Crise interna, trocas de treinadores e saída de ídolos: o turbulento ano de 2015 no São Paulo

  • Por Jovem Pan
  • 16/12/2015 12h40
SÃO PAULO,SP,28.11.2015:SÃO-PAULO-FIGUEIRENSE - jogador Luis Fabiano do São Paulo comemora gol durante a partida entre São Paulo SP e Figueirense SC válida pela Série A do Campeonato Brasileiro 2015 no Estádio Morumbi em São Paulo (SP), neste sábado (28). (Foto: Leonardo Benassatto/Futura Press/Folhapress) Folhapress Mesmo em crise e com diversos problemas

Quatro treinadores, dois presidentes, crise política, derrotas doloridas diante de rivais, eliminações traumáticas, o adeus ao ídolo e nenhum título: o ano de 2015 não será lembrado com carinho para o torcedor do São Paulo, apesar da classificação para a taça Libertadores.

A expectativa positiva para o ano após bom Brasileirão em 2015, sob o comando da Kaká, não se confirmou, o São Paulo viveu altos e baixos e sofreu com momentos traumáticos.

“O ano já começou todo atrapalhado, porque aqui mesmo na Jovem Pan o Aidar jogou uma baita pressão em cima do time dizendo que era obrigação do Muricy conquistar título. Colocou uma carga grande. O Muricy não gostou, rebateu, e ali começava a estremecer a relação e ficou na cara que seria um ano difícil”, comentou o repórter da rádio Jovem Pan, Marcio Spimpolo.

Logo no início da temporada, o time demorou para se encaixar, os maus resultados pressionaram a equipe que viu o técnico Muricy Ramalho sofrer com problemas de saúde. O sonho de fazer uma boa campanha na Libertadores foi quebrada logo na primeira rodada do torneio, quando o time do Morumbi encarou o Corinthians e perdeu por 2 a 0 numa vitória maiúscula do alvinegro.

Após derrota por 3 a 0 para o Botafogo-SP, o treinador não aguentou e deixou o comando da equipe para cuidar da saúde.

Comandado por Milton Cruz, o tricolor ganhou sobrevida na Libertadores, chegou a vencer o Corinthians na última rodada da fase de grupos, mas não teve vida longa na competição. Nas oitavas de final do torneio sul-americano, eliminação diante do Cruzeiro, nos pênaltis.

Órfão, o time viveu uma verdadeira novela antes de contratar um novo treinador. Nomes como o argentino Alejandro Sabella, Vanderlei Luxemburgo, o português José Peseiro e Cuca foram cogitados no clube, mas quem chegou foi Juan Carlos Osorio, que estava no Nacional, de Medelín.

O colombiano chegou com status de estrela e se tornou a esperança de revolução para uma equipe dita como apática. Adepto do rodizio de jogadores e de esquemas táticos ofensivos, o treinador sofreu críticas por não repetir a equipe e por expor a defesa. Ainda assim, Osorio colaborou para o crescimento de Alexandre Pato e trabalhou bem com jogadores da base do clube.

No meio da temporada, porém, a crise financeira pesou e a direção são-paulina negociou jogadores importantes como os volantes Souza, Rodrigo Caio (que acabou retornando ao time) e Denílson, iniciaram-se, então, os conflitos de Osorio com Carlos Miguel Aidar. O treinador criticou publicamente a direção que também alfinetou o comandante e cobrou melhores resultados.

Crise política, troca de treinadores e uma goleada histórica

Dentro do clube, o clima não era bom e os desentendimentos nos bastidores prejudicaram a equipe dentro de campo. O auge da crise interna aconteceu no início de outubro, quando, em reunião da diretoria, Ataíde Gil Guerreiro discutiu com Aidar e agrediu o presidente. Ataíde deixou o clube e no dia seguinte foi a vez de Osorio abandonar o barco para assumir a seleção mexicana.

Para o lugar do colombiano, Aidar contratou Doriva, que deixou a Ponte Preta e assumiu o tricolor. A vida do ex-volante no Morumbi não seria longa e após sete jogos (duas vitórias, um empate e quatro derrotas), o treinador foi demitido.

