Como o cancelamento de 3,3 milhões de títulos pode afetar as eleições?

  • Por Caio Menezes/Jovem Pan
  • 27/09/2018 17h37 - Atualizado em 27/09/2018 17h38
Elza Fiúza/Agência Brasil biometria Os 3,3 milhões de eleitores que tiveram seus registros cancelados não atenderam ao chamado da Justiça Eleitoral para fazer o cadastramento biométrico e perderam o prazo para regularizar a situação, que foi até o dia 9 de maio

A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (26) por manter o cancelamento dos títulos eleitorais de cidadãos que não fizeram o cadastramento biométrico obrigatório em cerca de 2.800 municípios do País. Na prática, isso significa que 3,3 milhões de eleitores não poderão votar no dia 7 de outubro e em um eventual segundo turno, no dia 28 do mesmo mês.

O número de títulos cancelados representa pouco mais de 2% dos 146,8 milhões de eleitores do Brasil. Apesar de parecer pequeno, esse número é muito próximo da diferença de votos que reelegeu Dilma Rousseff à presidência da República em 2014, no segundo turno contra Aécio Neves. Na ocasião, a petista recebeu 54.501.118 votos, enquanto o tucano ficou com 51.041.155 votos.

“Numa disputa acirrada, [esse número] faz bastante diferença”, diz a cientista política Juliana Fratini em entrevista à Jovem Pan. “Em um cenário de tanta competição, qualquer voto é importante”, complementa a especialista. Ela acredita que a decisão do STF pode gerar um grande impacto nas eleições e também mudar os resultados que têm sido mostrados nas pesquisas de intenção de voto. “As pesquisas eventualmente capturaram a intenção de quem achou que poderia votar, mas não vai. Parte dos indecisos, dos votos que os candidatos estão tentando conquistar, talvez nem consiga votar”, explica.

Os 3,3 milhões de eleitores que tiveram seus registros cancelados não atenderam ao chamado da Justiça Eleitoral para fazer o cadastramento biométrico e perderam o prazo para regularizar a situação, que foi até o dia 9 de maio. Isso pode ter a ver com o desencantamento de parte da população brasileira com a política. “Algumas pesquisas dizem que cresceu a falta de interesse do cidadão por política”, afirma Fratini. “Mas não é só isso, a mensagem não chegou a determinados cidadãos”, defende.

Problema para Haddad e Ciro

Entre as regiões com maior número de títulos cancelados, destaca-se o Nordeste, onde sete estados (BA, CE, MA, PB, PE, PI e RN) tiveram 1,5 milhão de eleitores afetados. Para Juliana Fratini, isso pode afetar os votos em Fernando Haddad e Ciro Gomes, uma vez que o Nordeste é um reduto eleitoral mais alinhado aos candidatos da esquerda e a região em que esses candidatos têm mais intenções de votos nas pesquisas. “Nos últimos dois pleitos, o PT foi eleito principalmente pelo Norte e pelo Nordeste, enquanto os candidatos de centro-direita receberam a maioria de seus votos no Sul e no Centro-Oeste”, afirma a cientista. Por outro lado, o alto número de títulos eleitorais cancelados em estados como Paraná, Santa Catarina e São Paulo também pode prejudicar outros candidatos.

O consultor eleitoral da Jovem Pan Alberto Rollo acredita que os candidatos a deputado federal e estadual podem ser os mais prejudicados com o cancelamento dos títulos, e não quem concorre ao Palácio do Planalto. “Em São Paulo, por exemplo, a cidade de Guarulhos teve muitos títulos cancelados, então os candidatos que têm Guarulhos como reduto eleitoral certamente serão prejudicados”, diz.

Nas redes sociais, a decisão do STF está sendo criticada. “Algumas pessoas vão entender que essa medida faz parte de uma conspiração mais ampla contra o PT e contra o Ciro”, alerta Juliana Fratini. “Haverá um sentimento de que há mutreta (sic) entre as instituições, mais uma parte daquela ideia do pacto ‘com o Supremo, com tudo’”, continua a especialista, citando a já célebre frase do senador Romero Jucá com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

Entretanto, Alberto Rollo defende que nenhuma lei foi infringida. “As pessoas têm o dever de atender a Justiça Eleitoral. Elas receberam o chamado da Justiça Eleitoral para fazer o cadastramento biométrico, não atenderam e por isso vão deixar de votar nessa eleição”, afirma, ressaltando que os eleitores que tiveram seus títulos cancelados poderão votar na eleição de 2020 se fizerem o cadastramento biométrico até lá.

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