Genial e revolucionário, Johan Cruyff não resiste a câncer e morre aos 68 anos

  • Por Jovem Pan
  • 24/03/2016 09h49
Facebook/Reprodução Johan Cruyff - Barcelona

O futebol perdeu uma de suas figuras mais lendárias. Genial e revolucionário, Johan Cruyff, ídolo de Ajax, Barcelona e ícone da histórica seleção holandesa da década de 1970, não resistiu a um câncer no pulmão e morreu nesta quinta-feira, em Barcelona, aos 68 anos de idade. 

A informação foi confirmada pelo site oficial do ex-jogador, que publicou um comunicado. Em 24 de março, Johan Cruyff morreu pacificamente em Barcelona, rodeado por sua família, após um dura batalha contra o câncer. É com grande tristeza que pedimos respeito à privacidade da família durante seu período de luto”, diz a nota.

ex-meio-campista foi diagnosticado com um câncer no pulmão em outubro do ano passado. Desde então, passou a travar uma incessante batalha contra a doença, que foi ocasionada por um vício. Cruyff consumia quase 20 cigarros por dia. Até mesmo no vestiário, durante o intervalo de um jogo, ele já fumou. Pouco depois de vencer o vício, em 1991, o craque disse que tal prática quase lhe havia tirado tudo o que tinha conquistado no futebol. 

No mês passado, o holandês afirmou que vencia o câncer por 2 a 0 e elogiou o trabalho dos médicos envolvidos em seu tratamento. Nesta quinta-feira, porém, ele não resistiu.

E isso torna o dia 24 de março de 2016 um dos mais tristes da história do futebol.

Foi durante ele, afinal, que o esporte mais popular do planeta perdeu um de seus maiores gênios.

Nascido em Amsterdã em 25 de abril de 1947, Johan Cruyff se notabilizou por revolucionar o futebol praticado entre as décadas de 1960 e 1980. O holandês foi, sem dúvidas, um dos jogadores mais inteligentes de todos tempos. Jogava como centroavante, meia, volante, lateral e até como zagueiro. Tudo dependia do que a partida demandava. O auge da sua carreira aconteceu nos anos 70, mais precisamente em 1974. Foi na Copa do Mundo daquele ano, disputada na Alemanha, que o planeta testemunhou o ápice uma das seleções mais encantadoras de todos os tempos. 

Com um estilo único, baseado na incessante troca de posições, marcação pressão e passes rápidos, a Holanda deu espetáculo no Mundial e só não foi campeã porque do outro lado da final havia uma Alemanha extremamente eficiente, jogando em casa e com lendas como Franz Beckenbauer, Gerd Müller e Sepp Maier. Quatro anos mais tarde, a seleção laranja voltaria ser vice-campeã do mundo, na Argentina, mas sem a presença de Cruyff, que não aceitaria disputar a competição por discordar da ditadura que tomava conta do país.

Mesmo assim, a Holanda da metade final da década de 1970 cavou o seu espaço na história e, até hoje, é considerada, ao lado da Hungria de 1954 e do Brasil de 1982, a equipe mais espetacular da história das Copas a nunca ter sido campeã. Tudo por causa da revolução que provocou no futebol. Foi aquele time comandado por Rinus Michels, por exemplo, que usou pela primeira vez a linha do impedimento e desenvolveu a ideia de que os seus jogadores não deveriam ter posição fixa em campo. Não à toa, recebeu os apelidos de Carrossel Holandês e Laranja Mecânica.

Aquela era a seleção de Michels, NeeskensRensenbrink e Rep, mas, principalmente, de Cruyff.

O eterno camisa 14 nunca ergueu uma taça sequer com a camisa laranja, mas, em compensação, foi à forra em praticamente todos os clubes pelos quais jogou. Revelado pelo Ajax em 1964, permaneceu na equipe holandesa até 1973. Neste período, conquistou seis títulos nacionais, quatro Copas do país, o tricampeonato consecutivo da Liga dos Campeões da Europa, entre 1970 e 1973, e a Copa Intercontinental de 1972. Na década de 1980, ele ainda voltou ao Ajax para conquistar mais dois títulos holandeses. 

Neste meio tempo, de 1973 a 1978, Cruyff se transferiu ao Barcelona e também fez história. Apesar de ter conquistado somente um título espanhol, em 1973/74, e uma Copa do Rei da Espanha, em 1977/78, o holandês revolucionou a forma de jogar do time catalão. Isto ficou mais do que claro depois que o craque parou de jogar.  

Cruyff conseguiu a façanha de, como técnico, ser tão genial quanto era como jogador. O holandês, que encerrou a carreira dentro de campo em 1984, começou a trabalhar nos bancos de reservas dois anos mais tarde, no Ajax. Foi no Barcelona, porém, que se eternizou. Técnico do time blaugrana de 1988 a 1996, conquistou o tetracampeonato espanhol entre 1990 e 1994 e também faturou a Liga dos Campeões da Europa de 1992. Aquele espetacular time de Romário e Stoichkov, por exemplo, era comandado por Cruyff. O holandês só não foi campeão mundial em 1992 porque do outro lado havia o São Paulo de Raí e Telê Santana. 

Apesar disto, Cruyff é praticamente considerado a personificação do Barcelona – tanto que, em 2010, foi eleito o presidente de honra do clube. O legado que o craque deixou dentro de campo pode ser visto durante qualquer jogo da equipe que, hoje, encanta milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo. Ou até mesmo em qualquer partida do Bayern de Munique. Pep Guardiola, afinal, é um aprendiz de Cruyff e foi lançado por ele como jogador no início da década de 1990. O futebol que atualmente hipnotiza jovens, adultos e idosos nasceu com Johan Cruyff. O holandês morreu nesta quinta-feira, é verdade, mas sua obra não se acabará jamais.

Obrigado, gênio. E descanse em paz. O futebol há de conseguir viver sem você…

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