Após grandes dificuldades, X-9 se supera para cantar a história do açaí

  • Por Jovem Pan
  • 07/02/2016 06h45
SP - CARNAVAL-X-9-PAULISTANA - GERAL - Carnaval SP 2016. Desfile da Escola de Samba X-9 Paulistana válida pelo Grupo Especial, no Sambódromo do Anhembi em São Paulo (SP), neste domingo (07). 07/02/2016 - Foto: NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Agência Estado Os índios marcaram presença no desfile da X-9 Paulistana sobre o açaí

Contando a história do açaí, a X-9 Paulistana fechou a segunda noite de desfiles do Carnaval paulista com o enredo “Açaí Guardiã! Do amor de Iaçá ao esplendor de Belém do Pará”. Com Gracyanne Barbosa como rainha de bateria pelo terceiro ano, a agremiação enfrentou problemas no começo do desfile.

No terceiro carro alegórico, uma caravela, a vela caiu junto com pelo menos uma pessoa. Então, algumas passistas desistiram de desfilar, com medo de possíveis novos acidentes, mas a X-9 insistiu para que tudo seguisse conforme o planejado. De qualquer forma, esse já foi o terceiro problema enfrentado pela escola: o carro de abre-alas teve problemas com o eixo da roda e outro carro na concentração não conseguia ser colocado na Avenida, causando um buraco na passarela do samba.

Décima primeira colocada no último Carnaval, a escola tem pelo segundo ano o seu trabalho desenvolvido pelo carnavalesco André Machado, e pode ter a pontuação seriamente prejudicada pelas dificuldades técnicas enfrentadas logo no começo do desfile.

No resto do desfile, entretanto, predominou a beleza ao representar a cultura indígena e as origens lendárias da fruta do açaí. Cantando as culturas indígena, riberirinha, a era do ciclo da borracha e todo o processo que envolveu a transformação do açaí até que ele se tornasse o alimento que conhecemos hoje.  Foi tocada pelas alegorias até uma das formas mais tradicionais de usufruir do açaí, com camarão.

Na bateria, a cultura indígena esteve mais uma vez representada. Na sequência, a X-9 mostrou a importância da fruta, considerada sagrada em alguns lugares, incluindo o consumo da gruta nos Estados Unidos, representado na ala “Açaí nas Terras do Tio Sam”. Por fim, a agremiação homenageou Belém, homenageando os 400 anos da capital paraense.

“Açaí Guardiã! Do amor de Iaçá ao esplendor de Belém do Pará”

Ouvi contar…

De uma velha índia tupinambá,

A história de um fruto que chora

Lá pelas bandas do Pará!

Lugar de rara beleza,

Obra prima da natureza,

De toda sorte de fauna e de flora.

Tudo que será revelado agora

É o oposto do que foi outrora,

Pois a fome e a seca dominavam a mata,

A floresta se encontrava fraca,

Esperanças os índios já não tinham

E por vertigens caiam

Até que longe da fé, o cacique Itaki ordenou:

Que sacrifiquem os curumins

Privando-lhes da vida

Para garantir o sustento da nossa tribo faminta

Cortem o mal pela raiz!

Para salvá-los da sina infeliz

De não ter o que manducar.

Mas antes de Itakise arrepender,

O destino traiçoeiro

Pôs à prova seu amor verdadeiro.

A bela Iaçá, sua filha, embuchou

E triste ela ficou e chorou

Ao tomarem sua filha dos braços,

Deixando seu coração em pedaços

Ao ver sua cria partir.

Iaçá definhou de desgosto

E de amargura continuou chorando,

Pediu a tupã um acalanto

Para amenizar a dor.

Foi então, sob a luz cintilante da lua cheia

Que uma brisa trouxe um ruído que pareia

Com a voz da curuminha que se foi.

A saudade era tanta que cegou Iaçá

E a fez acreditar

Na miragem que vinha de uma planta,

Formosa espécie de palmeira

Que da filha de Iaçá ganhou forma inteira,

Imagem que chorando pedia

O colo da mãe bondosa

Cuja desilusão penosa, a fez padecer

E abraçada a palmeira, morrer

Num ato extremo de amor.

