Acusada de racismo às avessas, Beyoncé é “rebelde milionária”, analisa Villa

  • Por Jovem Pan
  • 16/02/2016 12h51
Reprodução/Instagram Beyoncé Formation

Será que existe racismo às avessas? Um artista deve se posicionar politicamente? Estas questões voltaram à tona com o Super Bowl, no último dia 7. Enquanto 111 milhões de pessoas assistiam ao momento de maior audiência da televisão americana, Beyoncé entrou em campo convidando a todos para entrar em formação e falar sobre o racismo. Mais do que isso: ela veio acompanhada de bailarinas que faziam referências aos Panteras Negras, grupo muitas vezes lembrado por não ser adepto de uma politica racial ordeira como a que foi estabelecida nos Estados Unidos.

Entretanto, para o historiador e apresentador do Jornal da Manhã, Marco Antonio Villa, o protesto da cantora não a tirou de sua zona de conforto. “Faz o gênero da rebelde milionária. Isso tem muito nos Estados Unidos. O sujeito faz papel do rebelde e mora em uma mansão fabulosa, ganha milhões e milhões de dólares, mas é rebelde. E os Panteras Negras, a referência, é um grupo que apostava até na construção de uma república islâmica no interior dos Estados Unidos”, explicou Villa.

A letra da musica “Formation”, cantada por Beyoncé na apresentação e lançada um dia antes, é um hino de exaltação aos negros e também uma denúncia contra a violência policial em relação aos negros nos Estados Unidos. Vale lembrar que 2015 foi um ano marcante para a questão, por exemplo com os protestos em Baltimore, em que Freddie Gray causou comoção internacional ao ser morto por um policial com uma pancada na coluna.

Confira o vídeo da performance e ouça o especial de Helen Braun no áudio:

Apesar das intenções, o protesto de Beyoncé despertou a ira do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que julgou a performance de Beyoncé como um absurdo. “O que deveríamos estar fazendo pela comunidade de afro-americanos, e todas as comunidades, é dar respeito aos policiais. E nos concentrarmos no fato de que quando alguém faz algo errado, okay. Trabalharemos nisso. Mas a maioria dos policiais arriscam as suas vidas para nos manter seguros. Que tenhamos entretenimento decente e saudável”.

O que o ex-prefeito provavelmente esqueceu é que, em 1993, Michael Jackson também utilizou o espaço do Super Bowl para protestar sobre a sociedade racista dos Estados Unidos,  cantando “Black and White”. Antes deles, Nina Simone também defendia que é obrigação do artista refletir sobre o próprio tempo e, por isso mesmo, foi militante de peso no movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.

Uma questão importante é que a apresentação de Beyoncé aconteceu em meio  às prévias das campanhas presidenciais dos Estados Unidos. Para a cantora Paula Lima, não há tempo certo para se manifestar. “Eu acho que hoje, mais do que nunca, a coragem e audácia são fundamentais para a arte e eu acho que não dá mais para a gente, em um momento tão complexo mundial, se omitir ou falar ‘não vi’, ‘não sei’, ‘não é comigo’”.

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