Transferência de CR7 subverte lógica e “desloca” eixo do futebol

  • Por Bruno Landi/Jovem Pan
  • 10/07/2018 12h45 - Atualizado em 10/07/2018 17h55
EFE Cristiano Ronaldo fechou com a Juventus nesta terça-feira

Subversiva. Assim pode ser definida a transferência de Cristiano Ronaldo à Juventus. Não apenas por se tratar da mudança de clube do melhor jogador do mundo em quatro dos últimos cinco anos, mas, principalmente, por inverter a lógica recente do futebol europeu. Vendedora e em baixa desde o início da década, a Itália promete, agora, recolocar-se no foco do mundo da bola.

A última grande conquista de um clube italiano em âmbito continental aconteceu em 2010, com a Inter de Milão campeã europeia e do planeta sob as batutas de Júlio Cesar, Sneijder e Milito. Desde então, o que se viu foi um “quase-desaparecimento” dos times da “Velha Bota” nas grandes competições europeias. As únicas exceções foram a Roma, semifinalista da Champions na última temporada, e a Juventus, vice-campeã continental em dois dos últimos quatro anos.

A transferência de Cristiano Ronaldo fortalece ainda mais a atual heptacampeã nacional, é verdade, mas carrega consigo um significado muito maior do que questões relacionadas a campo e bola. A contratação do jogador mais premiado e midiático do momento, no auge de sua forma, é uma demonstração de força do futebol italiano. Uma mensagem emblemática de um país que reunia os principais craques do mundo há 30 anos, mas que se enfraqueceu consideravelmente e sequer disputou a última Copa.

Ter Cristiano Ronaldo é ter um atleta capaz de atrair os olhares de torcedores de todo o mundo e, por que não, outros craques para a disputa de um campeonato que, em algumas décadas, deixou o topo do planeta para dar lugar às ligas de Inglaterra, Espanha, Alemanha e até França. É ter não só um goleador implacável, mas também uma máquina de movimentar dinheiro. É ter, sobretudo, o que de melhor se pode ter no futebol atual.

Lógica subvertida

Na última década, jogadores que quisessem brigar por títulos continentais e premiações individuais não cogitavam permanecer na Itália. O caminho natural era claro: destacar-se por um clube da “Velha Bota” e angariar uma transferência a outro país. Foi assim com Mohamed Salah (craque da Roma contratado pelo Liverpool), Mateo Kovačić (ex-Inter e atualmente no Real Madrid), Alexis Sánchez (destaque na Udinese vendido ao Barcelona), Edinson Cavani (contratado pelo PSG junto ao Napoli) e muitos outros.

A única exceção era a Juventus, clube capaz de agir como um “predador” no mercado interno, como nas contratações de Higuáin (ex-Napoli), Pjanic (ex-Roma), De Sciglio (ex-Milan) e Bernardeschi (ex-Fiorentina), ou até mesmo de se reforçar com atletas importantes de outras ligas, como nos casos de Douglas Costa (ex-Bayern de Munique), Matuidi (ex-PSG), Daniel Alves (ex-Barcelona), Mandžukić (ex-Atlético de Madrid) e Benatia (ex-Bayern de Munique).

A contratação de Cristiano Ronaldo é um passo adiante. Além de movimentar mais de 100 milhões de euros, maior quantia já desembolsada por um clube italiano na história, ela traz de volta para o país tetracampeão mundial uma “marca”, um jogador que não é apenas um jogador. O último com esse perfil talvez tenha sido Kaká. E o detalhe: quando voltou ao Milan, em 2013, o brasileiro já estava longe do seu auge – ao contrário de Cristiano Ronaldo, artilheiro e campeão das últimas três edições da Champions.

Os números provam como a transferência de Cristiano Ronaldo é um ponto fora da curva na lógica recente do futebol. Das 40 negociações mais caras da história, apenas quatro tiveram como compradores um clube italiano: Vieri (1999), Crespo (2000), Buffon (2001) e Higuaín (2016). E o detalhe: todas elas foram transferências internas, ou seja, entre equipes do mesmo país. Conclusão: a Itália não conseguia competir e tirar craques de outras ligas.

O inverso, por sua vez, nunca deixou de acontecer. Dessas mesmas 40 negociações, cinco representaram a saída de um jogador do futebol italiano para outro país: Pogba (da Juventus para o Manchester United), Zidane (da Juventus para o Real Madrid), Ibrahimovic (da Inter para o Barcelona), Kaká (do Milan para o Real Madrid) e Cavani (do Napoli para o PSG).

A transferência de Cristiano, definitivamente, desloca o “eixo” do futebol. O mundo que pendia para Inglaterra, Espanha e até Alemanha e França agora terá de voltar os seus olhos também para a Itália. Como Zico, Maradona, Platini, Ronaldo, Zidane, Van Basten, Gullit, Rijkaard, Matthäus e Weah conseguiram fazer entre as décadas de 1980 e 1990.

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