Racismo x patriotismo? Entenda a briga entre Trump e atletas da NFL

  • Por Jovem Pan
  • 26/09/2017 12h12 - Atualizado em 26/09/2017 12h18
John Cetrino / EFE Jogadores do New England Patriots ajoelhados durante a execução do hino nacional Os jogadores do New England Patriots, atuais campeões do Super Bowl, também aderiram aos protestos contra Trump

Os protestos dos jogadores contra Donald Trump tiraram um pouco da atenção dos touchdowns no último fim de semana da NFL, a principal liga de futebol americano nos Estados Unidos. Contrariando o desejo do presidente norte-americano, muitos atletas permaneceram ajoelhados ou com os braços dados durante a execução do hino norte-americano, ato considerado por Trump como “antipatriótico”.

As manifestações desta rodada têm sua origem ainda na temporada passada, mas só ganharam adesão em peso neste fim de semana. Em 2016, o ex-quarterback do San Francisco 49ers Colin Kaepernick permaneceu sentado durante o hino nacional americano em protesto à onda de racismo e mortes de negros por policiais nos EUA.

Reprodução / Twitter

Mesmo sendo considerado um dos melhores quarterbacks da liga, Kaepernick acabou afastado da franquia e não foi contratado por nenhum outro time nesta temporada. Para Trump, a demissão de jogadores que “não respeitam o hino” deveria ser a resposta dada pelos clubes contra os protestos. “Se um jogador quer o privilégio de fazer milhões de dólares na NFL, ou em outras ligas, ele não deve desrespeitar a grande bandeira americana e deve ficar de pé durante o hino. Se não, você estará demitido. Encontre outra coisa para fazer”, afirmou Trump.

A declaração foi feita no Twitter após o presidente “desconvidar” Stephen Curry, principal estrela do Golden State Warriors e atual campeão da NBA, da tradicional visita da equipe à Casa Branca. O atleta já havia declarado que não pretendia ir ao encontro com Trump.

“Ir à Casa Branca é considerada uma grande honra para os campeões. Se Stephen Curry hesita, portanto eu retiro o convite”, escreveu o presidente americano.

Declarações de repúdio às palavras do presidente vieram de outros astros do basquete e até do comissário da NFL. Roger Goodell afirmou que Trump apresentava uma “falta de respeito aos jogadores e uma incapacidade de entender a força em prol do bem que os times e atletas dão às suas comunidades”. Em resposta, Trump sugeriu um boicote aos jogos da NFL, que, segundo ele, vivem em “constante queda de audiência”.

A resposta dos jogadores às declarações de Trump no sábado (23) começaram a ser dadas no domingo à tarde, logo nos primeiros jogos da rodada. Na partida entre Tennessee Titans e Seattle Seahawks, nenhum jogador foi ao gramado para a execução do hino, entoado pela cantora Meghan Linsey, que se ajoelhou após cantar.

Já no jogo entre Steelers e Bears, apenas um jogador, o left tackle de Pittsburgh Alejandro Villanueva, deixou o vestiário durante o hino. A situação, de acordo com ele, foi um mal-entendido e não um desacordo com o restante da equipe.

Ex-combatente do exército, Villanueva disse que “queria ver a bandeira norte-americana”, e não ficar diante dos holofotes. Ao perceber que já estava sendo filmado, o atleta achou que ficaria pior se recuasse. Mesmo assim, a camisa do jogador foi uma das mais vendidas nos sites especializados nesta segunda-feira (25).

Até donos dos times, a quem Trump pediu a demissão de jogadores, aderiram ao protesto. Foi o caso do paquistanês Shad Khan, proprietário do Jacksonville Jaguars, e de Jerry Jones. Mesmo sendo um dos principais doadores da campanha de Trump à presidência, Jones ficou ajoelhado junto com os jogadores do Dallas Cowboys, time mais rico e de maior torcida da NFL. O confronto entre Dallas e Arizona, que fechou a rodada na segunda-feira, foi o que mais teve vaias à manifestação dos atletas.

Durante a rodada, Trump deu mais declarações de repúdio ao comportamento dos jogadores durante o hino nacional. O presidente chegou a aceitar os protestos em que os atletas permanecem de braços dados, mas tratou como “inaceitável” aqueles que se ajoelham, voltando a usar a palavra “desrespeito” algumas vezes.

Trump também elogiou aqueles que vaiaram os protestos na arquibancada da Nascar, que no fim de semana ameaçou demitir pilotos que se manifestassem durante o hino, além da equipe de hóquei no gelo Pittsburgh Penguins, atuais campeões da NHL – e que farão a visita presidencial. Muitos críticos ao presidente lembraram que tanto a Nascar quanto a NHL quase não possuem atletas negros em comparação ao futebol americano e ao basquete.

 

 

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