Pela lógica, a carreira de Harvey Weinstein está destruída

  • Por Jovem Pan
  • 09/10/2017 08h07 - Atualizado em 09/10/2017 08h32
EFE Harvey Weinstein Nos últimos tempos, temos esta infame galeria de famosos: Weinstein, O’Reilly, o próprio chefe do anterior, Roger Ailes, fundador da Fox News, e o comediante Bill Cosby

Tem dia da caça e do caçador. O New York Times, tão acusado de proteger os liberais, pegou mais um predador sexual e do seu lado, o lado liberal, ou esquerdista, se preferirem. Desta vez foi Harvey Weinstein, um dos reis de Hollywood, que fundou com o irmão Bob o estúdio Miramax (domingo à noite, Harvey foi demitido). Pela lógica, a carreira de Weinstein está destruída. Expresso uma pontinha de dúvida, pois aí está Donald Trump, no pináculo da fama e poder, apesar do seu prontuário de predador.

O New York Times já pegara Bill O’Reilly, que antes da demissão da conservadora e cada vez mais chapa branca Fox News, era o mais popular e influente comentarista de televisão nos EUA. Nos últimos tempos, temos esta infame galeria de famosos: Weinstein, O’Reilly, o próprio chefe do anterior, Roger Ailes, fundador da Fox News, e o comediante Bill Cosby.

Temos aí predadores liberais e conservadores, de raças e religiões diversas. Existe um festival de hipocrisia ao longo do espectro, com gente dizendo que o seu predador é pior do que o meu.

Harvey Weinstein foi alvejado por uma saraivada de alegações de que assediou desde atrizes famosas, como Ashley Judd, a assistentes de sua empresa. Ele era um generoso doador de políticos democratas e chegado em Hillary Clinton, aquela senhora que em nome do casamento e da carreira decidiu permanecer com o marido predador. E Trump, o sujeito incapaz de conter a boca e as mãos, precisou dar o seu pitaco. Disse que não ficara surpreso com as revelações sobre Weinstein.

Claro que o agarrador de vagina não poderia ficar surpreso. Boi laranja conhece boi de qualquer outra cor. O que une todos estes predadores? Existe a questão da idade (Weinstein tem 65 anos). Há a desculpa de que se tornaram adultos nos anos 60 e 70 quando a cultura no ambiente de trabalho era diferente.

Lisa Bloom, ativista feminista que foi advogada de Weinstein até o fim de semana (renunciou diante da fuzilaria que a alvejou) justificou o ex-cliente, dizendo que ele era “um velho dinossauro” aprendendo a se comportar.

O ponto essencial nestes escândalos não é idade, mas privilégio, a destacar poder corporativo. Eles assediam mulheres de forma sistemática porque podem, pois elas estão em uma posição vulnerável. Precisam do emprego ou dos fundos.

Eu acho infame o argumento de que não podemos levar a sério uma mulher que leva anos para vir a público sobre o assédio. Ora, ora. Coloque-se no papel desta mulher. Eu saúdo tanto Ashley Judd, como Gretchen Carlson, a ex-apresentadora da Fox News que denunciou Ailes.

O importante é que a atitude corporativa esteja mudando. A Fox durante anos fez acordo com mulheres que acusavam O’Reilly. Meses atrás, outro apresentador da emissora, Eric Bolling, foi despachado sem maior cerimônia, quando surgiram as revelações de que enviara mensagens obscenas para colegas de trabalho.

No entanto, ainda está aí o dinossauro laranja, que acha o máximo ser politicamente incorreto e agarrar qualquer coisa na política, nas finanças e na anatomia feminina.

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