Maranhão diz que avisou de desvios em 2006 e admite: não sabia que era tanto

  • Por Diogo Patroni/Jovem Pan
  • 06/04/2017 17h46

Joanna Maranhão disputou quatro Olimpíadas e é uma das maiores nadadoras do Brasil

Divulgação Joanna Maranhão disputou quatro Olimpíadas e é uma das maiores nadadoras do Brasil

Após a deflagração da Operação Águas Claras pela Polícia Federal, a nadadora Joanna Maranhão, que sempre mostrou uma postura ativa contra a CBDA, revela que o alerta já havia sido ligado há 11 anos.

Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, a atleta diz que se sente aliviada e expõe o racha que há dentro da entidade entre atletas, técnicos e dirigentes. “Desde 2006 eu venho batendo de frente e gritando coisas que eu não deveria estar gritando sozinha. Tinha coisas erradas, mas não imaginávamos que seria tanto. Com certeza, vão aparecer muito mais”, diz.

Segundo o Ministério Público, os desvios na entidade podem chegar até a R$ 40 milhões. Em nota, a PF informou que seus agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e três investigados foram presos, entre eles o presidente da entidade Coaracy Nunes.

A explosão do escândalo não é novidade dentro da comunidade dos atletas, uma vez que as irregularidades começaram a surgir em viagens para competições e na distribuição de patrocínios dos Correios. O problema, segundo Joanna, é que alguns preferiram adotar postura passiva diante das irregularidades. “Todos sempre tiveram conhecimento e ninguém nunca fez absolutamente nada, nem a minha geração tampouco a geração anterior”, afirma.

Pirâmide e retaliação

As evidências de que algo estava errado ficaram claras também no relacionamento com os atletas. Segundo a nadadora, que é recordista sul-americana das três provas do medley: 100m, 200m e 400m, a CBDA escolhia quem receberia os subsídios e retirava passagens e patrocínios daqueles “menos badalados” que não tinham bons resultados.

“O modelo sempre foi de pirâmide, na qual eles davam mais dinheiro para alguns atletas. E esses atletas receberam tudo e não podem reclamar. Ele (Coaracy) telefonava e dizia que os patrocínios dos Correios eram sigilosos e pedia para que ninguém comentasse quanto ganharia”, diz. “Mas por que não pode comentar? O certo seria ter um critério de repasse e que todos soubessem quanto todos ganhariam”, completa.

A nadadora também critica a CBDA quanto a falta de investimentos no esporte de base. “Nunca foi uma gestão voltada para melhorias na natação e dos desportos aquáticos. Um gestor que se perpetuou por quase 30 anos e que é preso por desvios de verbas públicas, nunca teve um olhar para a base e para o crescimento do esporte”, destaca.

Por “falar demais” Joanna revela que foi alvo de retaliações por parte da CBDA, inclusive durante o período pré-jogos Rio 2016. “No último ciclo olímpico eu recebi só dois meses de salário. Que eu saiba fui a única atleta olímpica que recebeu só dois meses. Isso não dá nem para chamar de patrocínio, porque não dá para fazer absolutamente nada”, finaliza.

Pela manhã, em seu Instagram, Joanna Maranhão “comemorou” a prisão do presidente afastado da entidade Coaracy Nunes, além de outros dois dirigentes: Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga (diretor financeiro) e Ricardo Cabral (coordenador técnico do polo aquático). Ricardo de Moura (secretário geral de Natação e Executivo) também é procurado pela PF, mas está foragido.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.