Economista rebate Andrés, exalta Palmeiras e Flamengo e vê Corinthians ‘deteriorando a sua condição de competidor’

  • Por Jovem Pan
  • 17/07/2019 18h22 - Atualizado em 17/07/2019 19h03
Montagem sobre fotos/Reprodução/Divulgação Andrés Sanchez (à esq.) é o presidente do Corinthians; Cesar Grafietti (dir.), economista

“Vamos esperar dois anos para ver. A conta chega”.

Dentre as inúmeras declarações polêmicas proferidas por Andrés Sanchez em entrevista exclusiva ao Fox Sports, na última segunda-feira, uma delas se destacou. Ao sugerir que Palmeiras e Flamengo – atualmente os dois clubes mais ricos do Brasil – sofrerão uma queda nas próximas temporadas, o presidente do Corinthians provocou enorme controvérsia.

Teria ele razão no que disse a respeito dos rivais?

Em entrevista exclusiva ao repórter André Ranieri, da Rádio Jovem Pan, Cesar Grafietti respondeu. Executivo do Itaú BBA e responsável por desenvolver estudos sobre a situação financeira dos 27 maiores clubes do Brasil, o economista rebateu a tese de Andrés e exaltou os modelos de gestão de Palmeiras e Flamengo. Além disso, dissecou a realidade corintiana e disse que o clube alvinegro comete erros que “têm deteriorado a sua condição de competidor”.

Palmeiras: arrumou a casa e cresceu com boas práticas

Grafietti explicou de maneira resumida o que tornou o Palmeiras tão rico e forte esportivamente nos últimos anos – foram dois títulos brasileiros e um da Copa do Brasil desde 2015.

“O Palmeiras fez um trabalho de reestruturação grande desde 2013”, destacou o economista. “O Paulo Nobre assumiu, aportou um recurso para colocar a casa em ordem e reestruturou a gestão. O Palmeiras tem, desde então, uma estrutura de gestão muito profissional. Ainda houve, em 2014, a inauguração do Allianz Parque, que fez com o que o Palmeiras passasse a arrecadar muito com bilheteria. O crescimento é explicado pelo bom volume de receitas de bilheteria; boa receita de TV; e patrocinador forte”, complementou.

Flamengo: a austeridade compensa

Cesar Grafietti exaltou, também, o modelo de gestão do Flamengo. Muita gente se pergunta de onde vem o dinheiro do clube rubro-negro, que tem empilhado reforços milionários nos últimos anos, mas o economista tratou de explicar.

“É um modelo sustentável, sim”, definiu. “É bom lembrar que, desde 2012, 2013, o Flamengo passou por um processo de reestruturação muito forte. Reduziu custos de forma muito importante, passou por alguns maus bocados dentro de campo, mas, hoje, tem bastante transparência, bastante governança e conseguiu atrair um bom volume de receitas. Tem uma certa predominância das receitas de TV, que representam 40% do total, mas, ainda assim, há um volume grande de publicidade, de receitas de bilheteria, de sócios-torcedores e de vendas de atletas formados na base”, acrescentou.

“O Flamengo é um clube que tem controle, gasta tudo dentro da sua realidade e possui receitas elevadas e recorrentes. Então, o clube, hoje, consegue fazer esses investimentos sem que eles se transformem num problema a longo prazo. O Gerson, por exemplo, foi vendido pela Roma ao Flamengo por um valor parcelado em cinco anos. Que clube brasileiro consegue ter, hoje, um parcelamento de cinco anos com o respaldo e aceitação desse risco por parte de um clube europeu? Praticamente só Palmeiras e Flamengo”, complementou.

E o Corinthians?

O Timão vai na contramão de Palmeiras e Flamengo. Apesar de contar com a segunda maior torcida do Brasil e ter conquistado títulos relevantes nos últimos anos, o clube alvinegro pena para se manter saudável financeiramente. O problema, segundo Grafietti, pode ser explicado por duas fontes de receitas que, hoje, são mal trabalhadas: bilheteria e patrocínio.

“O modelo de negócio em relação ao estádio por parte de Corinthians e Palmeiras é bem diferente. O Palmeiras não teve nenhum tipo de gasto, o investimento foi feito por um terceiro, e o clube só se aproveita do uso do estádio e da bilheteria que ele gera. Já o Corinthians é de certa forma responsável pelo pagamento da dívida e da operação do estádio. Nesse período de vida da Arena Corinthians, nós observamos que o clube foi de certa forma obrigado a abrir mão das suas receitas de bilheteria para pagar as dívidas contraídas na construção do estádio. Só nesse uso, o clube já perde de R$ 50 a 60 milhões por ano de receitas que poderiam estar dentro da estrutura do futebol”, analisou.

“Além disso, há uma diferença que afeta o Corinthians que é a questão do patrocínio. No ano passado, foram aproximadamente R$ 40 milhões de receitas de patrocínio por parte de um clube que tem a segunda maior torcida do País e a maior torcida do estado mais rico do País. Enquanto o Palmeiras tem perto de R$ 100 milhões e o Flamengo, R$ 90 milhões, o Corinthians está muito atrás. Não está conseguindo vender a marca Corinthians e fazer a marca Corinthians rentabilizar aquilo que ela tem de valor efetivo. Falta vender melhor a marca”, argumentou.

A saída tem sido negociar jogadores. E isso, de acordo com o economista, não é nada bom. “O Corinthians ainda patina, depende demais da venda de atletas. Em um ano em que não conseguir vender atletas do tamanho da sua necessidade, pode ter problemas. Pode tomar muito mais dívida do que o ideal, ter atraso de salários, de direitos de imagem… Todo modelo em que você depende demais da venda de atletas para fechar as contas são modelos ruins”, explicou.

Mas afinal: Palmeiras e Flamengo vão continuar dominantes?

Grafietti respondeu: “é bem possível que isso aconteça desde que os outros não acordem para esse cenário. E esse cenário que a gente observa, com Palmeiras e Flamengo se destacando, não é de hoje. É um processo de reestruturação que leva pelo menos cinco anos para acontecer. Hoje, Palmeiras e Flamengo estão apenas colhendo o que plantaram lá atrás. Se os clubes não acordarem e não tiverem uma gestão mais profissional, os dois clubes que estão na ponta hoje vão continuar se destacando. E isso deve permanecer por no mínimo mais dois ou três anos, justamente porque os outros ainda estão bem atrás”, finalizou.

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