Um ano depois, moradores de Mariana ainda sentem os efeitos da tragédia

  • Por Jovem Pan
  • 04/11/2016 09h25
Mariana (MG) - Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), atingido pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco (Antonio Cruz/Agência Brasil) Antonio Cruz/Agência Brasil Lama atinge distrito de Bento Rodrigues

O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, interior de Minas Gerais, completa um ano neste sábado. No dia 5 de novembro do ano passado, os rejeitos de mineração acumulados no reservatório devastaram o distrito de Bento Rodrigues, provocando as mortes de 19 pessoas.

A lama se espalhou por dezenas de cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo e chegou até o Oceano Atlântico. A Jovem Pan apresenta uma matéria especial, contando como estão as pessoas afetadas pelo desastre, um ano depois da tragédia. A reportagem é de Anderson Costa e Vitor Brown. A sonoplastia é de Durval Júnior.

Um ano depois do rompimento da barragem da Samarco, a vida em Mariana e nas outras cidades atingidas pela lama ainda não voltou ao normal.

Os moradores do distrito de Bento Rodrigues, que perderam casas e comércios, passaram a receber um benefício, pago todos os meses pela mineradora.

Em muitos casos, o valor é inferior ao que estas pessoas ganhavam antes do desastre, mas, mesmo assim, o principal problema nem é o dinheiro.

Os antigos habitantes do distrito passaram a viver em outros locais, mas muitos deles ainda não conseguiram se adaptar à nova vida.

O antigo líder comunitário de Bento Rodrigues, o aposentado conhecido como “Zezinho do Bento”, ainda sonha em voltar para a casa.

A tristeza que tomou conta dos moradores das cidades atingidas pela lama é mais um dos graves problemas de saúde provocados pelo desastre.

Segundo Marcus Vinícius Polignano, professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais, os casos de depressão dispararam depois da tragédia.

Além dos problemas emocionais, a contaminação da água pela lama também traz muita preocupação.

Segundo a doceira Sirlene Barbosa, que mora em Tumiritinga, a 370 quilômetros de Mariana, está cada vez mais difícil convencer os fregueses a comprarem os produtos.

A cozinheira explica que os antigos compradores têm receio de consumir os doces feitos na região, por acreditarem que os quitutes são feitos com a água suja de lama.

A situação também é difícil para os pescadores que trabalhavam nas áreas atingidas pela lama.

O pescador Nelson de Almeida Ricas, morador de Aimorés, em Minas Gerais, diz que os trabalhadores estão sem ocupação, devido à contaminação da água. E o pior: o valor do benefício pago pela Samarco é inferior ao que os pescadores conseguiam antes.

Em Bento Rodrigues, a enchente de lama destruiu as plantações de pimenta biquinho, prejudicando a produção da tradicional geleia, que era feita na região.

A antiga fábrica, que ficava no distrito, foi reaberta quatro meses após o desastre, a 24 quilômetros de distância do antigo local, na região central de Mariana.

Mesmo assim, para a cozinheira Keila Verdeli, a vida não voltou a ser o que era antes. Segundo Keila, o valor arrecadado pelas cozinheiras na nova fábrica é menor do que o rendimento obtido antes da tragédia.

A Secretaria Municipal de Obras de Mariana estima em R$ 100 milhões o prejuízo provocado pelo desastre. O valor inclui os problemas ambientais e os danos de infraestrutura provocados na cidade, mas as perdas devem ser ainda maiores.

A conta não leva em consideração os prejuízos aos moradores nem as consequências do acidente em outras cidades.

A Justiça determinou o bloqueio de R$ 300 milhões da Samarco para os ressarcimentos às famílias. Além disso, a empresa assinou um acordo com o Ibama, que prevê o pagamento de R$ 1 bilhão pelos danos socioambientais.

Procurada pela Jovem Pan, a mineradora Samarco não se manifestou sobre o caso. Neste sábado (05), você acompanha, no Jornal da Manhã, o segundo capítulo da reportagem especial sobre a tragédia em Mariana. Vamos mostrar os problemas de saúde provocados pela poeira tóxica que se espalhou nas cidades atingidas pela lama e como a população de Bento Rodrigues reagiu à construção de um dique, que vai alagar a região do distrito.

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