Dos ‘pés virados’ em acidente ao almoço com ‘chefão’: Pietro revela bastidores de ida à F1

  • Por Jovem Pan
  • 14/11/2018 18h12 - Atualizado em 14/11/2018 18h27
Divulgação/Haas Pietro Fittipaldi Pietro Fittipaldi é o novo piloto de testes e desenvolvimento da equipe Haas na Fórmula 1

Vinte e quatro anos depois, a família Fittipaldi está de volta à principal categoria do automobilismo mundial. Quase três décadas após Christian correr pela última vez em um Fórmula 1, Pietro, neto do bicampeão Emerson, foi confirmado como piloto de testes e desenvolvimento da Haas para a temporada 2019. Mas não sem emoção. Campeão da World Series em 2017 e considerado um dos pilotos mais talentos de sua geração, o jovem de 22 anos teve de superar um grave acidente para, enfim, assinar o contrato mais importante de sua vida.

Em entrevista exclusiva a Alex Ruffo para o Máquinas da Pan, Pietro contou bastidores das conversas que o levaram à Fórmula 1. O neto de Emerson Fittipaldi revelou que os contatos com a Haas começaram ainda em 2016, ganharam força um ano mais tarde, mas ficaram em xeque após o grave acidente sofrido pelo piloto em maio, durante prova do Mundial de Endurance na Bélgica – “eu olhei para baixo, ainda dentro do carro, e vi os meus pés virados, olhando para mim. Então, senti muita dor”, relatou Pietro, que teve as duas pernas fraturadas após se chocar, a mais de 350 KM/h, com a proteção de pneus na saída da Eau Rouge, uma das curvas mais rápidas do mundo.

Foi só devido à impressionante recuperação do jovem que a família Fittipaldi finalmente carimbou o seu retorno à Formula 1. O último a correr na principal categoria do automobilismo mundial fora Christian, sobrinho de Emerson, em 1994.

Emerson Fittipaldi, Pietro Fittipaldi

“Na verdade, tudo começou em 2016”, contou Pietro, sobre as negociações que o levaram à F1. “A minha família mora na Carolina do Norte, que é onde fica a base da Haas. Eu fui conhecer o Gunther Steiner, que é o chefão da equipe, e, naquela ocasião, o meu tio Max disse a ele que eu era um bom piloto, que, se tivesse uma boa oportunidade, ele poderia contar comigo. E o Steiner respondeu: ‘quando você ganhar o campeonato da World Series, vem falar comigo'”.

O papo aconteceu no fim do ano. E, menos de 12 meses depois, Pietro conseguiu faturar o título “pedido” por Steiner. “Eu ganhei o campeonato em 2017. E, aí, é claro voltei a falar com ele. Programamos um teste na Hungria em 2018. Só que, infelizmente, eu sofri o acidente. Houve o temor de que eu perdesse a chance, mas a gente manteve contato. Ele viu que eu tive um bom desempenho na reta final da Indy e me mandou uma mensagem. Então, a gente foi almoçar, e ele me ofereceu essa oportunidade de ser o terceiro piloto da Haas”, explicou.

Pietro já experimentará a sensação de guiar um Fórmula 1 no fim deste ano, ou seja, menos de oito meses depois de fraturar as duas pernas em um grave acidente. “Na semana seguinte ao GP de Abu Dhabi, tem dois dias de treino da Pirelli, já para aprovar os pneus de 2019. Vou estar lá testando com a equipe. Vou fazer treinos na pré-temporada do ano que vem, vários treinos durante o ano. E também farei muito trabalho fora das pistas com a equipe, com simuladores. É uma grande oportunidade, mas vou ter muito trabalho, também”, brincou.

A ansiedade, é claro, já toma conta do piloto. “Eu fico muito ansioso, mas vou usar essa ansiedade para trabalhar ainda mais e ficar seguro de que estarei preparado quando sentar num carro da Fórmula 1. Vou usar muito o simulador para me preparar e estudar as pistas e os carros.”

“Vi os meus dois pés olhando para mim”

O ano de 2018 ficará marcado para sempre na vida de Pietro Fittipaldi. E não apenas porque foi quando o piloto brasileiro assinou para ser piloto de testes e desenvolvimento da Haas. Em 4 de maio, uma sexta-feira, o carro do neto de Emerson sofreu uma pane elétrica em uma das curvas mais rápidas do mundo e se colidiu com a proteção de pneus durante treino para as 6h de Spa-Francorchamps, uma das etapas do Mundial de Endurance. O jovem sofreu duas fraturas expostas e quase viu ruir o sonho de chegar à Fórmula 1.

“Foi muito difícil. Eu estava classificando e, na curva Eau Rouge, tive uma falha elétrica. O volante travou, eu não consegui virar o carro e fui direto na parede. O ângulo que eu bati não foi dos melhores. Quando eu bati, a porta do carro abriu, e eu não senti muita coisa. Tirei o cinto, mas, quando fui tentar sair, senti muita dor nos membros inferiores. Quando olhei pra baixo, vi que os meus dois pés estavam virados, olhando para mim. Minhas pernas estavam completamente quebradas. Foram duas fraturas expostas. Então, senti muita dor”, explicou.

Pietro passou por duas cirurgias e perdeu boa parte da temporada da Fórmula Indy. A recuperação, no entanto, foi impressionante. Dois meses depois de quebrar as duas pernas, o brasileiro estava de volta para disputar a reta final da Indy. Mesmo com uma perna ainda fraturada, conseguiu andar entre os dez primeiros colocados e convenceu o chefe da Haas de que merecia ser o terceiro piloto da equipe para 2019.

Além dele, Sérgio Sette Câmara também representará o Brasil na Fórmula 1 na próxima temporada – Câmara será o piloto de testes da McLaren.

 

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