Base, empréstimos e imunidade na Série A: o caminho para a reconstrução da Chape

  • Por Bruno Landi/Jovem Pan
  • 29/11/2016 19h05

Chapecoense terá de lutar para se reconstruir depois de uma das maiores tragédias da história

Renato Padilha/Futura Press/Estadão Conteúdo Chapecoense terá de lutar para se reconstruir depois de uma das maiores tragédias da história

O dia 29 de novembro de 2016 deixou uma terrível marca na até aqui breve história da Associação Chapecoense de Futebol. Clube mais jovem da elite brasileira, a Chapecoense perdeu praticamente todo o elenco em um assombroso acidente aéreo, na última terça-feira, na Colômbia. Morreram 19 jogadores, 16 integrantes da comissão técnica e nove membros da diretoria, incluindo o técnico Caio Júnior e o presidente Sandro Pallaoro 

A partir de agora, a equipe alviverde, que tanto lutou para subir da quarta para a primeira divisão nacional, terá de travar uma verdadeira batalha para se reconstruir em meio a uma das maiores tragédias da história do esporte. O futuro ainda é incerto, é óbvio. Os maiores personagens do clube, afinal, estavam no avião que despencou no noroeste da Colômbia.

Basicamente, a Chapecoense só pode contar, hoje, com os oito jogadores e três dirigentes que não estavam na aeronave. São eles: Marcelo Boeck (goleiro), Nivaldo (goleiro), Demerson (zagueiro), Rafael Lima (zagueiro), Andrei (meia), Hyoran (meia), Martinuccio (meia), Neném (meia), Ivan Tozzo (vice-presidente financeiro e administrativo), Plínio David de Nês Filho (presidente do conselho deliberativo) e Gelson Dalla Costa (vice-presidente do conselho deliberativo).

O problema, no entanto, é que nem todos os atletas remanescentes serão aproveitados pela Chapecoense daqui para frente. O meia Hyoran, por exemplo, já havia acertado com o Palmeiras e não vai permanecer no clube catarinense para a próxima temporada. O goleiro Nivaldo, por sua vez, tem 43 anos e, ao que tudo indica, vai se aposentar em dezembro.

Assim, restam no máximo dez funcionários atuantes no departamento profissional do clube que vai jogar a Série A e, muito provavelmente, a Copa Libertadores da América em 2017. A única certeza que se tem é a de que um duro e desconfortável processo de reformulação vai ter de acontecer na agremiação, que, dentro de suas limitações, já provou ser um dos raros exemplos de boa gestão no futebol brasileiro.

Por si só, a Chapecoense não conseguirá se reerguer a curto prazo. Isto é quase certo. Portanto, a tendência é que a comunidade do futebol ajude o clube catarinense pelo menos pelos próximos anos. Algumas especulações já dão indícios das medidas que devem “oxigenar” a Chape até que o trauma seja amenizado e a instituição volte a caminhar com as próprias pernas.

Os principais clubes do Brasil, por exemplo, já se uniram e anunciaram que vão ceder atletas, sem nenhum custo, à Chapecoense para a temporada 2017. Outra medida que se discute é a de dar uma “imunidade” de ao menos três anos para a equipe catarinense na Série A do Campeonato Brasileiro – ela jogaria a elite nacional até 2019 sem nenhuma possibilidade de rebaixamento.

Ações parecidas foram feitas com o Torino, em 1949. O clube italiano, que liderava a liga nacional na temporada em que perdeu 18 jogadores em um desastre aéreo, foi compensado com cinco anos de permanência na primeira divisão e faturou o título italiano depois de um incrível exemplo de solidariedade dos outros times do país: todos fizeram como o Torino e entraram em campo apenas com jogadores juvenis nas quatro rodadas finais da competição nacional. 

A longo prazo, porém, a tragédia prejudicou intensamente o desempenho do Torino. O clube, que, até 1949, havia conquistado seis títulos italianos, perdeu a hegemonia até mesmo da cidade de Turim, foi rebaixado algumas vezes para a Série B e se transformou em um time mediano, com apenas um título italiano pós-acidente – faturado em 1976.

Ao contrário do Torino, na Itália, a Chapecoense nunca foi uma potência no Brasil. Mas, há pelo menos três anos, vinha se estabelecendo como um dos times mais regulares e promissores do País  como as boas colocações no Campeonato Brasileiro e a espetacular campanha na Copa Sul-Americana comprovam.

O desafio do clube catarinense, agora, será o de não deixar o ritmo cair a ponto de sofrer um perigoso afastamento do primeiro pelotão do futebol brasileiro. Contra uma possível sequência de rebaixamentos e uma duradoura crise emocional, a Chapecoense vai contar com a ajuda de terceiros, é verdade, mas também precisará tirar forças de onde, hoje, parece não ter: dela mesma.  

As categorias de base terão de ganhar atenção especial, e a torcida alviverde, que tanto se acostumou a empurrar o time na Arena Índio Condá, vai precisar dobrar esforços para abraçar o clube – como aconteceu, por exemplo, com o Brasil-RS, que perdeu dois jogadores e um preparador de goleiros em um acidente de ônibus e, em pouco tempo, deixou a Série D rumo à segunda divisão nacional. 

O futuro da Chapecoense ainda é nebuloso, isto é inegável. Mas, se algo de bom pode ser tirado de um dos maiores desastres dos últimos anos, é a motivação para honrar a história de cada um dos 71 mortos no acidente aéreo da última terça-feira. De onde quer que estejam, eles vibrarão pelo sucesso do simpático e competente clube catarinense. Disto, ninguém pode duvidar.

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