Assembleia Geral da ONU não é festa, é siesta

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 19/09/2017 10h12 - Atualizado em 19/09/2017 10h50
EFE/ANDREW GOMBERT EFE/ANDREW GOMBERT Um prêmio de consolação nesta terça-feira será ficar um pouco mais atento ao discurso de Trump

Eu sou chegado a rituais na vida pessoal e profissional, mas há limites. Haja falar de assembleia geral das Nações Unidas. Todo bendito ano, jornalistas brasileiros precisam relatar o evento, pois presidente brasileiro (ou ministro das Relações Exteriores) dá o tiro de largada para a maratona de discursos. Assembleia geral da ONU não é festa, é siesta.

O americano Stephen Schlesinger, um sabe-tudo sobre a ONU, no seu livro “Act of Creation” tem a seguinte versão para o tiro de largada brasileiro: o presidente americano Franklin Roosevelt queria que o Brasil fosse o sexto membro permanente do Conselho de Segurança. O plano não funcionou e o discurso de abertura é o prêmio de consolação.

A ambição de presença brasileira no Conselho de Segurança fica mais distante com Donald Trump, cujo maior interesse em reformas na ONU é cortar despesas e distanciar os EUA da instituição em nome do seu conceito de America First.

Um prêmio de consolação nesta terça-feira será ficar um pouco mais atento ao discurso de Trump, pois será o seu primeiro na assembleia geral e o tuiteiro-em-chefe gosta de improvisar e chocar.

E coitado do nosso Michel. Como manda a tradição, ele falará antes de Trump. Para ficar acordado, talvez a solução seja contar o número de mesóclises no douto pronunciamento.

Eu era muito novinho para acompanhar o mais teatral dos discursos na ONU, impossível ter uma siesta. Foi em 1960, quando o manda-chuva soviético Nikita Khrushchev deu uma sapatada na mesa para expressar protesto. Para colocar ordem no recinto, o presidente da assembleia bateu tanto o seu martelo que ele quebrou.

Eu peguei momentos de emoções quando o tradutor ficou louquinho com o discurso do ditador líbio Muamar Kadafi ou o antológico pronunciamento de Hugo Chávez reclamando do cheiro de enxofre, ou seja, George W. Bush.

Mas, não vamos ser injustos com o Brasil. Nossa ex-presidenta, a primeira e inigualável, fez um discurso antológico na ONU em 2015. Foi quando ela sugeriu que o mundo estocasse vento. O discurso, como sabemos, foi para o espaço sideral.

Por esta e tantas outras pedaladas mentais, éticas e políticas da Dilma, eu realmente prefiro Julia Louis-Dreyfus como presidenta. No domingo, ela ganhou o Emmy, o Oscar da televisão, pelo sexto ano consecutivo na categoria atriz em comédia por seu papel de Selina Meyer no seriado Veep. Ela já foi vice, presidenta e ex. A Julia sabe estocar prêmios.

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