Paulo Roberto põe Renan entre mentores do Petrolão

  • Por Jovem Pan
  • 06/05/2015 11h41
Marcelo Camargo/Agência Brasil Paulo Roberto Costa

Reinaldo, Paulo Roberto Costa depôs na CPI do Petrolão nesta terça, e aí?

Vou aqui tentar fazer uma síntese do longo depoimento de Paulo Roberto Costa à CPI do Petrolão, por temas. É evidente que o que ele diz tem de ser investigado, sempre destacando que o homem não é um professor de educação moral e cívica ou de ética. Comecemos pelas acusações mais graves.

Campanha de Dilma em 2010 Paulo Roberto Costa reafirmou que Antonio Palocci lhe pediu R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010. Alberto Youssef teria ficado de repassar o dinheiro, mas o doleiro, que também fez delação premiada, diz não ter feito isso. Um inquérito investiga Palocci. Dilma não é investigada.

Renan e Humberto Costa entre os mentores Indagado por um deputado sobre quem era o mentor do esquema, Costa lista uma série de políticos: “Do PP, começou com o deputado José Janene (PR); prosseguiu depois com o deputado Mário Negromonte (BA); prosseguiu depois com o senador Ciro Nogueira (PI). Do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), deputado Aníbal Gomes (CE). Do PT, tive contato e ações com o senador Lindbergh (Farias)-RJ, com o senador Humberto Costa (PE)… O senador Romero Jucá (RR), tivemos contato com ele, e também o [ex]ministro Edson Lobão [Minas e Energia]”.

A tese do cartel Paulo Roberto Costa construiu o seu discurso para transformar a Petrobras em vítima da ação do suposto cartel das empreiteiras, embora ele fizesse parte da equipe que determinava preços, distribuía obras e decidia o valor da propina. Mais de uma vez, cantou as glórias da empresa e a sua seriedade, exaltando seus mecanismos de controle. Santo Deus!

O bom ladrão Reproduzindo uma conta que está na imprensa, afirmou que pelo menos R$ 60 bilhões da dívida da Petrobras se devem à defasagem do preço dos combustíveis. O corrupto preocupado com os destinos da empresa diz ter apresentado proposta para corrigir a defasagem, com o apoio de José Sérgio Gabrielli, então presidente da Estatal, mas sem sucesso.

Consciência culpada O homem que lucrava milhões com o que chama cartel diz ter pensado em chamar outras empreiteiras para tocar as obras, mas afirmou que as que já estavam no negócio diziam que elas não conseguiriam fazer o trabalho.

Os políticos O engenheiro culpou os maus políticos pela lambança na Petrobras. É claro que ele tem razão. A estatal serviu a um esquema de poder. Isso é evidente. Acontece que essa tese se choca justamente com a do cartel, não é? Ou bem este existe, e a estatal é uma de suas vítimas; ou bem a Petrobras era parte ativa na roubalheira, por meio de seus diretores — e era —, e o que se tem pode até ser formação de quadrilha, mas não cartel.

A propina Paulo Roberto Costa já deu três versões para o valor da propina, embora insista que são uma só. Na primeira, afirmou que as empresas punham um sobrepreço nas obras para pagar os larápios; na segunda, disse que o dinheiro da sem-vergonhice saía do próprio lucro das empreiteiras; na última, veiculada nesta terça, tentou fundir as duas outras: o dinheiro dos corruptos sairia, sim, do lucro dos empreiteiros, mas, como eles formavam um cartel, então os preços já seriam naturalmente mais altos. O que não fecha na sua história? O óbvio: eram as empreiteiras que impediam a Petrobras de realizar uma real concorrência, ou era a Petrobras, por intermédio de seus diretores, que impedia uma competição honesta?

O reformador Paulo Roberto estava à vontade no seu papel de conselheiro da República e, quem sabe, consultor. Vituperou contra o financiamento de campanha por empresas, abraçando uma tese que o PT levaria ao horário político pouco tempo depois. Segundo disse, se é para passar o Brasil a limpo, as doações têm de ser proibidas porque as empresas sempre procurarão um modo de recuperar o dinheiro.

Qualquer um que preste atenção à narrativa de Paulo Roberto vai acabar concluindo que há linhas contraditórias no seu depoimento, e isso, anotem aí, acabará sendo importante nos tribunais: ou bem a Petrobras tinha uma gestão política, que atendia a interesses partidários — e, a partir daí, os esquemas de corrupção operavam, inclusive das empreiteiras; ou bem essas empreiteiras se organizaram para tomar de assalto a Petrobras. Em qualquer dos dois casos, todos cometeram crimes. Mas a diferença não é irrelevante.

Caso se conclua que o núcleo da safadeza é político, então a estatal passa a ter uma gestão profissional, independente de quaisquer injunções que não sejam técnicas, e seus diretores não saberão distinguir senador, deputado ou tesoureiro partidário de um Zé Mané qualquer. Caso se conclua que a origem está num cartel, como querem Ministério Público e Justiça Federal do Paraná, então a Petrobras fica na mesma, e as empreiteiras de agora serão substituídas por outras, que entrarão na fila do guichê da delinquência.

É isso que alguns bocós não entenderam até agora. Ah, sim: a hipótese do cartel interessa aos tarados pelo estatismo. A hipótese do uso da empresa por um esquema de poder — que é fato — interessa a quem quer pôr bandidos na cadeia e a Petrobras nos trilhos.

Quanto ao financiamento de campanha, acho que o Brasil tem pensadores mais competentes do que Paulo Roberto.

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