismo doidivanas, que não olha o caixa. Nessa hora, a esquerda se arrepia: “Reinaldo acha que o povo tem benefícios demais!” Não! Acho que tem é de menos. Precisamos de benefícios sustentáveis.

Coragem

Chegar ao poder nas condições em que Temer chegou; ter de formar uma maioria no Congresso que precisa ter uma folga para surpresas e traições de última hora; saber que uma mudança essencial tem de ser feita para que o conjunto se sustente; ter clareza de antemão de que tal mudança mobiliza essa tradição arraigada de estado-patrão, bem, meus caros, isso tudo requer um político de coragem.

Foi assim com a PEC do Teto de gastos, com a mudança das regras do pré-sal — projeto de Serra que o governo apoiou —, com a renegociação da dívida dos Estados, com o reconhecimento de que a segurança pública é agora também um problema federal.

E isso se dá num momento em que forças messiânicas, de extrema-direita e de extrema-burrice tentam, na prática, inviabilizar o país, transformando a política e os políticos numa espécie de obsolescência.

Que reforma haverá?

A proposta do governo é boa, dada a conjuntura política. Ela vai ao limite do potencial do Congresso — é uma pena que textos não possam ser debatidos no vácuo. Quem entende o sentido das palavras já percebeu: é muito provável que concessões tenham de ser feitas. Ainda que muitos possam achar a democracia uma porcaria, ainda é o que se pode ter de melhor para responder, inclusive, às demandas distributivas.

No alto, vai dos vídeos produzidos pelo site http://apoieareforma.com/. Ajude a divulgar.

É improvável que o país viva de novo conjuntura tão favorável como a que temos para emplacar a reforma.

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