Além da final: shows e experiências com fãs garantem lucro bilionário à NFL

  • Por Jovem Pan
  • 03/02/2017 11h07

Entrevista de Tom Brady antes do Super Bowl: semana pré-final atrai grande público e gera imensos lucros

EFE Entrevista de Tom Brady antes do Super Bowl: semana pré-final atrai grande público e gera imensos lucros

Mais do que audiência, o Super Bowl movimenta cifras impressionantes mesmo quando a bola não está em jogo. Até o intervalo da partida é atrativo, com foco nas propagandas e no show musical oferecido.

Tão expressivo quanto cativar uma audiência significativa nos Estados Unidos e em todo o planeta, o Super Bowl se consolida como referência em cifras movimentadas e poder de organização. E os que são mobilizados para viabilizar tudo isso parecem doutrinados desde sempre a aprimorar o que já parece ser insuperável.

A vocação de gerar ganhos diretos e indiretos no domingo e ao longo da semana antes da partida aparece no bilhão de dólares movimentados nas casas de apostas. E as pedidas superam a pergunta de quem vai ser o campeão. É possível lucrar com a escolha do MVP (jogador mais valioso da final) e até o placar do jogo.

O cardápio de opções de lucros também passa pela gastronomia e as pedidas para acompanhar o espetáculo. Medições do último Super Bowl contabilizaram 4 milhões de pizzas devoradas nas mais de 3h de evento, além de um consumo de cerveja suficiente para encher muitas piscinas olímpicas. O ticket médio de gasto por pessoa para se alimentar durante o jogo foi de quase 85 dólares e os pedidos por comida via telefone foram capazes de superar em sete vezes e meia o número de moradores da cidade do Rio de Janeiro.

Dois conceitos da biologia explicitam o poder de potencializar valores que é característico do Super Bowl. O pool de organizadores posicionados sinergicamente para cativar e entreter quem está no estádio ou na frente da TV. O alicerce se consolida com a perfeita aplicação do conceito de simbiose, que trata da relação entre os seres.

Em uma relação harmônica e benéfica aos envolvidos, o grande jogo recebe convidados de renome do show business para o intervalo. As celebridades, por sua vez, colhem os frutos da exposição a um público tão heterogêneo.

Bono Vox e o U2 se apresentaram no Super Bowl de 2002, pós-atentados de 11 de setembro. Os irlandeses se enrolaram em uma bandeira americana e, em poucas horas, o novo álbum da banda saltou quase 100 posições no ranking dos mais vendidos dos Estados Unidos. O Black Eyed Peas, que em 2011 também se apresentou no intervalo do jogo, esfregou as mãos com a explosão de vendas da música “Where is The Love?”. Foi uma alta de 332% pouco depois da apresentação.

Recentemente, um segmento das agências de marketing detectou outra big play (termo que representa um grande ganho de jardas no futebol americano) referente ao Super Bowl: em suas 51 edições, as empresas investiram quase 5 bilhões de dólares em anúncios no intervalo da grande final da NFL.

Em um período de comparações e busca por eficiência, o valor seria mais que suficiente para uma série de ações que explorassem a potencialidade da internet e das redes sociais. O presidente da Associação Brasileira de Psicologia Esportiva, Rodrigo Acioli, chama a atenção para o público heterogêneo que consome o futebol americano, o quanto ele pode proporcionar e as razões que justificam investir em torno de 5 milhões de dólares em 30 segundos reservados pela televisão, que representa 166 mil dólares por segundo:

“Você já tem uma certeza de que tem milhares de pessoas assistindo, você veicula sua marca só se ter certeza de que milhares estarão visualizando. Se é uma marca desconhecida, você pode ter certeza que, em poucos minutos, milhares de pessoas estarão na internet tentando identificar que marca é aquela. Para quem é investidor, isso é um prato cheio, uma oportunidade única de fazer sua marca crescer”, afirma Rodrigo.

A combinação de profissionalismo e estrutura também aparece logo depois que o primeiro tempo da partida termina. Em até dez minutos o staff da NFL transforma o cenário do jogo no palco para o convidado soltar a voz. A eficiência é justificada, parcialmente, pela estrutura das arenas, mas recebe elogios do professor de marketing esportivo da ESPM, Eduardo Muniz. Ele considera a ação um grande exemplo a ser adaptado aos eventos esportivos em todo o mundo e relativiza possíveis críticas que poderiam ser feitas aos dirigentes do nosso futebol:

“São arenas preparadas para que isso possa acontecer, os próprios gramados são diferentes do futebol e eles têm uma resistência que permite algumas coisas que o gramado do futebol nem sempre permite. Então, não é um olhar tão simples que vai fazer a gente resolver essas questões tão rápido assim. Quando a gente compara o nosso futebol com o futebol americano, nem tudo que se faz em dez minutos no gramado da NFL é possível de fazer no futebol, acho que é importante fazer essa ponderação para não achar que é simplesmente falta de boa vontade por parte dos clubes, das federações e confederação. É um problema um pouco mais complexo neste sentido”, explica Eduardo. Veja no vídeo abaixo a montagem do palco para o show de Katy Perry, no Super Bowl XLIX:

Se você acha que o dinheiro é movimentado direta e indiretamente somente no primeiro domingo de fevereiro, vale chamar a atenção para a semana que antecede o jogo. A sede de cada Super Bowl é definida alguns anos antes e isso permite que a organização do evento prepare uma série de atrações para que os fãs, mesmo sem ingressos, vivenciem a decisão e o clima do futebol americano.

A NFL Experience oferece produtos das 32 franquias, o acesso à história do esporte e atrações para simular movimentos do jogo em uma série de quarteirões no entorno do estádio. A crença dos especialistas é de uma geração de recursos em torno de 12,6 bilhões de dólares neste período. Só para compararmos, o Facebook movimenta 10 Bilhões de dólares, durante todo o ano.

O professor de marketing esportivo da ESPM, Eduardo Muniz dimensiona esta realidade e sugere como adaptá-la a outros contextos e outras situações do nosso esporte.

“O tamanho do público que tem ido a Houston ao longo desta semana, até o dia do jogo em si, é muito maior que o público que estará na arena no dia. Sem dúvida nenhuma, a maneira como o evento todo é construído, a semana toda da Experience multiplica a rentabilidade do negócio, que é uma referência que a gente pode estudar. O esporte brasileiro pode fazer isso e tentar aprender com algumas iniciativas nesta ordem”, disse Eduardo.

Se toda esta combinação não é, no mínimo, suficiente para se render a algum atrativo do Super Bowl, Paula Ivoglo apresenta o argumento final. A fundadora e presidente do site “NFL de Bolsa” enaltece a complexidade do futebol americano, o caráter democrático e estratégico do jogo, mas lembra de que os personagens envolvidos também são bastante interessantes.

“O futebol americano, para mim, é o esporte mais complexo que existe, e o mais democrático. Qualquer um pode jogar, independente do tamanho, e o mais interessante é observar como isso funciona dentro de campo. Eu sei que é um pouco complicado no começo, de entender todas as regras, mas pegando a base você já entende a dinâmica do jogo e eu garanto que é um dos esportes mais emocionantes e interessantes que existem, que você só vai saber como termina lá no final do jogo. E para a mulherada, se só isso não for um atrativo, tem os jogadores que são um caso a parte, como sempre comento no meu site”, brinca Paula.

*Reportagem especial de Guilherme Campos e com trabalhos técnicos de Reginaldo Lopes

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