Líder de movimento contra CBDA pede mudanças e cobra atitude de autoridades

  • Por Jovem Pan
  • 08/04/2017 13h04

Ex-nadador Eduardo Fischer é um dos líderes de movimento que pede mudanças na CBDA

Reprodução / Facebook Ex-nadador Eduardo Fischer é um dos líderes de movimento que pede mudanças na CBDA

A deflagração da Operação Águas Limpas, que prendeu o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) Coaracy Nunes e outros três dirigentes, gerou indignação entre atletas e ex-atletas da natação e outras modalidades aquáticas.

Uma carta assinada por nomes como os medalhistas olímpicos César Cielo, Thiago Pereira, Poliana Okimoto e Fernando Scherer, e também Joanna Maranhão – que em entrevista à Jovem Pan revelou cobranças desde 2006 – foi divulgada nesta sexta-feira (07), pedindo manutenção dos calendários estipulados e a realização das competições já marcadas, uma eleição transparente da comissão de atletas e por uma mudança na presidência da CDBA.

O manifesto foi endereçado ao presidente Michel Temer, ao Ministro do Esporte Leonardo Picciani, ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Arthur Nuzman e ao Secretário Nacional dos Esportes de Alto Rendimento Luiz Lima.

Em entrevista exclusiva à Jovem Pan Online o ex-nadador Eduardo Fischer, um dos líderes do movimento, explicou que o objetivo é tentar fazer com que as decisões e critérios sejam transparentes e mais voltados para os interesses dos atletas.

“Toda a comunidade quer saber que desfecho vai ter esse processo. Se constatada culpa ou dolo, quem será punido ou quem vai assumir a presidência? A verdade é que os atletas estão preocupados e há um temor de que as coisas não se concretizem”, cobrou o medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de 2003, que hoje atua como advogado tributarista.

Aposentado das piscinas desde 2011, Fischer lembrou que o estatuto prevê um atleta participando das decisões da CBDA, mas revelou que desde a sua época a relação política entre os atletas e a presidência da confederação já era complicada. “Não havia comunicação na Confederação. E a decisão final era sempre do presidente, sem discussão”, reforçou.

A blindagem e as barreiras impostas sempre desagradaram os esportistas e os que tentaram “bater de frente” e contestar as decisões sofreram retaliações, destacou o ex-nadador: “a Joanna [Maranhão] é uma das líderes do movimento e sempre externou as opiniões e preocupações frente algumas decisões não muito coerentes da CBDA. Ela foi retaliada e sofreu, assim como eu também fui por não concordar com as decisões”.

Segundo Fischer, esta postura gerou medo em alguns, mas a expectativa é que a união dos grandes nomes do esporte ajude a colocar pressão para instituições como o COB e o Ministério do Esporte se manifestem sobre as denúncias da Operação Águas Claras.

“Já temos um convite formal para conversarmos com o ministro, e os debates no grupo caminham para isso. Ainda não sabemos se primeiro vamos até Brasília ou se faremos reuniões entre nós. Mas já há essa conversa para que o encontro possa acontecer”, contou.

Leia a íntegra da carta dos atletas ao presidente Temer:

ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA E DEMAIS DOUTAS AUTORIDADES:

Diz-se do esporte como ferramenta de inclusão. Um verdadeiro instrumento para formação de cidadãos de bem, e que obrigatoriamente deve ser encarado como uma questão de ordem pública, a ponto de corrigir ou atenuar problemas sociais como: violência, o desrespeito, a marginalização, a evasão escolar, a indisciplina, inclusive ensinando os indivíduos a obedecerem às regras e respeitar a vida em sociedade.

Pois bem. Não obstante, o presente momento não poderia ser mais delicado e conturbado no âmbito dos esportes Olímpicos do nosso amado país, e exatamente por essa razão, revelamos que inevitavelmente somos tomados por um sentimento forçoso de extrema consternação e angústia a respeito do rumo e futuro dos Desportes Aquáticos Brasileiros.

Conforme verifica-se de maneira pública e notória, os Desportes Aquáticos do Brasil, organizados e administrados pela CBDA – Confederação de Desportos Aquáticos, encontram-se em eminente risco de prejuízo aos seus filiados por questões de suposta improbidade administrativa e julgamentos nas instâncias judiciais. Observando o atual cenário em que encontram-se envolvidos a CBDA e seus dirigentes, nosso sentimento pode resumir-se em uma única palavra/expressão: “SOCORRO”!

No português, tal palavra mostra-se de conhecimento pleno, sendo utilizada quase que exclusivamente em momentos de legítimo desespero, desamparo ou imediato perigo. Ou seja, um substantivo masculino que significa auxílio, benefício, ajuda ou assistência a alguém que se acha em situação de ameaça, desamparo.

Aliás, esse é o sentimento da Comunidade dos Atletas filiados à CBDA: Um vislumbre de imediato perigo e risco. Por essa razão, essa mesma Comunidade urge por uma intervenção e um auxílio assistencial, apelando por uma intervenção de Vossas Excelências.

Não sabemos como e quando esse triste imbróglio será concluído, e tampouco temos qualquer garantia que nossos direitos serão respeitados e/ou mantidos. Há temeridade na não manutenção do calendário previamente aprovado, e a redução das verbas em razão das discussões nos âmbitos cíveis e criminais, nos torna reféns de um futuro sem qualquer certeza ou garantia de efetivação.

Por isso, reiteramos o apelo e rogamos por Vossas intervenções. Não pedimos muito, apenas o mínimo e o justo para podermos realizar nossa amada profissão de maneira tranquila e serena (sim, consideramos o esporte nossa vida).

Afinal, nós – abaixo assinados – somos a razão de ser da CBDA. Somos nós que caímos na água todos os dias, faça chuva ou faça sol, para praticar Pólo Aquático, Natação, Nado Sincronizado, Saltos Ornamentais ou Maratona Aquática. Nosso perfume é o cloro. Nossa pele chega a ter escamas e nossos pulmões guelras.

Não há dúvidas que somos indistintamente campeões, mas não por carregar medalhas em nosso peito, mas por sermos todos apaixonados pelo esporte e tudo o que ele representa.

Estamos acompanhando, muito chateados e atentos, o fato de nossa Confederação encontrar-se todos os dia no noticiário, mas não para trazer informações esportivas, e sim para anunciar mais um capítulo de uma disputa judicial na qual não somos parte ou sequer culpados.

Queremos que as regras estatutárias sejam cumpridas sem manobras, almejamos que nossos dirigentes pensem no esporte exclusivamente, cobiçamos que os atletas e técnicos sejam respeitados, e que o dinheiro público seja corretamente empregado – visando o desenvolvimento dos Desportes Aquáticos.

Por todo o exposto, demandamos por ajuda, para que nossos anseios e preocupações sejam sanados, e que os Doutos Senhores possam garantir à nós o mínimo para a manutenção dos Esportes Aquáticos.

Requeremos por fim, pela garantia da manutenção dos calendários estipulados, com as efetivas realizações das competições marcadas; pela correta e transparente eleição da comissão de atletas e por uma mudança de nova presidência da CBDA, além de uma intervenção em conjunto dos Ilustres e Eminentes Senhores, para que não nos falte a verba básica no intuito de CONTINUARMOS INSPIRANDO GERAÇÕES. 

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