Enquanto o time vivia problemas dentro de campo com Doriva, a crise nos bastidores parecia não ter fim. Em 13 de outubro, o presidente Carlos Miguel Aidar não resistiu a pressão no clube após denúncias de Ataíde Gil Guerreiro que acusou o cartola de levar dinheiro em negociações de jogadores, e renunciou ao cargo, deixando o clube nas mãos do presidente do Conselho Deliberativo, Leco, que seria eleito presidente do São Paulo dias mais tarde.

“O São Paulo foi uma bandalheira por causa de problemas políticos que afetaram dentro de campo. Como cobrar alguma coisa dos jogadores? Chegou até longe na Copa do Brasil, no Brasileiro ninguém esperava chegar aonde chegou. Terminar o ano com a vaga foi um baita lucro”, destacou Spimpolo que completou.

“Nunca na história o São Paulo passou por isso. As crises internas ficavam dentro do clube. De uma hora pra outra, o clube virou uma várzea. Isso atrapalhou o clube que não soube administrar essa situação”, afirmou.

Já sob o comando de Leco e com Milton Cruz como técnico, veio o clássico diante do Corinthians. Uma derrota histórica marcou o ano tricolor: 6 a 1 diante do rival na Arena Corinthians.

Tudo poderia ser pior, mas a proximidade com o G4 ao longo da maior parte do campeonato, e os tropeços do Santos na reta final do Brasileiro possibilitaram que o time do Morumbi chegasse a última rodada do campeonato com chances reais de garantir vaga na Libertadores. Ao vencer o Goiás no jogo derradeiro, o time assegurou a passagem para competição sul-americana.

Péssimo desempenho nos clássicos

Se o ano são-paulino fosse analisado apenas observando o desempenho nos clássicos contra Corinthians, Santos e Palmeiras, certamente os torcedores gostariam de apagar 2015 da memória.

Em 14 clássicos no ano, somando Paulista, Copa do Brasil, Libertadores e Brasileiro, o time venceu apenas dois jogos, empatou três e perdeu nove vezes – aproveitamento de pouco mais de 21%.

Saída de referências e as perspectivas para 2016

O final de 2015 marcou a saída de importantes nomes do time do São Paulo que se despediram da equipe gerando preocupação em seus torcedores.

Rogério Ceni se aposentou com grande festa, mas deixa grande lacuna na liderança do time. Luis Fabiano não renovou contrato, deixou a equipe assim como Alexandre Pato que tem contrato com o Corinthians, mas pode ser negociado com o futebol europeu.

“Acho que o São Paulo perde um grande líder, posicionava o time atrás, dava a cara a tapa. O São Paulo vai sofrer, perde a grande referência. Luis Fabiano o São Paulo perdeu o jogador no meio do ano quando o Aidar disse que ele não ficaria. Ali perdeu o jogador e o líder, jogador experiente que poderia ajudar os mais jovens”, analisou o repórter.

“O São Paulo contava com um plano de marketing para comprar o Pato, mas com esses escândalos políticos e financeiros, quem arriscaria dinheiro pra contratar o Pato? A chance que era pequena, ficou extinta. Sabendo que não ficaria, ele tirou o pé”, completou.

Spimpolo ainda fez previsões para o ano de 2016, quando tricolor terá a missão de se reerguer, mesmo com problemas financeiros e sem jogadores importantes.

“O São Paulo precisa de uma grande limpeza de pessoas e de mentalidade. Começar do zero pra tentar algo diferente. Não vejo 2016 como um bom ano em títulos. O time não entra em condições de entrar em 2016 com condições de brigar com as principais forças do Brasil. Mas tijolo a tijolo, pode começar a fazer um trabalho pensando em 2017”, afirmou.

Ano termina com um treinador novo

Para aliviar a tensão do torcedor tricolor que se preocupa com a próxima temporada, a direção são-paulino trabalhou e anunciou um novo treinador. Trata-se do argentino Edgardo Bauza, que estava no San Lorenzo, onde foi campeão da Libertadores em 2014.

Além de vencer o torneio continental com o San Lorenzo, “El Paton” era o treinador da LDU, do Equador, que foi campeã em 2007 em final contra o Fluminense. Bauza tem 57 anos e conquistou também a Recopa Sul-Americana de 2010 e o Campeonato Equatoriano de 2007 e 2010, entre outros títulos.

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