Suas lágrimas que ao solo fecundou

Fizeram brotar novos frutos

De um roxo vivo, de um absoluto matiz

Comida de aves e jabutis

Que da tribo a fome matou.

Foi então, que o morubixaba imperfeito,

Redimindo-se do feito

Resolveu homenagear Iaçá,

Dando seu nome invertido

Ao fruto agora querido, o Açaí

Que por ironia do destino nasceu chorando

No entanto, fez toda tribo sorrir!

Mas essa história não para por aqui,

Muita coisa hei de contar!

Bem mais que opção

Esse fruto correu chão

Tornou-se a esperança do lugar.

E forte, foi de extrema importância

Para o povo do Norte se alimentar.

E por lá, iniciou-se um legado

Aos pés do Fortim do Presépio fez seu lar,

Onde Guaimiaba foi resistência

Da essência tupinambá.

Na Feliz Lusitânia foi apreciado,

Alastrou-se na província do Grão-Pará,

Sendo o cardápio na mesa dos senhores,

O desejo nas tigelas dos negros escravos,

Disseminado no movimento da cabanagem

Como o sustento espremido nos alguidares.

E dessa época, ribeirinhos trouxeram a peconha

Para subirem nos pés, cheios de artimanhas,

Ignorando qualquer altura

Para garantir a fartura

Na mesa de todas as manhãs.

Até hoje, na doca, os barcos ancoram-se abarrotados,

Emoldurados pela baia do Guajará,

Onde trabalhadores madrugam ansiosos

Na espera da colheita aportar.

E o Mercado do Ver-O-Peso se mostra ideal,

Aquarela de tipos humanos, cartão postal,

Que traz a primazia do açaí estampada nos rostos,

Pois nem a manga e a castanha assumem o seu posto,

Ou o arroz com feijão consegue ser tão popular.

Acompanhado de peixes, tapioca e camarão

O açaí virou prato de todas as classes então,

Igual ao tucupi e o tacacá!

Doce ou salgado, quente ou gelado, tanto faz!

Nunca ouve impasse capaz

De confundir o seu paladar!

E para quem custa acreditar,

Pergunte ao povo da mata por favor,

Caboclos do culto Mina nagô,

O quanto o açaizeiro é sagrado

De um axé puro, legitimado

Onde tudo dele se aproveita

Tal como o fruto que o enfeita,

De sua touceira ainda se extrai um palmito,

Suculento, assim descrito

Fácil de encontrar.

E suas raízes que o firma no chão

São por ocasião, um chá poderoso,

Que pode não ser gostoso

Mas de certas dores faz se livrar.

Muito mais que cultuado,

Suas folhas dão charme aos telhados

Para que de dentro das casas se veja o luar.

Artesanatos são feitos com gosto também,

Usados como convém para tudo adornar,

Bem como os paneiros nos ombros ligeiros,

Que chegam empilhados por todos os lados,

Trançados inteiros para o peso aguentar.

E o que dizer da sua polpa?

Alimento saboroso que promove a saúde,

Bebida energética de atitude,

Parceira do guaraná.

Com banana, morango e granola

Das academias à orla, todo mundo quer provar!

Fruto que retarda o envelhecimento

Cujo o óleo age de fora para dentro

Causando bem-estar!

E assim, o açaí conquistou identidade

Virou produto exportação de qualidade

Ganhou o mundo, até no Japão foi parar,

Virou super fruta no oriente,

Dieta bacana no Tio Sam de repente,

Levando consigo a essência da mais bela cidade,

Que hoje comemora quatrocentos anos idade,

Mostrando seus encantos de forma singular!

Lugar de gente bonita de sangue cabano,

Que expressa sua fé no círio de Nazaré,

Sua morenice marajoara no carimbó, lundu e siriá.

Colorido mosaico de talentosos artistas

De Gabi Amarantos à Fafá …

Terra que abraça e acolhe,

Grande portal da Amazônia

A nossa Belém do Pará!

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