Arma do Palmeiras, Cucabol reacende polêmica da eficiência x jogo bonito

  • Por Amanda Garcia/Jovem Pan
  • 26/10/2016 17h09
César Greco/Agência Palmeiras Moisés e Cuca

A cena se repete: lateral para o Palmeiras – em qualquer ponto do campo de ataque – sai das mãos do meia Moisés. Ele toma o máximo de distância possível e manda para a área, com força e alto. Um bom arremesso já chegou a incríveis 32 metros de distância para dentro da zona de perigo. Lá, zagueiros e atacantes tentam aproveitar a oportunidade para balançar as redes (e, boa parte do tempo, conseguem). Pronto, formou-se o “Cucabol”.

Controverso e criticado, o método, indiscutivelmente, é eficaz. O pinga-pinga da bola dentro da grande área rendeu 5 gols ao Palmeiras no Campeonato Brasileiro e parece ser imparável, embora já manjado pelos adversários.

Contra o Sport, em partida dura, mais uma vez foi assim que os comandados de Cuca voltaram a liderar o placar. Tchê Tchê aproveitou bate-rebate e acertou chute no canto do goleiro Magrão.

Mas isso não significa que as equipes não tenham tentado frear o truque do Palmeiras. Foi o caso do Figueirense, que tentou parar a “assistência” de Moisés colocando um jogador postado à frente da cobrança, como uma barreira para falta. Na partida, o gol não saiu, mas mesmo com o obstáculo o jogador foi capaz de criar lances de perigo para o Verdão.

Que a arma é quase letal para o líder do campeonato brasileiro, não há discussão. Mas, afinal de contas, por que o “Cucabol” incomoda tanto?

Jogada de oportunismo

Do lado do Palmeiras, a jogada nada mais é do que uma arma eficaz para o clube. Os números comprovam isso. É mais uma questão de oportunidade e, claro, visão de Cuca, que conseguiu enxergar uma possibilidade de levar vantagem sobre os adversários no que seria uma simples reposição de bola para os demais times.

Não diferente de forçar uma falta na entrada da área para um bom batedor fazer o cruzamento, por exemplo – o próprio Palmeiras usou e abusou da jogada nos pés de Marcos Assunção no título da Copa do Brasil de 2012. Ou ainda apostar em lançamentos para a corrida de um atacante rápido. Ou acionar o atacante de referência para fazer o pivô e distribuir para os laterais.

O treinador alviverde, no entanto, sentiu a necessidade de se justificar e acabou irritado em coletiva de imprensa com a nomenclatura. “Primeiro as dimensões do campo diminuíram; segundo porque temos um bom batedor de arremesso lateral (Moisés); terceiro porque a gente tem bons componentes no jogo aéreo que encaixam bem a segunda bola”, disse.

Na ocasião, Cuca ainda pediu respeito de parte da imprensa pelo seu trabalho. Jogadores como Dudu, Leandro Pereira e o próprio Moisés também engrossaram o coro em defesa do comandante.

Irritações à parte, Moisés segue treinando incansavelmente as cobranças e se aperfeiçoando cada vez mais para criar chances para a equipe, com pequenas variações de movimentação de quem está na área, tudo em busca do gol.

Eficiência x Jogo bonito

Talvez o grande X da questão esteja na plasticidade da jogada. É verdade que um gol saído de uma bola lançada de um lateral não é o ideal em termos de “jogo bonito”. Moisés, afinal de contas, é um meia. Dar assistências é sua função primordial. Com os pés.

O “Cucabol” é visto, por seus críticos, como uma espécie de muleta. Quando a coisa aperta, tome bola na área para o aproveitamento dos zagueiros e atacantes fortes no jogo aéreo. Dessa forma, deficiências técnicas – e táticas – ficam mascaradas e são deixadas em segundo plano.

Por que não investir em triangulações? Trocas de passes rápidos? Jogadas – com os pés! – bem trabalhadas? O futebol da equipe do Palmeiras, embora extremamente regular, tem deixado a desejar. O time é bem montado, mas passa longe de fazer o olho brilhar como um Barcelona ou Manchester City.

A comparação é injusta? Talvez. Mas em uma época em que o futebol brasileiro tenta reconquistar o seu espaço mundialmente, é natural que a cobrança para um método que combine plasticidade e eficiência exista.

Não dá para uma Seleção Brasileira, por exemplo, viver de uma jogada de lateral alçada à área. E, se na Série A do campeonato nacional, a principal arma do líder é este tipo de lance, algo pode estar muito errado.

Mesmo assim, justiça seja feita: o alviverde apresentou bom futebol ao longo da competição e não está na primeira posição por acaso. Mas a sombra, aquela do 7 a 1, que paira e sussurra aquela máxima de que o “Brasil está ultrapassado”, sempre se faz presente.

 

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