Especialista da UEFA analisa adversários do Brasil na Copa 2014

  • Por Jovem Pan/Bruno Vicari
  • 03/02/2014 15h54
PEQUIM, CHINA, 15.10.2013: AMISTOSO/BRASIL X ZÂMBIA - Neymar durante a partida. Jogo amistoso entre Brasil e China no estádio Ninho do Pássaro, em Pequim. (Foto: Vincent Wei/Brazil Photo Press/Folhapress) Folhapress Neymar se movimentou bem no amistoso da Seleção Brasileira diante da Zâmbia

Por ser o maior campeão da história do torneio e dono da casa, o Brasil é o grande favorito para levar a Copa do Mundo de 2014. Apesar disso, grandes adversários tentarão evitar o hexa do time “canarinho”. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, Clwyd Jones, professor em economia e esporte da associação de técnicos da Europa e treinador com licença nível A da UEFA, vê a equipe de Felipão como o “time a ser batido”, analisa as principais seleções europeias e ainda aponta Cristiano Ronaldo em melhor momento do que Lionel Messi.

Questionado sobre o “caminho para o hexa” do time de Felipão, Jones expôs sua opinião. “É preciso aquilo que o Brasil sempre faz: jogar melhor que os outros, marcar mais gols e ser forte na defesa. Assim se tornou o maior vencedor das Copas. Porém, o Brasil tem algumas sobras, como as bolas paradas. É preciso trabalhar isso no ataque e também na defesa. De 1982 pra cá, o Brasil foi sempre eliminado por gols sofridos em jogadas ensaiadas de bola parada de seus adversários. Talvez por falha de organização ou mesmo falha de concentração. Por outro lado, sempre que o Brasil ganhou uma Copa, contou com essa arma em momentos decisivos, como foi com Branco, contra a Holanda, em 1994, e Ronaldinho, contra Inglaterra, em 2002. O Brasil precisa encontrar alguém pra fazer isso agora e assim vencer o Mundial”, afirmou.

Neymar, David Luiz e Daniel Alves são os principais cobradores de lances de bola parada da equipe de Felipão. Jones aponta o atacante do Barcelona como o diferencial para a conquista do hexa. “Eles [os três cobradores] são capazes [de decidir um jogo], mas Zico também era em 1982. Os jogadores que o Brasil teve no passado, também eram capazes, mas alguns não conseguiram. Neymar já marcou gols de falta em momentos cruciais e isso ajudou a equipe. Ele tem a confiança do time. Isso vai ser crucial. É preciso ter alguém que quebre o gelo. Nesses jogos decisivos de Copa, 96% dos times que sofrem o primeiro gol, não vencem o jogo. Algumas vezes você precisa de alguém que recoloque o time no jogo. Neymar é a chave. É possível que o Brasil enfrente algum time que encontre uma maneira de parar o Neymar durante o jogo. Mas, se ele conseguir trabalhar essa bola parada, eu acho que vocês vencerão”, analisou o inglês.

O especialista vê o clima como um fator muito importante no desempenho das equipes no torneio. “Historicamente nenhum europeu vai bem na América. No México, os sul-amnericanos foram bem e será o mesmo aqui. Brasil e Argentina são os mais fortes”, disse o britânico, que admitiu que a equipe de Felipão é “o time a ser batido”.

Experiente na análise do futebol europeu, Jones opinou sobre o recorrente duelo entre as maiores estrelas do futebol mundial no momento. “Provavelmente eu escolheria o Cristiano Ronaldo. Ele joga em qualquer lugar, se encaixa em qualquer sistema. Tem habilidade, jogo aéreo, é forte, tem velocidade, pode jogar como único atacante, é bom cobrador de faltas e pensa rápido nos contra-ataques. Penso que ele se encaixa melhor do que Messi em diferentes esquemas”, opinou.

Confira a análise de Jones sobre outras seleções europeias na entrevista ao repórter JP Bruno Vicari:

JP: No momento, a Espanha vive um período de declínio?

Jones: Não acho que seja um declínio. Qualquer time perde a energia natural de continuar evoluindo. É um cliclo natural. Quando um time atinge o pico, psicologicamente ele tem certeza que não tem mais pra onde ir, sabe que é o melhor e é difícil manter a motivação. Ao mesmo tempo os adversários têm mais informações sobre ele, sabem como enfrentar taticamente, no caso, Barcelona ou a Espanha. Ela precisa ter novas estratégias de defesa. São mesmo muitos fatores, contra a Espanha. Ela nunca ganhou um torneio, ou sequer um jogo oficial na América do Sul. Como quase todos os europeus, os espanhóis não são competitivos jogando neste continente. Não acho que ela seja o maior desafio do Brasil. O maior perigo virá de outro lugar. 

JP: A Alemanha tem praticamente a mesma base desde 2006 e desde então está em evolução. Chegou a hora dela brigar pelo título?

Jones: Concordo que ela está entre os times mais fortes. Tradicionalmente é organizada, tem grandes jogadores, têm tudo o que os grandes times normalmente têm. Porém, o problema desse time da Alemanha é que ele não é forte na jogada aérea, o que sempre foi uma arma dos times campeões da Alemanha. Eles sempre marcaram gols cruciais de cabeça. E esse time não tem isso. Eles tem um futebol dinâmico, atraente, mas às vezes você precisa de outras armas pra sobreviver em jogos tão equilibrados. Se você olhar o time do Brasil, ele tem isso. Então, esse time da Alemanha evoluiu muito, mas perdeu esse força aérea. 

JP: Durante a Copa das Confederações, o técnico Cesare Prandelli disse que a Itália deveria aprender a ser mais ofensiva. Você enxerga essa mudança no futebol italiano?

Jones: Não vejo isso. A Itália quer sempre ganhar. Ela não vai ser ofensiva. Vai jogar para ganhar, seja lá como for. Como eu falava antes, ela saber ser assimétrica. Sabe aproveitar escanteios, amarrar o jogo, marcar gols cruciais de diferentes maneiras. E provavelmente também será assim nessa Copa. A Itália talvez não seja melhor que os outros times, mas sabe como vencê-los. Só não espere ela ofensiva, porque ela não será. 

JP: O que esperar da última chance dessa geração de Lampard e Gerrard na Inglaterra?

Jones: Existiu uma expectativa em cima dessa geração, mas eu ainda acho que a seleção inglesa tem bons jogadores. O problema é administrar esse time e fazer com o que os jogadores tenham confiança e saibam atacar. Temos os jogadores, mas não temos um comandante. Se a Inglaterra tivesse um treinador para passar essa mensagem, criar essa atitude nos jogadores, ela jogaria melhor e teria melhores resultados. Mas não temos isso na comissão técnica nem na federação. Desde o sorteio dos grupos, as desculpas já estão prontas: “o clima é ruim, os adversários são duros”. A Inglaterra merecia um comando que dissesse: “ok. Confiamos no nosso time e vamos bater nossos adversários”.

 

 

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