Meirelles: perspectiva eleitoral cria incerteza que atrapalha economia

  • Por Jovem Pan
  • 28/05/2018 14h10 - Atualizado em 28/05/2018 14h29
Elias Gomes/Jovem Pan "As pessoas não raciocinam linearmente", disse o ex-ministro sobre a falta de percepção social de melhora na inflação e outros índices

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) disse nesta segunda-feira (28) que a proximidade com as eleições de outubro gera incertezas que prejudicam o crescimento econômico do País.

“No caso do Brasil, a perspectiva eleitoral cria uma incerteza porque muitos candidatos estão propondo acabar com o teto de gastos e voltar atrás na (reforma) trabalhista”, disse Meirelles, que também é pré-candidato à Presidência.

“Todo esse processo de reversão e de voltar atrás, mesmo que isso seja apresentado como algo progressista, gera uma cautela nos investidores”, afirmou.

O emedebista pondera que esse cenário de incertezas pode ser temporário caso surja outro candidato que não seja “dos extremos”.

“Não devemos nos surpreender que o processo eleitoral vá levar a uma deterioração das expectativas, que esperamos seja temporária, e seja revertido mais perto das eleições”, afirmou Meirelles.

“Hoje temos um quadro definido, mas não quer dizer que está definido para a eleição. Muitos investidores acham que isso é transitório. Outra coisa é chegar em outubro e o resultado de fato confirmar isso”, diferenciou.

“No ano passado eu discutia que não seria surpresa que o processo eleitoral levaria a uma deterioração. O País estava confiante. Teto de gastos aprovado. Estava se deixando esse processo eleitoral de lado”, lembrou o ex-ministro de Michel Temer.

O pré-candidato, no entanto, tentou demonstrar otimismo. “Tenho certeza de que essa incerteza vai ser resolvida pela eleição”, disse.

Percepção

Questionado sobre os índices de melhoria da economia em sua gestão na Fazenda não chegarem a uma sensação de bem estar social, Meirelles disse que “as pessoas não raciocinam linearmente” como os números.

Ele contou que conversou com uma mulher no supermercado do Rio de Janeiro sobre os preços dos produtos. Ela achou os valores altos e se lembrou de preços menores anteriores. Depois, afirma, ao conferir com o estabelecimento, descobriu que o preço na memória da senhora era de dois a três anos antes.

“Não podemos confundir o que é crescimento e o índice de bem estar da sociedade, algo que tem uma defasagem em relação ao crescimento”, diferenciou.

“O poder de compra com a queda da inflação e com o aumento de pessoas empregadas cresceu”, garantiu o ex-ministro. “Existe uma percepção gradual da sociedade. Algo que foi destruído durante alguns anos não é reconstruído em um ano”, afirmou o pré-candidato.

Desemprego

Meirelles também disse que o Brasil criou “dois milhões” de empregos nos últimos anos e que a estabilização do índice de desemprego se deve aos que decidiram buscar trabalho, embora os últimos números apontem um crescimento dos desalentados e que a maior parte das vagas criadas é de trabalho precário ou informal.

Previdência e teto

Meirelles voltou a enfatizar a necessidade da reforma da Previdência.

O ex-ministro não vê, no entanto, uma possibilidade de o governo federal nos próximos anos não conseguir fechar as contas caso isso não ocorra. Isso porque, disse, “existem mecanismos autocorretivos que num prazo de poucos anos funciona”.

Seriam os mecanismos o congelamento de salários de servidores, de contratação de funcionários públicos e de subsídios.

“O teto de gastos será seguido esse ano. Se não aprovar a reforma da Previdência, o problema não é o teto de gastos, mas a sustentabilidade das contas públicas brasileiras”, disse. O teto de gastos é uma solução, não um problema”, postulou.

Para Meirelles, o teto das contas públicas, que limita o aumento dos gastos do governo ao crescimento da inflação no ano anterior, “abre para uma discussão muito mais produtiva sobre a reforma da Previdência”.

“Quando não há o teto, o governo continua gastando, gastando (…) e isso seria insustentável”, disse. Meirelles voltou a citar a Grécia como um exemplo do que o Brasil poderia se tornar caso não ajustasse as contas.

Emprego como política social

Meirelles afirmou que foi “exatamente o controle das despesas e a retomada da confiança que levou ao crescimento”.

“A maior política social que existe é o emprego”, declarou. “Apoiei a criação da Bolsa Família, acho necessário, agora, a melhor política social é a criação de emprego”, disse.

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