Em 40 anos, a “Playboy” Brasil só teve 9 capas com mulheres negras

  • Por Daniel Keny/Jovem Pan
  • 20/11/2015 13h00

Ivi Pizzott Montagem Playboy

Após 40 anos como referência em conteúdo para o público adulto masculino, a “Playboy” sairá de cena. A editora Abril anunciou nesta quinta-feira (19) o fim da versão brasileira da publicação.

A musa da capa de dezembro, a última, ainda não foi escolhida. Mas das 486 edições que foram às bancas, apenas nove estamparam uma mulher negra na capa. No Dia da Consciência Negra, fica a reflexão: em um país onde 51% da população é negra, por que menos de dez edições da revista destacaram a beleza que podemos classificar como genuinamente brasileira?

Segundo Mauricio Pestana, Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo (SMPIR), o padrão estético estabelecido é preconceituoso. “As mulheres da TV e das revistas são brancas porque quem dirige estes veículos não tem o pensamento alinhado com a própria realidade em que vive. O Brasil é um país miscigenado, o maior país negro fora do continente africano. E tudo que fazemos é copiar um estereótipo de beleza branco, europeu”, afirma.

A hierarquia racial construída nos tempos coloniais elegeu a mulher branca como ideal de beleza e desprezou a mulher negra. A preferência do homem brasileiro por mulheres de pele clara teve influência direta no baixo número de capas com negras da “Playboy”, segundo Carlos Costa, coordenador do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e ex-editor da revista. “Havia um consenso de que a mulher negra na capa não chamaria tanta atenção. Em certa ocasião, colocamos uma modelo mulata e houve uma queda nas vendas em relação aos meses anteriores e aos subsequentes, o que reforça o preconceito racial no Brasil.”, diz.

A forma como a mídia sempre retratou o negro também acabou reforçando um estereótipo feminino que oprime não só a mulher negra, mas também aquelas que não são magras ou não têm o cabelo liso, por exemplo. “A publicidade vê o brasileiro com os gostos do europeu, logo a Playboy refletiu isso. Embora a mulata seja exaltada na música, as louras são as protagonistas das campanhas de beleza. É uma herança dolorosa do preconceito enraizado em nossa cultura”, reflete Costa.

“Essa é a maneira como a moda e a mídia têm tratado o negro. Felizmente, a publicidade vem desenvolvendo um novo olhar. Está longe de refletir a realidade, mas aos poucos as coisas estão mudando em relação ao estereótipo sobre o negro”, diz o secretário da SMPIR.

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