Curdos e catalães, terras prometidas e o possível

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 30/09/2017 15h07
EFE EFE Centenas de pessoas pedem independência da Catalunha em Barcelona

Na segunda-feira, os curdos votaram a favor de independência num referendo mais simbólico do que efetivo na região semiautônoma do Iraque. Agora neste domingo, será a vez dos catalães votarem sobre ficar ou não na Espanha.

Existe uma enorme distância entre os dois referendos e eu assumo minha postura indecisa no caso catalão. No caso curdo, não resisto às emoções e aos paralelos com o povo judeu. Igualmente dispersos e submetidos a constantes traições pela comunidade internacional, os curdos já estão na sua terra prometida.

Só falta assumir a posse da terra. O drama é combinar com um montão de países: Iraque, Irã, Síria e Turquia. Obviamente, não estamos num cenário civilizado de uma Escandinávia de que tudo possa ser resolvido de forma ponderada e amigável. De qualquer forma, será uma longa marcha para os curdos e não dá para prometer que a terra será deles um dia.

No caso dos catalães, não estamos na Escandinávia, mas na Espanha civilizada, em que a região não é exatamente submetida ao jugo como nos tempos da ditadura franquista ou da conquista pelos Bourbons no século 18.

É verdade que o governo de Mariano Rajoy reage de forma desastrada aos reclamos catalães, misturando truculência, como no esforço para bloquear o voto, com acenos de negociação por mais autonomia para a região.

Há ressalvas mais importantes no dilema. O governo regional da Catalunha e seus aliados secessionistas pressionaram pelo referendo em desacato à corte constitucional espanhola, árbitro supremo na questão.

Além do argumento legal, o clamor pela independência está longe de ser avassalador. Muitos catalães inclusive são favoráveis ao referendo e não à independência. A confiar nas pesquisas, a secessão vai perder neste domingo. No referendo curdo, o voto pela independência foi avassalador (93%).

O referencial para a Catalunha não deve ser o referendo curdo, mas votos separatistas no Quebec, em 1995, e na Escócia, em 2014. Ocorreram com o consentimento do governo central e em respeito à lei.

Obviamente, mesmo que o voto secessionista vença no domingo, não vai haver uma independência imediata. Trata-se de um jogo político para que seja reforçada a coalizão de governo pró-independência e as ramificações serão incertas.

O ideal é que os secessionistas percam a eleição e que sejam iniciadas as negociações entre governo central e Catalunha pela modernização da autonomia regional. Assim, ao menos eu resolvo o meu dilema e declaro vitória.

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